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quinta-feira, 26 de março de 2009

Recordar é viver - Florianópolis é Tricolor

Florianópolis, 7 de junho de 2007.

Amigos, a humildade acaba aqui. Isso porque, desde ontem, o Fluminense é o campeão da Copa do Brasil. O Tricolor venceu o Figueirense, no Estádio Orlando Scarpelli, por 1 a 0, com gol do zagueiro Roger. Uma semana atrás, empatamos no Maracanã. Assim, a bela taça é, para sempre, nossa.

Escrevi sobre o empate no Estádio Mário Filho, e cabe detalhar a partida. Tudo parecia caminhar para um insosso zero a zero quando um jogador do Figueirense acertou, de primeira, um petardo indefensável. Como já passávamos dos trinta do segundo tempo, os tricolores presentes no Maracanã se entreolharam desesperados. O pensamento era único: "ou empatamos hoje, ou já era". Eis que surge, do banco, o primeiro herói da conquista: Thiago Neves. O garoto entra, costura a defesa oponente, e dá o passe perfeito: Adriano Magrão escora para o gol. O placar de 1 a 1 deixava a disputa em aberto. Mesmo assim, a meia-dúzia de catarinenses presentes no Rio de Janeiro cantou antes da hora: "é campeão".

No dia seguinte ao jogo do Maracanã, aquele grito dos catarinenses aventureiros ficou martelando em minha cabeça. Até que, à noite, tive a certeza profética: "seremos campeões". Examinei a minha agenda, e percebi: seria feriado na quinta-feira, o day-after. Examinei a minha conta bancária, e verifiquei que as sobras do emprego antigo ainda repousavam lá. Juntei a fome com a vontade de comer, e decretei: "vou a Florianópolis". Logo encontrei uma excursão que faria a viagem do título, de ônibus. Realizei o pagamento ainda na sexta-feira, e comecei a me preparar espiritualmente para a jornada. Dezoito horas na estrada não são pouca coisa, não. Mas eu estava disposto a qualquer sacrifício. O Fluminense não levantava um campeonato nacional havia 23 longos anos. Dessa vez, não poderia escapar. Não iria escapar.

Chegamos com boa antecedência a Floripa, de modo que pude passear um pouco pela capital catarinense. Eu e mais três amigos de viagem fomos para a Ilha, onde encontraríamos um outro amigo meu, habitante local, que nos guiaria em um rápido tour pela cidade. Conhecemos a bela Lagoa da Conceição: jamais me esquecerei do anoitecer naquela linda paisagem. Ali perto, descobri que Florianópolis é Tricolor. Vejam as três cores presentes na bandeira de Santa Catarina, hasteada na Ilha: verde, branco e grená. Os idiotas da objetividade afirmam categóricos: "não é grená, é vermelho". OK, OK, confesso com escrúpulo e vergonha: é vermelho. Mas permitam a este escriba um pequeno daltonismo. Ontem e hoje, Florianópolis é verde, branco e grená. Florianópolis é Fluminense. Florianópolis é Tricolor.

Já era noite quando voltamos finalmente à parte continental de Floripa. O acanhado estádio do Figueirense se localiza ali, no Estreito. Não resisti e comprei uma bandeira antes de entrar no setor E do Orlando Scarpelli. Quando entrei, o local já estava cheio. Posicionei-me no meio da multidão pó-de-arroz ali presente, e comecei a cantar, sofrer e rezar. O Fluminense entrou em campo com o time esperado: o único desfalque era Luiz Alberto. O zagueiro lesionara-se na véspera, e dava lugar a Roger. O cara-e-coroa decidiu que o Fluminense atacaria o primeiro tempo para o gol do nosso lado.

Bem no comecinho do jogo, aconteceu a jogada inesquecível, envolvendo dois outros heróis da conquista: Adriano Magrão e Roger. Adriano Magrão havia feito o gol que nos permitia sonhar. Dessa vez, deu o passe certeiro. Roger matou no peito e fuzilou. A bola estufou a rede: estava consumado o gol do Fluminense. O 1 a 0 já nos dava o caneco. Assim, a obrigação de atacar agora era do time da casa. E foi isso que o Figueirense fez: passou noventa longos minutos nos atacando.

