segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A maior zebra da história da Libertadores

Continuando a série de histórias da Copa Libertadores...


Em 3 de maio de 1964, o Deportivo Itália conseguira o primeiro triunfo de uma equipe venezuelana fora de casa, na Libertadores. A vitória por 1 a 0 sobre o Barcelona de Guayaquil, em pleno Estádio Modelo, veio com um gol do lateral brasileiro Zequinha, que até hoje é lembrado pelos fãs na Venezuela.

Dois anos mais tarde, o Deportivo Itália voltaria a vencer na Libertadores, fora de terras venezuelanas. No dia primeiro de março de 1966, vitória por 2 a 1, sobre o Alianza Lima, no Peru. No dia 13, novo triunfo por 2 a 1, sobre o Universitário, também em Lima.

No ano seguinte, mais um triunfo venezuelano em solo estrangeiro. Em 11 de março de 1967, o Deportivo Galícia batera o Sport Boys, do Peru, por 2 a 1, no El Callao.

Em mais de dez anos de participações na Libertadores, aquelas quatro vitórias como visitantes haviam sido as únicas glórias da Venezuela na competição. Sem dúvida, os quatro triunfos possuíam um grande significado espiritual para os venezuelanos. Mas faltava um valor agregado: o tamanho do rival derrotado. Faltava vencer um gigante.

Quando começou a Libertadores de 1971, parecia que a grande vitória seria novamente adiada. Os primeiros jogos do grupo contra os brasileiros foram em Caracas, a capital venezuelana. Primeiro veio o Palmeiras, e bateu o Deportivo Galícia por 3 a 2, e o Deportivo Itália por 3 a 0. Depois veio o Fluminense, e bateu o Deportivo Galícia por 3 a 1, e o Deportivo Itália por 6 a 0. Se na Venezuela as equipes foram tão massacradas, imaginem só o que as esperaria no Brasil.

Primeiro o Deportivo Itália foi a São Paulo: Palmeiras 1 a 0. Em seguida, Deportivo Galícia no Rio de Janeiro: Fluminense 4 a 1. Deportivo Galícia em São Paulo: Palmeiras 3 a 0.

Rio de Janeiro, 3 de março de 1971.

No Maracanã, o Fluminense recebia o Deportivo Itália. O Campeão Brasileiro de 1970 vinha de quatro vitórias em quatro jogos na Libertadores, incluindo os 6 a 0 sobre o próprio Deportivo Itália, em Caracas. Era comandado por Zagallo, o técnico tricampeão mundial no México. Até mesmo o venezuelano mais patriota apostaria todas as suas fichas na vitória do Fluminense. Todos, todos esperavam um verdadeiro massacre no Maracanã.

Ainda no primeiro tempo, um pênalti foi assinalado a favor dos venezuelanos, pelo árbitro Rodolfo Pérez Osório. Das 26.425 pessoas presentes nas arquibancadas, gerais e cadeiras, nenhuma enxergou falta no lance. Mas o juiz viu, e estava lá a bola na marca penal. O zagueiro Manuel Tenorio cobrou, e o goleiro Jorge Vitório não conseguiu defender: Deportivo Itália 1 a 0. A zebra azul começava a passear no gramado do Maracanã.

Então, o fortíssimo ataque tricolor, formado por Cafuringa, Flávio, Samarone e Lula, passou a bombardear a meta do Deportivo Itália. Vito Fassano, o arqueiro do quadro venezuelano, teve uma atuação magistral. Defendeu múltiplos disparos, impediu tentos iminentes, afastou gols feitos. Não passava nem pensamento.

Quando Osório apitou o fim da partida, houve comemoração efusiva dos azules. Quase teve volta olímpica. Era a primeira grande vitória do futebol da Venezuela em solo estrangeiro. Para a imprensa venezuelana, foi El Pequeño Maracanazzo. Fassano e Tenorio regressaram à pátria como verdadeiros heróis nacionais.

Foi a zebra azul que, por uma noite, conseguiu desbotar as três cores que traduzem tradição.

PC

Curiosidades:
- 36 anos e 5 dias depois, no dia 08/03/2007, o Caracas FC venceu o River Plate por 1 a 0, no Monumental de Núñez, e novamente os venezuelanos comemoraram como se fosse um título. Javier Toyo, o goleiro da ocasião, foi chamado pela imprensa de "novo Vito Fassano".
- a goleada do Fluminense na Venezuela (6 x 0 no Deportivo Itália) é, até hoje, o maior placar de um visitante na história da Libertadores.
- após a vitória no Maracanã, a Venezuela só voltaria a vencer uma partida de Libertadores como visitante em 1977, quando a Portuguesa venceu o Sport Boys por 2 a 1, em Lima.

2 comentários:

  1. Estou vendo que a tradição de ganhar dos grandes pra entregar para os pequenos e a falta de foco dos jogadores não vêm de hoje....esse tipo de tropeço é bem a cara do
    Fluminense....

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