Quatorze contra onze

Amigos, hoje foi uma covardia em São Paulo. O Corinthians entrou no gramado do Pacaembu com quatorze jogadores, e o Fluminense apenas com onze. Jogando com três a menos, até que o Tricolor perdeu de pouco. Olhando por essa perspectiva, o quatro a dois não foi tão ruim assim.

Analisemos a escalação do Sport Club Corinthians Paulista. No gol, Felipe, a muralha. Nas laterais, Alessandro, o falastrão, e André Santos, o sarrafeiro. Na defesa, o xerife Chicão e o Diego. No meio-de-campo, o violento Cristian e os habilidosos Elias e Douglas. No ataque, o Fenômeno Ronaldo e os velozes Jorge Henrique e Dentinho. Nas pontas, os bandeirinhas José Carlos Dias Passos e Gilson Bento Coutinho. Comandando tudo em campo, il Capone Heber Roberto Lopes. Contaram? São quatorze homens. Já o Fluminense, coitadinho, jogou apenas com os onze regulamentares: Ricardo Berna; Mariano, Edcarlos, Cássio e João Paulo; Fabinho, Wellington Monteiro, Diguinho e Conca; Leandro Amaral e Fred.

Este escriba já viu muitas arbitragens ridículas. Já viu pênalti ser marcado e depois desmarcado (Fluminense x CRB, 1998). Já viu gol sem a bola entrar, já viu o jogo seguir depois de a bola entrar. Já viu pênalti inexistente ser marcado, e pênalti claríssimo ser ignorado (Fluminense x LDU, 2008). Mas arbitragem tão tendenciosa quanto a da noite de quarta-feira, ah, este escriba não se recorda de ter visto.

Examinemos o golaço de Conca no segundo tempo. O meia tricolor apanhou a bola no meio-campo, e partiu sozinho para cima. Driblou meio time do Corinthians, invadiu a área e fuzilou para o gol. Olho para o bandeirinha e me espanto: ele estava com a sua bandeira levantada, marcado impedimento. Sim, impedimento. O leitor não leu errado: impedimento em jogada individual. Um roubo descarado, amigos, descaradíssimo. Ainda bem que il Capone teve a perspicácia de ignorar o ato estúpido de seu auxiliar, e validou o tento. O Ramón assistia ao jogo ao meu lado, e fez uma observação interessante. Para o bandeirinha marcar um impedimento tão absurdo, tão fora da regra, ele só poderia estar condicionado a levantar a bandeira sempre que o Flu chegasse na frente dos arcos corintianos. Ele só podia estar mal intencionado.

Voltemos ao primeiro tempo. O Fluminense penetrou perigosamente em três jogadas seguidas, e o bandeirinha (o outro) anulou as três, marcando impedimento. Em uma delas, Fred já havia cabeceado a bola para as redes. Nos três lances, uma semelhança perturbadora: eram impedimentos extremamente difíceis de se analisar. A distância entre os "últimos homens", nos três lances, era menor que cinqüenta centímetros. A dona FIFA recomenda que o jogo siga em caso de dúvida, em benefício do ataque. Mas o auxiliar parece desconhecer a regra, assim como seu companheiro de time, digo, de arbitragem. Resultado: prejuízo tricolor também no primeiro tempo.

Quando o jogo estava 3 a 0 para o Corinthians, o Fluminense começou a reagir. (Muito tardiamente, diga-se de passagem). Conca fez 3 a 1 (na jogada do erro grosseiro explicada acima), e Alan - o príncipe pó-de-arroz - fez 3 a 2.

Amigos, foi uma vitória sensacional do Corinthians. E não me venham dizer que o Fluminense jogava só com onze. Eram onze fanáticos dispostos a vencer ou perecer. O Tricolor cresceu com a desvantagem numérica, e lançou-se todo para o ataque. O provável era que conseguíssemos o empate, e talvez a vitória. O Fluminense fazia um grande segundo tempo. Foi preciso que il Capone, o reforço mais aguardado que um Moisés no Parque São Jorge, fizesse sua grande jogada. Ele expulsou Fred de campo, porque o atacante tricolor xingou o adversário. Ah, que defesa da boa educação e dos bons modos! Il Capone me comoveu, sinceramente. Os jogadores sempre se trataram em campo como "senhor" e "vossa excelência". Um xingamento, um palavrão, é inaceitável na prática do esporte bretão. Tomara que os tribunais desportivos suspendam Fred por 1000 dias.

E então não se interrompeu mais a ascensão corintiana rumo à vitória. Ronaldo fez o quarto gol - um golaço - e decretou o placar final em 4 a 2. E quem é o personagem da quarta-feira? Poderia ser Ronaldo, autor de três gols (um em posição ilegal, um empurrando Cássio, e o terceiro uma pintura). Também pensei em eleger André Santos, o lateral-esquerdo da Seleção, por causa de seu fair-play que fez Diguinho sair de campo sangrando. Felipe, com suas grandes defesas, também merecia o posto. Mas não, não seria justo. Todos os quatorze jogadores do Corinthians, do goleiro a il Capone, são merecedores da homenagem. Portanto, o meu personagem da quarta-feira na verdade são quatorze: os quatorze do Corinthians que derrotaram os onze do Fluminense.

Domingo, tem Fluminense e Santo André. Me lembrei hoje de uma capa da revista de domingo do JB, em 1996, antes ainda do primeiro rebaixamento. É com a mensagem dela que eu me despeço: "REAGE, FLU".


PC

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