terça-feira, 17 de março de 2009

Recordar é viver - Vasco 4, Palmeiras 3

Amigos, pouco importa que a Copa Mercosul fosse um mero torneio amistoso e caça-níqueis, nem sempre com os melhores times do continente. O importante é que, na final, Palmeiras e Vasco fizeram um desses jogos eternos e imortais. Daqui a duzentos anos, o país inteiro dirá, mordido de nostalgia, do Oiapoque ao Chuí: "aquele Vasco e Palmeiras!".

O alviverde paulista se aproveitou do fato de jogar a final em sua própria casa, e partiu para o ataque. Aos 35, fez 1 a 0, com o paraguaio Arce, cobrando pênalti. Um minutinho depois, Magrão ampliou para 2 a 0, de cabeça. Era a grande noite do Palmeiras! Porém, a equipe cruzmaltina não era boba, de modo que os palmeirenses sabiam que era preciso decidir logo o título. Com esse pensamento, os paulistas continuaram na ofensiva. E conseguiram a recompensa por isso: o doce e santo 3 a 0 veio aos 45 minutos, em chute colocado de Tuta.

No intervalo, um amigo vascaíno me telefonou desesperado: "desisto e vou dormir! É muita humilhação!". Ao que eu respondi: "não faça isso! Futebol só acaba quando termina! Jamais abandone o seu time!". Eu não sabia e não esperava, mas estava profetizando a virada histórica.

Joel Santana, o folclórico comandante da nau cruzmaltina, tinhas duas opções: a covardia e a ousadia. Mahatma Gandhi dizia que os covardes morrem muitas vezes antes de morrer. Joel não é desse tipo de gente, de modo que preferiu ousar: abdicou da tática e mandou seu time todo à frente. Tirou o volante Nasa e pôs o atacante Viola. Jogando assim tão ofensivamente, o Vasco se arriscou a tomar uma goleada histórica. Arriscou-se ao vexame para tentar obter a glória.

Os torcedores às vezes não conseguem identificar um craque. Há jogos em que o craque está lá, no campo, mas nenhum torcedor na arquibancada consegue enxergá-lo, como se a epidemia de cegueira do romance de Saramago tivesse atacado o estádio inteiro. Há, porém, uma entidade no estádio que nunca falha na tarefa de reconhecimento do craque. Trata-se da bola: ela é atraída magneticamente para os pés do grande jogador. E, quando chega ao craque, a pelota lambe-lhe as chuteiras como uma cadelinha adestrada. Foi exatamente isso que aconteceu no segundo tempo, amigos: a bola reconheceu Romário, e foi até ele lamber-lhe as chuteiras, do jeito que uma cadelinha adestrada faria.

Aos 13 minutos, o Baixinho fez o primeiro, de pênalti. O placar mostrava "Palmeiras 3 a 1". Aos 23, novo pênalti para o Vasco, novo gol de Romário. Palmeiras 3 a 2. A partida então ganhou contornos dramáticos, já que bastava mais um gol vascaíno para levar o jogo para os pênaltis. Aos 32, o Gigante da Colina sofreu um duro golpe, que poderia esfriar a reação: o zagueiro Júnior Baiano foi expulso. O Vasco jogou os últimos minutos com dez. Mas eram dez guerreiros incansáveis, dispostos a vencer ou perecer. Aos 40, acontece o gol mais aguardado pela torcida do Vasco. Romário erra o chute, mas a bola cai nos pés de Juninho Paulista, que fuzila para o gol. Até quando erra, o Baixinho acerta.

E só poderia ser dele o gol do milagre. Aos 48 minutos, bate-rebate na área palmeirense, e a cadelinha adestrada é atraída magneticamente para os pés do craque. Romário, sozinho, empurra a bola para os arcos palmeirenses, e é consumado o milagre da virada. A virada do milênio!

PC

5 comentários:

  1. Esse é o meu jogo inesquecível! Parabéns pela crônica, está muito bem escrita!

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  2. Quando me falam sobre copa mercosul só consigo me lembrar desse jogo. Me lembro que quando o Palmeiras fez 3 a 0 eu falei, acabou. Então assisti no segundo tempo a um dos maiores jogos da minha vida, apesar de eu ser Tricolor nato, hereditário e fanático.
    Aquele time do Vasco foi um dos últimos grandes elencos montados por clubes brasileiros. Timaço!

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  3. "Ain't over 'till it's over"
    --Yogi Berra, treinador de baseball.

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  4. Esse foi o jogo mais emocionante que já vi. Não apenas porque o Vasco conseguiu a virada, mas pela própria atitude dos jogadores em campo. Acho que o que me marcou mais foi o fato do Vasco, mesmo tendo um homem a menos e no estadio do adversário, impor o seu jogo e a sua raça (Juninho Pernambucano batendo no peito foi uma cena marcante ...)
    Embora o Vasco tenha feito grandes partidas, como o 4 a 1 no Flamengo (que o Edmundo saiu rebolando e zoando o Junior Bahiano), acho que nenhuma se compara à beleza e dramaticidade desse Palmeirs vs. Vasco.

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  5. Tópico na comunidade do Fluminense no orkut, cheio de previsões furadas sobre o então provável rebaixamento do Fluminense em 2009.

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