segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Saudade dos tempos que não vivi

Amigos, vendo a situação deprimente em que se encontra atualmente o Fluminense, sinto uma irremediável saudade do passado glorioso do Tricolor.

Voltemos a 1912. Imaginem o frisson de quem foi assistir ao primeiro Fla-Flu, no campo das Laranjeiras, que nem era Estádio ainda. O Fluminense ganhara o tetra de 1906 a 1909, e também vencera em 1911. Mas houve a debandada de nove titulares. E houve também a vitória do Fluminense sobre o Flamengo dos desertores. Nascia ali a rivalidade prevista por profecias feitas quarenta minutos antes do nada, quando as multidões despertaram.

Melhor ainda: 1919. Fla-Flu decisivo em Laranjeiras, agora um Estádio. Epitácio Pessoa, o Presidente da República, estava na Tribuna de Honra. O jogo seguia 0 a 0, quando o juiz dá pênalti para o Rubro-Negro. Um beque cobra, e Marcos defende, dando rebote. Ocorre então um novo chute, uma nova defesa de Marcos, e um novo rebote. Vem então o terceiro chute, e a terceira defesa, desta vez sem rebote. Milagre de Marcos! O Fluminense venceu por 4 a 0, e Welfare, Machado e Bacchi também foram heróis da conquista, ao lado de Marcos. O Tricolor era tricampeão.

Em 1924, com doze vitórias em quatorze jogos, mais um troféu entrou para a galeria do Fluminense. Welfare se despedia com a incrível marca de 163 gols marcados em 166 jogos disputados.

É difícil explicar aos mais novos, mas é a verdade: o Campeonato Carioca era então o principal torneio brasileiro. O campeão da Guanabara era, de fato, o melhor time do Brasil. Então, como não sentir saudades da equipe de Romeu, Tim e Hércules? Vejam vocês: o Fluminense foi campeão em 1936, 1937, 1938, 1940 e 1941. Em seis anos, cinco taças erguidas. A superioridade desse time sobre os demais de sua época é a mais extensa que um clube brasileiro jamais conseguiu.

Em 1946, o técnico Gentil Cardoso pediu: "dêem-me Ademir, que eu lhes darei o campeonato". O presidente do clube, Manoel de Moraes Barros Netto, tirou Ademir do Vasco. E o Fluminense venceu mesmo o Super-Campeonato, o mais emocionante da história. Sim, eu sinto saudades de 1946.

Em 1949, vinha a Taça Olímpica, reconhecimento do Fluminense como instituição esportiva mais organizada da face da Terra. Hoje, é difícil de acreditar nisso. Mas, sim, o Fluminense já foi o clube mais organizado do mundo. Ah, que saudade!

Em 1951, o técnico Zezé Moreira monta um time de meninos. A imprensa chama o Fluminense de "timinho", mas o Timinho lidera de ponta a ponta, e vence as finais contra o Bangu. Citarei os nomes de alguns dos meninos: Castilho, Didi e Telê. O mesmo time conquistaria a Copa Rio em 1952, Mundial Interclubes da época, suprema glória do Tricolor.

Em 1957, já existia um outro campeonato importante: o Torneio Rio-São Paulo. E nesse ano o Fluminense levantou o troféu, invicto, com direito a 13 gols do artilheiro Waldo, e com um Castilho iluminado debaixo das traves.

Em 1959, Zezé Moreira volta ao comando. E o troféu do Campeonato Carioca volta à Rua Álvaro Chaves. O ataque fazia os gols logo no começo, e Castilho, Jair Marinho e Pinheiro seguravam o resultado. Às vezes, se tinha a impressão de que o time nem precisava entrar em campo: a camisa tricolor parecia vencer sozinha. O manto verde, branco e grená impunha o resultado aos adversários, e estes capitulavam, humilhados. No ano seguinte, mais um Rio-São Paulo é erguido, com nova artilharia de Waldo.

Em 1963, o empate no Fla-Flu deu o título ao Flamengo. Mas o público daquela final no Maracanã foi o maior de todos os tempos. No ano seguinte, a rotina de ser campeão voltava com força, num encontro de três gerações. Elba de Pádua Lima (o Tim de 1938) comandava a equipe, o veterano Castilho se despedia da brilhante carreira, e o jovem Carlos Alberto Torres iniciava a sua jornada.

Em 1969, era Telê que voltava, agora para ser o técnico. E, em um Fla-Flu sensacional, o Fluminense sagrou-se mais uma vez campeão carioca. Quanta saudade dessa rotina de levantar troféus!

Nessa época, já existia o Campeonato Brasileiro, ainda sob o nome de Torneio Roberto Gomes Pedrosa. É claro que o Fluminense não tardaria a levantar mais essa taça. O ano não poderia ser mais emblemático: 1970. No Estádio Azteca, diante da Itália, o Brasil confirmava sua hegemonia no futebol mundial. No Maracanã, diante do Atlético, o Fluminense confirmava sua hegemonia no futebol brasileiro.

