Melancolia no Engenhão

Amigos, o Fluminense está, desde ontem, na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. É a conseqüência natural dos seguidos resultados ruins no certame. A derrota para o Santo André no Estádio Olímpico João Havelange foi apenas a gota d'água que faltava para o copo transbordar.

O jogo foi melancólico para os tricolores. A começar pelo público presente: 4.818 pessoas não lotavam as arquibancadas do Engenhão. Diante de uma platéia assim reduzida, confesso que me senti desanimado. Onde estavam os outros 80 mil da final da Libertadores?

Começando a partida, que tal piorar um pouco as coisas? Wellington Monteiro faz gol contra, com menos de cinco minutos de bola rolando. Mais melancolia. Eu só conseguia me confortar ao olhar a faixa que estava acima de mim, com onze rostos: Castilho, Ricardo Gomes, Edinho, Telê, Didi, Gérson, Rivellino, Romerito, Waldo, Washington e Assis. Nem tinha vontade de voltar a olhar para o campo.

Ontem, Parreira pôs Tartá, e também fez as substituições mais cedo, exatamente como a torcida queria. Mas não adiantou nada: perdemos de novo.

O torcedor, naturalmente, começa a procurar culpados. Infelizmente, o primeiro coro de protesto que ouvi no Engenhão foi uma ofensa a Carlos Alberto Parreira. Pensei em ir embora imediatamente: uma pena que eu tenha desistido da idéia, porque o jogo acabou 1 a 0 mesmo para o Santo André. E eu não teria perdido nada.

Será que só eu vejo que o Parreira não tem culpa alguma? Temos um elenco tão frágil que Ruy - lateral longe de ser uma sumidade - se apresentou na terça-feira, e já foi titular no domingo! Ao olhar para a outra lateral, vemos um único atleta: o garoto João Paulo, longe de estar preparado para assumir tamanha responsabilidade. Zagueiros, temos apenas três: Edcarlos, Luiz Alberto e Cássio, estando os dois primeiros em péssima (e duradoura) fase.

O calvário segue no meio-campo, com jogadores muito limitados tecnicamente (um até fez gol contra ontem). A armação de jogadas recai inteirinha sobre o argentino Darío Conca. Lembro que esta situação ocorreu no segundo semestre do ano passado, e o aguerrido meia não deu conta do recado na ocasião. Não se trata de uma limitação de Conca: é apenas uma característica do seu raçudo futebol - necessitar de companhia na armação. E ainda escutei pós-de-arroz desvairados vibrando com a saída de Thiago Neves, dizendo que o time melhoraria sem ele...

No gol e no ataque, não vejo tantas carências. Ricardo Berna e Fernando Henrique podem não ser nem sombras do que eram Castilho e Paulo Victor, mas não estão abaixo do nível dos arqueiros do futebol brasileiro atual. Fred e os meninos Alan, Maicon e Tartá também não ficam a dever para outros conjuntos de atacantes no mercado. Porém, isso é muito pouco para um clube que deseja conquistar, no mínimo, uma vaga na Libertadores da América. Está bem claro: o problema não é o treinador.

Mas a caça às bruxas aponta Parreira como culpado. Deuses do futebol, perdoem essas criaturas, pois elas não sabem o que dizem. Espero que o presidente Horcades tenha pulso firme para manter o pé-de-uva no cargo. Que ele ignore as pressões por sua demissão, venham de quem vierem. Demitir Parreira seria o cúmulo da estupidez. Deixo aqui uma profecia que eu, mais que tudo e mais que todos, não quero ver cumprida. Se Parreira cair agora, o Fluminense cai em dezembro.

PC