terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Episódio triste no futebol brasileiro

Amigos, nessa semana não comentarei o melancólico 0 a 0 do clássico entre Fluminense e Vasco. Não que o jogo não mereça comentários. Apesar do placar virgem, foi uma partida recheada de alternativas, e que teve uma consequência importante para a Taça Guanabara: a eliminação do meu pó-de-arroz. Apenas deixo o jogo de lado porque tive contato com um episódio triste que preciso denunciar. Nossos poucos leitores provavelmente já sabem que casos como esse que contarei ocorrem aos montes no Brasil. Porém, me sinto na obrigação de narrá-lo.

Minha história começa no final da década de 90. Eu tinha quatorze, quinze anos. E, como todo jovem nessa idade deveria fazer, jogava bastante futebol. Com meus amigos de colégio, o bate-bola acontecia religiosamente, na sagrada hora do recreio. Um dia, dois rapazes pediram para jogar com a gente. Eu os conhecia de vista, pois eram da turma da minha irmã. Portanto, três anos mais novos que eu e meus amigos. Nós deixamos os dois, que chamarei de João e José, brincarem com a gente. Todos sabem que a diferença física entre um menino de 15 anos e um menino de 12 anos é considerável. Com isso, João e José provavelmente seriam coadjuvantes na nossa pelada. Porém, amigos, o que se viu não foi isso. João e José jogaram de igual para igual com os meninos três anos mais velhos. Com muita habilidade, anularam a gritante diferença física. Tanto que jogaram os meses seguintes conosco, e não raro eram os primeiros a serem escolhidos para o time. Me lembro de ter aconselhado os dois a tentarem a vida no futebol profissional. Tinham muito talento para isso. Eu acho que João não seguiu meus conselhos. Tricolor fanático como eu, de vez em quando o vejo nas arquibancadas do Maracanã, com o brilho nos olhos característico dos tricolores apaixonados. Já José, eu fiquei sabendo que estava jogando nas categorias de base de um clube em Minas Gerais (salvo engano, era o América Mineiro).

Nesta segunda-feira, encontrei José, em um restaurante na nossa terra-natal, Nova Friburgo. Relembramos os velhos tempos, no papo que originou esse texto. Pela primeira vez, ele me contou detalhes de sua aventura no mundo do futebol. "Tentei vaga em vários times. Todos me diziam que eu era bom, mas que não haveria vaga para mim. Só em Minas me deram chance, mas logo fui mandado de volta para casa. E sempre que eu voltava pra cá era aquela frustração, aquela tristeza, sabe?". José continuou seu relato. "O pior aconteceu no Fluminense. Os caras vieram me buscar aqui em Friburgo, pois tinham ouvido falar de mim. Fui cheio de esperança, né, afinal eles tinham vindo me buscar. Cheguei lá, joguei bem, o técnico me falou que eu era excelente". Agora, amigos, vem o choque de realidade. Leiam o que José ouviu da boca do funcionário do Fluminense: "Aqui o empresário X paga 10 contos pra gente manter o esquema dele, os jogadores dele, sabe qual é? Se você puder...". José continuou: "PC, eu não tinha condições de bancar minha permanência lá, né? Depois disso, desisti do futebol. Sem proteção, é impossível seguir em frente". Retruquei: "Mesmo com todo o seu talento?". José respondeu: "Mesmo com todo o talento do mundo!".

José, hoje com 21 anos, trabalha no restaurante do pai, em Nova Friburgo. Não tenho dúvidas de que poderia estar brilhando em estádios do Brasil e do mundo. Com a camisa tricolor, ou com qualquer outra.

PC

4 comentários:

  1. http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5301138207713793238

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  2. isso acontecia muito lá em xerem, já aconteceu coisa parecida com um sobrinho meu.

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  3. Tem empresário que pede coisas bem piores (vide Sportv Repórter de alguns meses atrás).

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  4. O link da reportagem:

    http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM766709-7824-SPORTV+REPORTER+INTEGRA+DO+PROGRAMA+DE,00.html

    É sobre a pedofilia no futebol.

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