sábado, 10 de maio de 2008

Maracanazo

Dezesseis de julho de mil novecentos e cinqüenta. Final da Copa do Mundo, Maracanã, Brasil x Uruguai. O ambiente era todo favorável ao primeiro título brasileiro, em casa, no estádio mais importante do mundo, recém construído. O resultado foi completamente inesperado, vitória dos uruguaios por 2 a 1, e um Maracanã lotado, com cerca de duzentas mil pessoas (!!!), se calou. Esse jogo ficou conhecido como Maracanazo, e representa uma das maiores decepções no futebol brasileiro, e até mesmo mundial.

Sete de maio de dois mil e oito. Eu vivi meu próprio Maracanazo. Meu não, do meu time, Flamengo. Três dias após o conquistar o bicampeonato carioca sobre o Botafogo, o time rubro-negro jogava para chegar às quartas-de-final da Libertadores contra o América do México, após ter vencido o jogo de ida em pleno estádio Azteca por 4 a 2. Para incrementar a vantagem do Flamengo, o América vivia uma crise profunda, lanterna do campeonato mexicano; por outro lado, o time carioca se despedia de seu treinador, Joel Santana, responsável por grandes resultados recentemente. Tinha tudo para ser uma grande partida para o Flamengo, com vitória garantida e vaga assegurada para a próxima fase.

Nenhum torcedor rubro-negro, nenhum mesmo, por mais pessimista que fosse, poderia imaginar que o Flamengo não se classificaria. NENHUM!!! Conversei com vários amigos também flamenguistas ao longo do dia, perguntando se também iriam ao jogo, e de todos obtive a mesma resposta: "Pô cara, esse jogo tá ganho... vou esperar pra ir contra o Santos". Todos davam como certa a classificação do time. Ninguém, nem mesmo tricolores e alvinegros esperavam o que aconteceu. Acredito que muitos nem viram o jogo.

Mas... aconteceu. É a reafirmação da velha máxima: "O futebol é uma caixinha de surpresas". Se alguém apostou dois reaizinhos na classificação do América no jogo de ontem, hoje está muito rico.

Maracanã bastante cheio, quase lotado para os padrões de hoje em dia. Festa do título, festa do treinador, festa da classificação. A torcida empolgada como poucas vezes havia visto.

Começa o jogo, e como era esperado, o Flamengo parte para cima dos mexicanos. Inúmeras chances foram desperdiçadas, mas ao que tudo indicava, teríamos uma goleada. E de repente, gol do América.

Tudo bem, vacilamos na defesa, mas 1 a 0 ainda é nosso. Novamente o Fla pressiona, perde várias chances e num erro bobo, mais um gol mexicano. Nesse momento, todos começaram a mostrar certa apreensão. Mas a confiança ainda era grande, pois continuávamos nos classificando, e no intervalo o Papai Joel ia dar uma bronca nos jogadores, provavelmente ia mexer no time, e no segundo tempo poderíamos até virar o jogo.

A etapa final começa como a anterior. Flamengo pressiona, e perde gols incríveis. O time mexicano joga só na defesa, mostra-se incapaz de fazer qualquer coisa. E a torcida cantando cada vez mais forte. Um detalhe que eu observei, durante o jogo todo, a torcida cantou apenas para incentivar o time. Nenhum dos gritos foi para tirar sarro com os outros clubes cariocas... acho que nunca tinha presenciado isso também.

E aí veio o golpe. Falta boba na frente da área, a bola desvia na barreira, mata o goleiro e... silêncio. Quando um time é rebaixado, o sofrimento é diluído pela péssima campanha ao longo do campeonato. Quando um time perde uma final, ainda mais num clássico, a surpresa não é tão grande, pois as chances são de 50% para cada lado. Mas em um jogo desses, onde, volto a frisar, NINGUÉM esperava a derrota do Flamengo, o golpe foi incrível. Metade da torcida (eu inclusive) não tinha forças nem para xingar os jogadores. Pouquíssimos continuavam incentivando, acreditando que o golzinho salvador viria. Muitos deixavam o estádio. E todos tinham no rosto a mesma expressão de incredulidade. Mas o sentimento era mais do que de incredulidade, era algo que não consigo descrever.

Se fosse botafoguense, emo, ou um pouco menos comedido em minhas reações, teria ido às lágrimas naquele momento. Mas apenas fiquei ali, sentado, com as mão na cabeça, sem acreditar que estávamos desclassificados. Quarenta e cinco minutos, meu irmão falou para irmos logo embora, não valia a pena continuar sofrendo ali. Desde o gol, não falei mais nada, e o silêncio se manteve até chegar em casa. No caminho, com milhões de coisas passando pela cabeça, lembrei do fato histórico que abriu minha narrativa, e concluí que o que os brasileiros sentiram naquela época deve ter sido mais ou menos a mesma coisa.

Não quero falar sobre o que o Flamengo devia ou não devia ter feito, nem filosofar sobre os motivos da derrota. Quero apenas dar o meu relato sobre um grande revés, inimaginável, talvez até mesmo pelos jogadores do América.

2 comentários:

  1. A derrota do Flamengo foi realmente incrível. No dia seguinte, acordei atordoado, sem saber se tinha acontecido mesmo ou se havia sido um sonho!

    Saudações Tricolores!!!

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  2. "Se fosse botafoguense, emo, ou um pouco menos comedido em minhas reações, teria ido às lágrimas naquele momento."

    hahuhauhahuuhahuahuuhauhahuhuahuhahuhuahahuhaua

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