quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Craque - Preguinho

"Eu nem sabia falar direito e o Fluminense já estava inteiro em minha alma, em meu coração e em meu corpo."
- João Coelho Netto, o Preguinho, maior atleta brasileiro de todos os tempos.

Amigos, a crônica de hoje começa com um personagem: Henrique Maximiliano Coelho Netto (1864-1934), fundador da cadeira número 2 da Academia Brasileira de Letras, aristocrático "príncipe dos prosadores brasileiros". Coelho Netto inventou a expressão "Cidade Maravilhosa", e escreveu o primeiro roteiro para um filme nacional ("A Cidade Maravilhosa"). Coelho Netto se tornou torcedor fanático do Fluminense Football Club, tendo inclusive composto um hino para o clube. Somente esta descrição já bastaria para alçar Coelho Netto a um posto ilustre na História do Brasil. Porém, falta ainda examinar uma outra característica, que lhe acrescenta uma dramaticidade épica: Coelho Netto teve 14 filhos. E não foram quatorze quaisquer. Entre eles, estava João Coelho Netto, o Prego, o Preguinho, o Super-Homem Brasileiro.

Preguinho é o personagem central do meu texto de hoje. João Coelho Netto nasceu em 8 de fevereiro de 1905, no Rio de Janeiro. Seu pai, um dos mais importantes intelectuais brasileiros, queria fazer do filho um atleta. Resolveu começar pela natação: pegou o garoto com as mãos e o atirou numa piscina. João "afundou como um prego". Nascia ali o apelido Prego, que depois se transformaria em Preguinho.

Aos onze anos, Preguinho já figurava nos quadros infantis do Fluminense. Estreou na equipe principal de futebol em 1925, aos vinte anos. Mas Preguinho não era só um jogador de futebol: era um multiatleta, brilhando em nada menos que nove esportes (futebol, basquete, vôlei, atletismo, natação, hóquei sobre patins, saltos ornamentais, remo e pólo aquático).

O dia de sua estréia no futebol, 19 de abril de 1925, ilustra e exemplifica esse fato. Naquela tarde, Preguinho ajudou o Fluminense a conquistar o tricampeonato estadual de natação, nadando na categoria dos 600 metros. Ainda com a medalha no peito, pegou um táxi e se dirigiu até as Laranjeiras, para conquistar no gramado o Torneio Início do Rio de Janeiro, ao vencer o São Cristóvão na final.

Começava ali uma vitoriosa jornada como jogador de futebol no quadro principal do Fluminense. Foram ao todo 172 jogos (98 vitórias, 28 empates e 46 derrotas), com 156 gols marcados pelo Tricolor. Preguinho foi o artilheiro do Fluminense nos certames de 1928, 1929, 1930, 1931 e 1932. Em 30 e 32, foi também o artilheiro geral do Campeonato Carioca.

Em 1930, Preguinho integrou a Seleção Brasileira em sua primeira Copa do Mundo. Mais: fez o primeiro gol do escrete na história dos campeonatos mundiais, na derrota por 2 a 1 para a Iugoslávia, em 14 de julho, no Parque Central, em Montevideo. No segundo jogo, ainda marcou mais dois tentos, na vitória por 4 a 0 sobre a Bolívia.

Em 1933, o profissionalismo se implantava no futebol brasileiro: os jogadores passariam a receber para jogar. Mas Preguinho se recusou a ganhar dinheiro com o futebol. Continuou atuando pelo Fluminense, sem receber um tostão, por puro amor à camisa.

Ao todo, Preguinho contabilizou para o Fluminense incríveis 387 medalhas e 55 títulos, participando das equipes de nove modalidades esportivas. No basquete, é até hoje um dos maiores cestinhas da história do clube, tendo anotado 711 pontos.

Na madrugada de 29 de setembro de 1979, dona Linda, sua esposa, acordou preocupada no apartamento simples em que moravam, em Laranjeiras. Ela vai até a sala e encontra o marido, aos 74 anos, olhando para o diploma de "Benemérito Atleta", que tanto o orgulhava, dado pelo Fluminense, enquadrado na parede. Dona Linda o convence a voltar para a cama. No dia seguinte, o maior atleta que o Brasil já produziu faleceria.

Não há dúvida alguma: João Coelho Netto foi o esportista mais completo que o Brasil conheceu em todos os tempos. Infelizmente, hoje Preguinho é um ídolo semi-esquecido, em um país sem gratidão e sem memória. As únicas homenagens à sua altura estão na sede do Fluminense Football Club: um ginásio com seu nome, e um busto. Muito pouco para uma história tão gloriosa.

Muito obrigado por tudo, Preguinho!

PC Filho

(texto baseado em reportagem da Revista Placar, no site Estatísticas Fluminense, e na Wikipedia, e com a colaboração da amiga Natália Lacerda.)

8 comentários:

  1. Um cara absurdamente versátil, pioneiro e craque. Merece muito respeito.
    O problema é que as pessoas só lembram de quem ganhou títulos, ou de quem consideram diretamente responsável pela perda de um (caso do Barbosa).

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  2. Esse sim era um atleta completo, infelizmente boa parte dos grandes jogadores e atletas não tem 5% do reconhecimento que merecem, ainda bem que existe blogs como esse que reconhecem.

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  3. MITO,e não me venham falar em zicos/garrinhchas/dinamites

    preguinho e castilho >>>>>>> todos

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  4. Excelente post PC! Resgatar a história do esporte nacional é sempre muito bom, principalmente quando mostra aos que somente conhecem o esporte a partir dos anos 80 o gigante que é e a importância do Fluminense para o esporte nacional.

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  5. Quando leio algo à respeito de grandes jogadores ,viajo no tempo(seja de que time for).
    Imaginem eu ler à respeito de um atleta que disputou tantas modalidades esportivas(sendo campeão em todas),e de quebra foi um dos maiores jogadores de futebol de todos tempos.Tenho o privilégio dele ter pertencido ao meu querido FLUMINENSE.

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  6. Post citado como fonte na Wikipedia:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Preguinho

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