Agora, cabe exaltar os outros heróis da conquista: o goleiro Fernando Henrique foi uma bastilha inexpugnável, amigos. Thiago Silva corria como um coelhinho de desenho animado, mas era uma corrida inteligente, para os locais certos da cancha. Os laterais Carlinhos e Júnior César, reduzidos a zagueiros, molhavam a camisa como nunca. Fabinho e Arouca, mais à frente, atuavam como cães de guarda implacáveis. Os meias Carlos Alberto e Cícero também nunca fugiram da batalha. O atacante Alex Dias, apesar da idade avançada, também voltava para ajudar a defesa com o seu suor. Entraram no decorrer da final Rafael Moura, David e Thiago Neves: também eles defenderam o querido pavilhão dando o máximo que conseguiam.

Por trás da equipe, dispondo, estava o eterno Renato Gaúcho. Há quem queira diminuir o seu papel na épica jornada pó-de-arroz, mas é impossível. Quando ele chegou, o plantel tricolor era a piada dos bares e das esquinas. "Não há técnico que dê jeito nesse bando", era o que mais se ouvia. No entanto, em sua primeira declaração, ele espanta a todos: "faltam sete jogos para o título". Nem o tricolor mais otimista acreditou. Porém, ele estava profeticamente certo: sete jogos depois, cá estamos comemorando a conquista.

Voltemos ao momento sublime: notem que há um agravante no gol do título tricolor. Roger não iria jogar. Vejam vocês a influência mística na conquista tricolor: o gol mais importante, o lance que decidiu todo o campeonato, foi de um jogador que não estaria em campo. É o destino, amigos, é o destino: estava escrito desde antes do nada que o Fluminense seria o campeão.

Examinemos por fim a campanha completa: Adesg-AC, América-RN, Bahia, Atlético-PR, Brasiliense e Figueirense. Como dizia o profeta: um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro. A Copa do Brasil de 2007, tão disputada, agora descansará, eternamente, na abarrotada sala de troféus da rua Álvaro Chaves. Este fato nos permite sonhar: em 2008, desbravaremos a América. Há de ser uma jornada épica, fantástica e inesquecível.

PC



10 comentários:

  1. Agradecimentos:

    - site FLUMANIA ( http://www.flumania.com.br/ )

    - companheiros da melhor viagem da minha vida: Natasha, Marina, Armi, Yuri, Fernando "Russo", Paulinho, Felippe Mousovich, Luis Paulo, Jeferson, Léo Moretti, Thiago, Leozin "DJ", Toni, Luiz Fernando e demais ocupantes do inesquecível ÔNIBUS 6!

    :)

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  2. PC, belíssimo texto. Mesmo sendo uma releitura, eu ainda me emociono com ele. É muito difícil acreditar que já se passaram quase 2 anos desde aquele título. Vida longa à trema e aos hífens extintos (pelos velhos tempos)!

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  3. Minoru, você me deu uma boa idéia. Os "Recordar é viver" serão escritos à moda antiga. Se eu esquecer um trema - que saudade!, conto com a sua correção!

    Ah, obrigado pelos elogios ao texto! Hoje o blog tem muitos leitores, mas você é um daqueles três que nos acompanham "desde antes do nada". Merece muitos aplausos!

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  4. De arrepiar...
    Me lembro de estar no final do jogo tremendo diante da televisão, o Figueira não parava de atacar e eu não agüentava mais!!! Esse não agüentar mais não é o não agüentar mais corriqueiro, quando temos que fazer alguma coisa chata, é um esgotamento provocado pela ansiedade sem fim, que senti pela segunda vez em minha vida numa prorrogação desesperadora no estádio Mário Filho...

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  5. "Ali perto, descobri que Florianópolis é Tricolor. Vejam as três cores presentes na bandeira de Santa Catarina, hasteada na Ilha: verde, branco e grená. Os idiotas da objetividade afirmam categóricos: "não é grená, é vermelho". OK, OK, confesso com escrúpulo e vergonha: é vermelho. Mas permitam a este escriba um pequeno daltonismo. Ontem e hoje, Florianópolis é verde, branco e grená."

    Excelente, mesmo sendo tricolor!

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  6. Nostálgico

    E ser campeão com Carlinhos na lateral-direita é muito, muito tenso.

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  7. http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5317610511100548310

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  8. http://www.orkut.com.br/CommMsgs.aspx?cmm=5335742&tid=5317768192234886358

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