A demissão de Muricy

Amigos, o treinador Muricy Ramalho não resistiu à eliminação do São Paulo FC da Libertadores, e foi dispensado pelo clube. O fato de o tricolor paulista ser o atual tricampeão brasileiro sob sua batuta não influenciou os dirigentes são-paulinos. Aliás, eles foram rápidos no gatilho: já anunciaram Ricardo Gomes, o ex-zagueiro do Fluminense e da Seleção, como novo treinador.

Recebi a notícia da demissão de Muricy com tristeza. Não é que eu tenha simpatia pelo São Paulo FC, longe disso. Todos aqui sabem que sou tricolor nato, confesso e hereditário. Para o meu Fluminense, trata-se de uma boa nova: afinal, o SPFC fica enfraquecido. Mas, para o desorganizado futebol brasileiro, é uma péssima e desalentadora notícia. A longevidade de Muricy no cargo parecia mostrar que o tricolor paulista estava atingindo a maturidade dos clubes europeus. Exemplos britânicos: Alex Ferguson está há 23 anos no Manchester United, Arsene Wenger está há 13 no Arsenal. Tudo indicava que Muricy seria o primeiro exemplo de técnico longevo no futebol brasileiro. Ele estava sendo a primeira brisa de profissionalismo em terras tupiniquins! A direção do clube do Morumbi é, sob muitos aspectos, exemplar. Porém, desde ontem, não é mais exemplar no quesito "manutenção do treinador".

O retumbante sucesso do ex-auxiliar de Telê no São Paulo FC não serviu como parâmetro. Amigos, não é todo dia que se conquista um tricampeonato brasileiro consecutivo. Uma simples eliminação em torneio mata-mata foi suficiente para fazer a diretoria do tricolor paulista ignorar os (muitos) acertos de Muricy no comando do clube.

Junto com o cargo de Muricy, se vai a minha esperança de que o exemplo da manutenção são-paulina se espalhasse pelos outros grandes clubes do país. Os dirigentes do futebol tupiniquim continuam míopes. Chamo o problema de miopia do curto prazo, porque a pressão por resultados imediatos acaba prejudicando o planejamento de longo prazo. E isso eu posso garantir, amigos: em futebol o longo prazo é muito mais importante que o curto.

Eu mesmo critiquei, daqui desse espaço, a conduta de Muricy no jogo decisivo contra o Cruzeiro. Afinal, discordei dele na substituição do Washington, e na barração do Hernanes. Considerei, sim, essas atitudes incorretas. Porém, erros pontuais não podem apagar todo um passado vitorioso.

Concluindo estas mal traçadas linhas, deixo meus parabéns a Muricy Ramalho, pela brilhante passagem no São Paulo FC. Também deixo minhas palavras de repúdio à direção são-paulina, que cometeu um erro imperdoável. Mas a bola pune, amigos. Em dezembro, ou quem sabe antes, os dirigentes do Morumbi perceberão o gravíssimo erro que cometeram. Já será tarde demais.

PC