Páginas

domingo, 22 de abril de 2007

Probabilidades

A área mais fascinante da matemática para mim é a das probabilidades. Nela, é preciso muito raciocínio, em detrimento de “fórmulas mágicas”. Como veremos aqui, nem sempre nossa intuição está certa em problemas probabilísticos...

Começo com um problema simples e intrigante. Você tem uma amiga com dois filhos, e sabe que uma das crianças é menina. Qual é a probabilidade de a outra criança ser menina? A intuição nos diz: 1/2, obviamente! Mas nossa intuição está errada! A resposta certa é 1/3! Um casal com dois filhos tem quatro possíveis combinações: menino-menino, menino-menina, menina-menino e menina-menina – todas essas combinações igualmente prováveis. Se você sabe que uma das crianças é menina, a primeira combinação é eliminada. Assim, restam apenas três combinações: menino-menina, menina-menino e menina-menina. Apenas na última a outra criança é menina! Logo, a probabilidade é de 1/3. Estranho, não? Imagine agora que você viu sua amiga com uma menina, que ela confirmou ser sua filha. Pense bem, e você perceberá que, nesse caso, a probabilidade é 1/2!

Outro probleminha: Alberto, Bernardo e Carlos estão presos. O carcereiro sabe qual deles está condenado à morte, e quais os dois que serão libertados. Alberto, que tem uma chance de 1/3 de ir para a forca, escreve uma carta para a mãe, e quer que ela seja entregue por Bernardo ou Carlos. Então, ele pergunta ao carcereiro se deve entregar a carta a Bernardo ou Carlos. O carcereiro se vê em um dilema: ele acha que, se revelar a Alberto o nome do homem que será libertado, então Alberto terá uma chance de 1/2 de ser condenado à morte, já que Alberto ou o homem não-indicado será executado. Se ele ocultar a informação, as chances de Alberto seguem em 1/3. Alberto já sabe que pelo menos um dos seus colegas será libertado. Como suas chances de ser executado podem ser afetadas pelo simples fato de ele saber o nome do homem que ganhará a liberdade? A resposta: as chances de Alberto não mudam! A preocupação do carcereiro é equivocada. Mesmo sabendo o nome do companheiro a ser libertado, a chance de Alberto continua sendo de 1/3. O companheiro não-indicado agora tem uma probabilidade de 2/3 de morrer! Isso contradiz nossa intuição!

Há quatro cenários nesse caso:

1. Alberto é o condenado, e o carcereiro diz que Bernardo está livre. Probabilidade: 1/6.

2. Alberto é o condenado, e o carcereiro diz que Carlos está livre. Probabilidade: 1/6.

3. Bernardo é o condenado, e o carcereiro diz que Carlos está livre. Probabilidade: 1/3.

4. Carlos é o condenado, e o carcereiro diz que Bernardo está livre. Probabilidade: 1/3.

Se o carcereiro disser que Bernardo está livre (cenário 1 ou 4), Carlos tem uma chance 2 vezes maior de ser o condenado que Alberto (2/3 contra 1/3). Se o carcereiro disser que Carlos está livre (cenário 2 ou 3), Bernardo tem uma chance 2 vezes maior de morrer que Alberto (2/3 contra 1/3). Esse é o clássico problema da escolha restrita: nos cenários em que Alberto não é condenado, o carcereiro não tem escolha. Isso é assunto para um outro texto, talvez até um livro.

Encerro por aqui, para evitar que meus caros leitores fiquem com um nó no cérebro. Espero não ter escrito nenhuma besteira. A matemática é a ciência exata, e por isso é muito perigoso escrever sobre ela. Arrivederci!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Regras para postar comentários:

I. Os comentários devem se ater ao assunto do post, preferencialmente. Pense duas vezes antes de publicar um comentário fora do contexto.

II. Os comentários devem ser relevantes, isto é, devem acrescentar informação útil ao post ou ao debate em questão.

III. Os comentários devem ser sempre respeitosos. É terminantemente proibido debochar, ofender, insultar e/ou caluniar quaisquer pessoas e instituições.

IV. Os nomes dos clubes devem ser escritos sempre da maneira correta. Não serão tolerados apelidos pejorativos para as instituições, sejam quais forem.

V. Não é permitido pedir ou publicar números de telefone/Whatsapp, e-mails, redes sociais, etc.

VI. Respeitem a nossa bela Língua Portuguesa, e evitem escrever em CAIXA ALTA.

Os comentários que não respeitem as regras acima poderão ser excluídos ou não, a critério dos moderadores do blog.