Páginas

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O domingo que não acabou


Domingo, primeiro de maio de 1994.

O Brasil inteiro repetiu, naquela manhã de domingo, o ritual a que Ayrton Senna nos acostumou: assim que acordar, ligar a TV para assistir à corrida de Fórmula 1. O tricampeão começara mal na Williams, perdendo as duas primeiras corridas do ano (Brasil e Pacífico), e precisava vencer para se recuperar no campeonato. Havia certa apreensão, por causa dos acidentes de sexta e sábado. Na sexta-feira, o então jovem piloto brasileiro Rubens Barrichello se ferira gravemente, ao se acidentar na variante antes da reta dos boxes. No sábado, Senna foi pole-position, pela terceira vez consecutiva, mas não havia motivo para comemorações. O austríaco Roland Ratzenberger, da Simtek, falecera ao bater a mais de 300 km/h na curva Villeneuve. Diante desse cenário desolador, ninguém poderia imaginar que o pior ainda estava por vir. Disse "ninguém", mas já me corrijo: havia uma pessoa pressentindo o pior. Seu nome? Ayrton Senna da Silva.

O maior piloto da história estava visivelmente abalado com os eventos do fim de semana.  Ele chegou a pedir a Max Mosley (então presidente da FIA) e Bernie Ecclestone (então presidente da Associação de Construtores) que cancelassem a corrida. Foi advertido severamente por isso, e não escondia o mau humor momentos antes da largada. O francês e ex-rival Alain Prost, anos depois, revelou que conversara com Senna naquele dia: "nunca havia visto Senna tão triste". Para que Ayrton estivesse deprimido em pleno dia de corrida, é porque algum grave temor realmente tomava conta de sua alma.

Infelizmente, o pressentimento de Senna se tornaria uma realidade, e aquele GP de San Marino, no lendário circuito de Imola, entraria para a história como o mais trágico de todos os tempos. Já na largada, mais um acidente: a Lotus do português Pedro Lamy atinge a Benetton do finlandês JJ Lehto, e provoca a entrada do safety car. Três voltas depois, ocorre a relargada, com os carros em movimento, e Senna mantém a ponta. O jovem alemão Michael Schumacher, que viria a ser o sucessor do gênio brasileiro, seguia em segundo. Na sétima volta, acontece a fatalidade: Ayrton Senna passa direto na curva Tamburello, que não tinha proteção de pneus. O choque com o muro de concreto, a mais de 300 km/h, constitui a imagem mais triste da história do automobilismo mundial. Era o último momento do eterno tricampeão.

A corrida seguiu, apesar da comoção geral. O pódio mais triste da história contou com o alemão Michael Schumacher em primeiro, o italiano Nicola Larini em segundo, e o finlandês Mika Häkkinen em terceiro. Nenhum sorriso, nenhuma comemoração: todos entenderam a gravidade daquele momento. Quinze anos depois, a morte de Senna ainda é a última registrada em uma corrida de Fórmula 1. Infelizmente, as reivindicações do lendário Ayrton por mais segurança para os pilotos só passaram a ser consideradas após a sua trágica morte.

Meses antes, Ayrton havia provado a todos que era, além de piloto espetacular, um ser humano fantástico: fundara o Instituto Ayrton Senna, que até hoje assiste milhares de crianças carentes no Brasil. O mito não deixou filhos, mas deixou milhões de órfãos: uma nação inteira que até hoje chora aquele primeiro de maio, o domingo que não acabou.

PC

-----
VIDEOS:







6 comentários:

  1. Eu era Pequeno,tinha meus 3 anos na Época,tinha tudo do Senninha,lembro que Todos ao Meu redor choravam,e eu,chorando junto.
    O Tempo passou,+ o Ayrton Senna ficou,e sempre vai ficar,Imortalizado em cada 1 de Nossos Corações.
    É Difícil ver 1 vídeo e não derramar lágrimas,É Difícil não lamentar o Vazio que ficou,e sempre vai ficar.
    Hoje fazem 15 Anos sem o Ayrton,que deixam saudades,+ que deixam a certeza de que ele está em 1 lugar melhor,1 lugar que realmente o mereça.

    ResponderExcluir
  2. Se não me engano, o Rubinho conversou com o Senna no hospital (Barrichello também se acidentou nesse fds) e pediu pro Ayrton não correr. Ele tbm pressentiu que algo mto ruim estava por vir.

    Estava agendada para a semana seguinte uma reunião entre os pilotos para discutir a segurança. Ela seria liderada pelo Ayrton. De fato ocorreu a tal reunião, que acabou na associação dos pilotos, liderada pelo Schumacher

    ResponderExcluir
  3. Não me esqueço desse dia...
    Parecia irreal...

    ResponderExcluir
  4. Engraçado que eu só tinha 1 ano, mas percebi que tinha alguma coisa acontecendo, e tenho vagas lembranças, borrões apenas, do ocorrido.

    ResponderExcluir
  5. 23 anos se passaram e ainda dói como se tivesse acontecido hoje...

    ResponderExcluir

Regras para postar comentários:

I. Os comentários devem se ater ao assunto do post, preferencialmente. Pense duas vezes antes de publicar um comentário fora do contexto.

II. Os comentários devem ser relevantes, isto é, devem acrescentar informação útil ao post ou ao debate em questão.

III. Os comentários devem ser sempre respeitosos. É terminantemente proibido debochar, ofender, insultar e/ou caluniar quaisquer pessoas e instituições.

IV. Os nomes dos clubes devem ser escritos sempre da maneira correta. Não serão tolerados apelidos pejorativos para as instituições, sejam quais forem.

V. Não é permitido pedir ou publicar números de telefone/Whatsapp, e-mails, redes sociais, etc.

VI. Respeitem a nossa bela Língua Portuguesa, e evitem escrever em CAIXA ALTA.

Os comentários que não respeitem as regras acima poderão ser excluídos ou não, a critério dos moderadores do blog.