O gol perdido

Amigos, aquela era a bola do jogo. O placar marcava dois para o Vitória, e também dois para o Fluminense. Os baianos haviam feito 1 a 0, os tricolores haviam virado para 2 a 1, e os baianos haviam empatado logo em seguida. Costumo escrever aqui, parafraseando o eterno Nelson Rodrigues, que o empate é a derrota mútua das duas equipes. Especialmente no campeonato de pontos corridos, a vitória deve ser sempre o objetivo. Afinal, três pontos valem bem mais que um.

Pois bem, dizia eu no começo que aquela era a bola do jogo. Referia-me ao rebote do goleiro Gléguer, em chute de Marquinho, de fora da área. A pelota sobrou nos pés de Edcarlos, pedindo, implorando: "me empurre para as redes, por favor, me empurre para as redes, por favor!". "É o gol mais feito de todos os tempos!", exagerou o meu irmão, à frente da televisão. Eu já vibrava por antecipação, afinal era impossível desperdiçar aquela chance.

Mas o zagueiro tricolor conseguiu a proeza: chutou em cima de Gléguer, e a bola saiu pela linha de fundo. Ali, naquela chance perdida, naquela oportunidade jogada fora, o Fluminense deixou escapar os preciosos três pontos.

Houve outras chances perdidas, sim. Por exemplo, aquele bate-e-rebate no último minuto bem que poderia ter resultado no gol da doce e santa vitória. Ou então o chute de Roni que estourou na trave do Barradão. Mas a melhor oportunidade foi mesmo aquela do Edcarlos. O arco do Vitória estava aberto, escancarado, arreganhado, pronto para ser furiosamente arrombado. Mas o defensor pó-de-arroz conseguiu perder o gol.

Dentre os vinte e dois jogadores em campo, mais os reservas que entraram, precisei escolher o meu personagem do domingo. Os candidatos naturais eram Luiz Alberto e Roni, autores dos gols do Fluminense; e Apodi, grande destaque do Vitória da Bahia. Mas, diante daquele lance surreal, eu não poderia escolher outra figura, que não a de Edcarlos.

Por ter perdido o gol mais feito desde a Arca de Noé, o cabeludo defensor tricolor provou que merece o ilustre posto. Edcarlos, você é o meu personagem do domingo.

Paulo Cezar Filho