Em 1971, Zagallo é o técnico tricolor. Em uma arrancada espetacular, o Fluminense vence a Selefogo com gol de Lula, e ergue mais um troféu de campeão carioca. Em 1973, Manfrini é o herói do Fla-Flu da chuva, e o Tricolor mantém a rotina de levantar taças ano sim, ano também.

Em 1975, chega Francisco Horta à presidência do clube. É montada a Máquina Tricolor, que é bicampeã estadual. Que assombra o mundo ao vencer o bicampeão europeu Bayern de Munique. Que me faz sentir tanta saudade...

Eu nasci na década de 80, mas infelizmente tenho pouquíssimas recordações dessa época maravilhosa. O Campeonato Carioca de 1980 marca a despedida de um ídolo fora das quatro linhas: Nelson Rodrigues. O gol de Edinho é o último descrito pelas crônicas maravilhosas do Profeta Tricolor. Aquele campeonato marca também a chegada de um outro ícone: o Papa João Paulo II, o João de Deus, nosso santo representante, a quem entoamos nossa mais bela canção, desde então, até hoje, e para sempre.

Vêm então os três anos mágicos: 83, 84 e 85. O Fluminense ganha mais um tricampeonato no Rio de Janeiro, e em 1984 conquista o Brasil pela segunda vez, sob a batuta de Carlos Alberto Parreira.

Reparem que há uma certa crueldade na vida. Não podemos sequer conviver com nossos heróis imortais, pois a maior parte deles já tombou para sempre à imposição da natureza humana. Me resta sentir saudade: saudade dos tempos que não vivi.

PC

19 comentários:

  1. muita,MUITA SAUDADE do tempo que não vivi

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  2. Muitas vezes a gente pensa em alguma coisa bonita pra escrever. Mas só pensei o seguinte:
    "Sacanagem eu não ter visto isso."

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  3. O mais brilhante resumo da história do Fluminense que já li. Altamente recomendado à massa de ignorantes que fazem pouco do clube mais tradicional do país.

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  4. Eu vivi tempos grandiosos do Flu e sofri horrores na década de 90. Parece que nada muda no Flu de uns tempos pra cá. Só a torcida pode fazer do nosso Flu o que ele era antes.

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  5. Gostariia de ver o flu brilhando desse jeito hoje :D

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  6. Graças a Deus eu vi o Tri (83, 84 e 85) e o Brasileiro de 84. Que saudade daquele time.

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  7. Comentários no orkut:
    http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=28077&tid=5381325607907366102

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  8. Obrigado a todos pelos elogios ao texto.

    E que nós consigamos reviver os gloriosos tempos de outrora.

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  9. Eu ainda tenho esperanças de ver o Fluminense volta a ser o que era.. Um dia, quem sabe..

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  10. PC, belíssimo texto! O Flu é como uma fênix, caiu nos anos 90 e renasceu está mal agora e há de se levantar.

    ST

    PS1 - Ser como uma fênix é melhor que como o Jason que sempre se ferra no final do filme(to guardando essa pra sacanear os bambis no fim do campeonato se der)

    PS2 - Achava que vc fosse mais velho :p

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  11. Nossa geração realmente merece melhor sorte. Mas ainda somos jovens, o que é nosso tá guardado. Sofremos como nenhum outro tricolor, mas tenho certeza que as maiores glórias ainda virão!

    Obrigado pelo link do Corneta em seu blog. Em breve, também teremos links colegas em nosso espaço.

    Saudações tricolores.

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  12. agora sim PC, um texto lindo nostálgio e de grande utilidade pra ver se essa criançada entende maisi a história gloriosa do Fluminense, que se perdeu no passado!
    parabnes

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  13. Sem palavras, sensacional.

    Tenho certeza que vivi sim, só que estava na fila de espera para nascer, por isso não lembro!

    Obrigado meu Deus, por ser tricolor!

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  14. Oi PC! ST!

    Procuramos por vc no Domingo, vc sumiu?!?

    Adorei o Blog!

    Beijos,

    Garna
    www.flunaticas.com.br

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  15. Obrigado mais uma vez a todos pelos elogios ao texto!

    ------

    Citação na comunidade FuteBoleiros Esporte Clube:

    http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=92540955&tid=5379916699957655708&na=2&nst=166

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  16. PC, acho que nenhum torcedor carioca consegue fugir dessa situaçao...

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  17. Realmente uma linda e emocionante história. Já imaginou o Flu do passado c/ a torcida do Flu do presente? Seria Fantástico... Sá daria Flu c/ td certeza!

    ST

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