Zero a zero no Camp Nou

Amigos, hoje o Chelsea conseguiu o espetacular milagre: suportar noventa minutos sem sofrer gol do Barcelona. Escrevi "milagre" e reforço: "milagre"! Explico: Henry, Messi e Eto'o compõem o ataque mais avassalador da face da Terra. Eles são como três chineses de anedota: cada um deles precisa de no mínimo dez pra segurar. Eis a essência do extraordinário milagre azul: deter o trio mortal com apenas onze guerreiros.

Um amigo me confessou, na véspera, com o olho rútilo e os lábios trêmulos: "estou babando por antecipação". Ele estava ansioso para ver mais um massacre azul-grená. Para a eterna frustração do sujeito, não aconteceu a chacina esperada. Sua bovina baba de admiração deve ter sido substituída por um inapelável sentimento de vazio. Não me canso de repetir: que horrenda é a sensação que nos causa o zero a zero. Vinte e dois homens molham a camisa, correndo atrás da bola, durante noventa minutos, e não conseguem enfiar um golzinho sequer? A virgindade do placar tem algo de patético, tem algo de obsceno. O empate sem gols deveria ser proibido por decreto. Ou, por outra, pelo menos o dinheiro do ingresso deveria ser devolvido.

Semana que vem, o Chelsea decidirá em casa. Jogar no Stamford Bridge é uma senhora vantagem para a equipe londrina, que dificilmente perde batalhas em seus domínios. Porém, é necessário ressaltar que o 0 a 0 não foi tão bom assim para os azuis. Um golzinho do Barcelona, um único golzinho, e o Chelsea precisará de dois. É o resultado da regra mais estúpida que eu conheço. De acordo com sua lógica ilógica, dois empates podem decretar um vencedor. Onde já se viu?

E quem foi o meu personagem da terça-feira? Geralmente, eu faço uma busca entre os 22 jogadores, o juiz e os bandeirinhas. Porém, hoje, a ilustre posição não será ocupada por uma pessoa. Confesso com escrúpulo e vergonha que o meu personagem da terça-feira é um objeto: trata-se do placar do Camp Nou. Mais do que a defesa do Chelsea, mais do que o Petr Cech, foi ele a bastilha inexpugnável. Resistir bravamente, durante noventa minutos, a Messi, Eto'o e Henry não é para qualquer placar. Reparem que há um agravante no feito: quase 100 mil fanáticos pressionavam o placar a mudar. Resistir a um coro dessas proporções é tarefa de Hércules. E por ter alcançado a façanha mitológica, o placar do Camp Nou é o meu personagem da terça-feira.

PC