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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Jamaica 40 graus*


Nas duas últimas semanas, a Cidade Maravilhosa foi o palco dos Jogos Pan-americanos. Não tive muitas oportunidades de fazer parte desta festa devido à voraz fome de ingressos por parte do público (e principalmente dos cambistas), mas pude ir a dois jogos. Um foi a fácil vitória da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino sobre o fraco time mexicano. Sobre esse jogo, nada de especial há de se comentar, apenas a atuação segura do time “reserva” brasileiro (entre aspas, porque time reserva naquele nível não é para qualquer um!) e a festa da torcida que não compareceu em massa, pois esse jogo realmente não tinha atrativos extras. Por isso consegui ingressos. Aliás, que os conseguiu foi o meu nobre colega jornalheiro Paulo Cezar.

A segunda partida que acompanhei, essa sim merece vários comentários. Final do torneio de futebol masculino. Palco: Estádio Mário Filho, o Maracanã. Valendo o ouro! Jamaica e Equador se enfrentavam em busca do sonho dourado e... Opa, Equador? E Jamaica???

Pois é, Jamaica e Equador (que eliminou o Brasil nas quartas) faziam a final, precedidos pela disputa do ouro entre México (ok, México é bom, sempre ganha do Brasil, mas não está na final??) e Bolívia (sem comentários). Os jogos tinham tudo para ser um saco. E foram. Mas o pensamento (meu e da grande maioria) foi estampado em um dos cartazes da galera: “Comprei o ingresso e me dei mal, o Brasil não está na final”. Como estava difícil assistir aos jogos pela falta de ingresso, lá fui eu. Afinal, é Maraca, não é mesmo?

Foi um dos dias mais incomuns da história do Maior do Mundo (que não é mais o maior, mas que se dane). Dia de final e o estádio estava vazio (nem todos pensaram como eu). Isso e mais o fato de a segurança no Pan ter sido exemplar fizeram com que as máquinas digitais estivessem nas mãos de quase todos, fotografando o estádio mais importante do mundo, e também a espetacular pira Pan-americana. O orkut de todos deve ter sido renovado nesse dia.

Mas e os jogos? Ah, sim, os jogos! Bom, México e Bolívia eu não vi, entrei atrasado, fiquei tirando fotos, mas acho que o México venceu por 1 a 0, apesar de a maioria estar torcendo pelos bolivianos. Aliás, a torcida foi um show à parte. Foi muito divertido ver torcedores dos quatro grandes brincando todos juntos, cada um gritando pelo seu time, mas só na brincadeira mesmo, sem violência, na paz. Aliás, outra coisa estranha: a maior parte da torcida estava nas cadeiras (eu inclusive) e não na arquibancada, e foi nelas que a festa foi mais animada, principalmente devido à proximidade do animador que ficava (desculpem) enchendo o saco nos intervalos.

Mas e a grande decisão?? Putz, quase me esqueci dela. 99,9% da torcida era pelos Reagge Boyz. E eles abrem o placar logo no início do jogo, levando a “massa” ao delírio. E depois, mais nada de útil até os 30 do segundo tempo. Nesse intervalo que durou o jogo quase todo, a torcida deu um show de criatividade, adaptando os tradicionais gritos de guerra dos clubes cariocas à Seleção da Jamaica. Extremamente engraçado. “Domingo eu vou ao Maracanã” virou Sexta-feira e o time do coração virou a Jamaica. Tentem imaginar. Ja-mai-ca! Ja-mai-ca! Quando o Bob canta, a galera se levanta... E só dá Jamaica, ... E por aí vai, todos os “hinos” foram “remixados”. Muito bom. Só isso já teria valido pagar cinco pratas pela meia-entrada nas cadeiras para ver esse clássico às avessas. Sem contar as “olas”. Mas não parou por aí.

Completamente esquecido, o jogo se desenrolava num marasmo de dar dó, quando um jogador, que não me lembro nem de qual dos dois times era, chutou a bola para a lateral e ela veio parar nas cadeiras. O garoto que a pegou, ao invés de jogar de volta para os gandulas no campo, resolveu iniciar a brincadeira que fez mesmo valer a pena ter ido ao Maraca naquela tarde cinzenta de sexta-feira. Jogou a bola para trás, pro meio da torcida, e um foi jogando para o outro, e este para o outro, e assim foi até chegar do outro lado da torcida que basicamente só ocupava metade do anel das cadeiras do Maracanã. E quando chegou lá, do lado de cá se iniciou o grito de “Volta! Volta!”, que se costuma fazer com a ola. A brincadeira foi duradoura, o tempo até passou mais depressa, mas enfim chegou um estraga-prazeres politicamente correto e devolveu a bola ao campo de jogo.

Enquanto isso, o jogo estava rolando, e nada aconteceu nesse período. Até que mais uma bola foi isolada, desta vez nas arquibancadas brancas (do outro lado de onde eu estava) e bem perto da pira! A brincadeira de jogar a bola foi repetida, enquanto do lado de cá nós gritávamos: “Joga na pira!”. Sinceramente, não temos nada na cabeça... Até que alguém naquele lado parecia compartilhar do nosso vazio cerebral e aparentemente tentou jogar a bola nas chamas pan-americanas. Sem sucesso.

O jogo se encaminhava para o final, quando lá pelos 30 um equatoriano empatou a partida. Sob a perspectiva de ver uma decisão por pênaltis, mas sem jamais deixar de apoiar os jamaicanos, a torcida voltou a ter interesse no jogo. Torceu-se como se torceria numa final entre América (segundo time de todo carioca) e qualquer outro time que não fosse um dos quatro grandes do Rio.

Mas, assim como na partida anterior, o time mais favorecido pela torcida não saiu vencedor. Penalidade Máxima para o Equador literalmente aos 44 do segundo tempo. Gol, fim de jogo, Equador campeão.

Mas valeu, valeu muito, pela festa, pelas fotos, pela paz e segurança, pela diversão. Nos outros jogos que fui ao Maracanã, fui para torcer pelo Mengão, e sempre era algo meio tenso. A diversão só vinha no final, se o Flamengo ganhasse.

Ah, mais uma coisa que estava me esquecendo. No fim dos dois jogos, a torcida corria em direção aos bancos dos dois times para pedir as camisas dos jogadores (inclusive este que vos escreve). O engraçado é que os “craques” nunca entendiam o que queríamos, e quando conseguiam compreender, jogavam tudo: chuteiras, caneleiras, até as garrafas de Gatorade (cheias!!). Mas camisa mesmo, nada!

Espero ter saciado a vossa vontade de leitura, já que havia muito eu não contribuía para esse brilhante site. Abraços a todos.

* para quem não captou: tentei fazer um trocadilho entre o engraçadíssimo filme “Jamaica abaixo de zero” e a expressão “Rio 40 graus”.

rafs