Um ano

Amigos, parece que foi ontem, mas hoje se completa um ano. Há exatos 365 dias, nós estávamos no Estádio Mário Filho, cantando, gritando, acreditando, sorrindo, chorando, rezando, e empurrando o Fluminense para a glória suprema da América.

Nove anos antes, nós também estávamos no Maracanã, em uma circunstância bem diferente: a Terceira Divisão. Há torcidas que vão embora do estádio quando o seu clube sofre três gols. Pois bem: o Fluminense sofreu três rebaixamentos, e nós continuamos lá, a apoiá-lo.

Há um ano, fomos recompensados pela insistência, pela teimosia em continuar seguindo o Fluminense Football Club. Após viver o fundo do poço, estávamos delirando de emoção no Mário Filho lotado, aguardando o começo da final da Libertadores da América!

O filme com duração de nove anos passava na cabeça de cada pó-de-arroz. Do caos da série C ao topo da América, eis a maravilhosa jornada tricolor. De Dom Pedro e Anapolina a São Paulo e Boca Juniors. O dia dois de julho de 2008 era o dia da recompensa: as melhores 24 horas de nossas vidas como torcedores.

Amigos, foi um dos grandes dias da história do Fluminense. A torcida tricolor protagonizou a festa mais bonita de todos os tempos. Primeiro, a tempestade de bandeiras e de pó-de-arroz, os pombos tricolores. Depois, os sinalizadores à direita das cabines, escrevendo FLUMINENSE como se a arquibancada fosse uma folha de papel. Quando o escrito se apagou, surgiu outro, como num truque de mágica: FÉ. A desvantagem de dois gols exigia mesmo que tivéssemos fé.

O árbitro Baldassi já prejudicava o Fluminense antes de a bola rolar: atrasou o início do jogo em quinze minutos, como que aguardando a torcida tricolor esfriar. Então, logo no início, Bolaños fez 1 a 0 para a Liga de Quito, aumentando a vantagem equatoriana para três gols. Golpe duríssimo nas nossas esperanças. Porém, o que eu ouvi dez segundos depois eu nunca mais esquecerei.

"O dale dale dale dale dale Fluminense!
O dale dale dale dale dale Tricolor!
Há tantos anos juntos na vitória e na derrota!
Mas a certeza é que eu nunca vou te abandonar!
Eu canto NENSE quando o time vai bem!
Eu canto NENSE quando o time vai mal!
Um gol sofrido não vai me abater!
NÃO VOU PARAR DE CANTAR!"

A nossa torcida não havia desistido. Nós iríamos até o fim, a qualquer custo. Os jogadores em campo entenderam a mensagem das arquibancadas. E, a partir daí, o Fluminense fez uma exibição perfeita, irretocável. Lutou com a alma indomável do campeão, apresentando ímpeto, garra e paixão inexcedíveis. Thiago Neves assombrou o Maracanã: o camisa 10 teve uma atuação que o próprio Pelé assinaria, sem hesitar.

Ele fez o primeiro, ele fez o segundo e ele fez o terceiro. Aos 12 minutos do segundo tempo, a finalíssima estava empatada. Só faltava um tento tricolor para o capitão Luiz Alberto erguer aquele pedaço de metal à beira do campo.

Infelizmente, não conseguimos o sagrado gol do título. Um dos principais responsáveis por isso é o já citado juiz argentino Baldassi, que ignorou um pênalti em Washington (foto), outro em Cícero, e ainda foi conivente com a cera do goleiro Cevallos.


E assim fomos para os pênaltis. A partir daí, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três cobranças, e a Liga só perdeu uma. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo. Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo. Futebol é futebol e não tem nada de futebol quando a vitória se vai decidir no puro azar. Ah, não foi só loteria não: o juiz-ladrão conseguiu prejudicar o Fluminense até na disputa. A atitude de Cevallos ao abandonar o gol na cobrança de Thiago Neves deveria ter rendido a expulsão do arqueiro, além da validação do gol. Maldita seja a arbitragem tendenciosa de Hector Baldassi.

Maldito seja também o regulamento contraditório, que classificou a Liga nas fases anteriores, mas não a eliminou na grande final. Maldita seja a injustiça do futebol, que não deu a quem merecia o que merecia. O Fluminense tinha a melhor campanha, eliminara os melhores adversários, e portanto era o merecedor do troféu.

Como definir aquele dois de julho? Um amigo diz: "um dia para esquecer para sempre e lembrar para sempre". Outro prefere comentar: "não ganhamos porque não existe perfeição". Na minha opinião, a melhor definição é a de Nelson Rodrigues. Os idiotas da objetividade me garantem que ele estava sete palmos abaixo da terra. Eu garanto que não. O Fluminense precisava de número, de modo que os vivos e também os mortos subiram as rampas do Maracanã. Os vivos saíram de suas casas e os mortos de suas tumbas. A morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos. Portanto, o profeta tricolor estava lá, entre nós. E então ele disse a frase que ficou, fica e ficará para sempre na memória de todos: "Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. Podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos!".


Encerro a crônica com uma profecia: tricolores, acreditem. Um dia nós estaremos lá de novo. E então poderemos vibrar de emoção, com o título que já é nosso de direito. Desde 2 de julho e para sempre.

PC

Vídeo de homenagem aos heróis de dois de julho: