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sábado, 31 de outubro de 2009

Craque - Juvenal



Em 27 de novembro de 1923, nascia Juvenal Amarijo, na pequena cidade de Santa Vitória do Palmar, extremo sul do país (apenas Chuí fica mais ao sul). A família não sabia disso, mas estava diante de um cidadão que faria história, encantando multidões.

Infelizmente, Juvenal faleceu ontem, 30 de outubro de 2009, na absoluta miséria. Os jornais e sites estão fazendo mini-biografias, lamentando a condição triste na qual Juvenal viveu seus últimos anos, em Camaçari, na Bahia. Ele lutava contra uma artrose no joelho direito, e vivia amparado financeiramente por vizinhos bondosos. Eu prefiro relembrar seus tempos de jogador. Penso que Juvenal prefere ser lembrado por sua carreira.

Numa época em que as cifras do futebol tinham muito menos zeros do que hoje, Juvenal resolveu viver da bola. Em 1943, iniciou sua carreira profissional, como zagueiro do Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre. Lá jogou até 1948, quando se transferiu para o Flamengo. Em 1950, estreou na Seleção Brasileira. O jogo foi em São Januário, no dia 07/05, contra o Paraguai, pela Taça Osvaldo Cruz. O Brasil, do técnico Flávio Costa, formou com Castilho; Nilton Santos e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Maneca, Baltazar, Pinga e Rodrigues. Com dois gols de Pinga, um em cada tempo, o escrete venceu por 2 a 0.

Seis dias depois (dia 13/05), Juvenal voltou a atuar na Seleção, no segundo jogo da Taça Osvaldo Cruz, dessa vez no Pacaembu, contra o mesmo Paraguai. O Brasil formou com Castilho; Juvenal e Nena; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Maneca, Baltazar, Pinga e Rodrigues. O jogo terminou 3 a 3, e Juvenal conquistou seu primeiro título com o escrete.

Os preparativos para a Copa do Mundo, que seria disputada em solo nacional, seguiam a todo vapor. No dia seguinte (14/05), já estava o escrete novamente no campo de São Januário, para a disputa da Copa Rio Branco, contra o Uruguai. Como Juvenal jogara na véspera, entrou apenas no segundo tempo, no lugar do são-paulino Mauro. A Seleção venceu por 3 a 2.

Quatro dias depois (18/05), o Brasil vencia o Uruguai novamente, por 1 a 0, em São Januário. Flávio Costa escalou a Seleção assim: Barbosa; Nilton Santos e Juvenal; Eli, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Baltazar, Ademir e Chico. O gol de Ademir, no segundo tempo, deu mais um título à Seleção. O segundo caneco de Juvenal com a camisa do escrete.

Abro um parêntese: essas escalações antigas causam em mim uma profunda nostalgia. Não vi nenhum desses craques jogar. Não tive esse privilégio. Mas um arrepio irrompe das profundezas do meu ser, sempre que vejo essas constelações expostas em 2-3-5. Fecha parêntese, porque vem aí a Copa do Mundo.

*O pôster da Copa de 1950.*

24 de junho de 1950. Pela primeira vez na história, a Seleção Brasileira jogava no Estádio do Maracanã. Era a estréia na Copa do Mundo. Flávio Costa assim a escalou: Barbosa; Augusto e Juvenal; Eli, Danilo e Bigode; Maneca, Ademir, Baltazar, Jair e Friaça. Do outro lado, o México do goleiro Carbajal. Foi um massacre: 4 a 0, gols de Ademir, Jair, Baltazar e Ademir de novo.

28 de junho de 1950. Jogo contra a Suíça de Bickel e Fatton no Pacaembu. Eis o escrete que jogou em São Paulo: Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Rui e Noronha; Alfredo II, Maneca, Baltazar, Ademir e Friaça. Alfredo II e Baltazar marcaram para o Brasil, mas Fatton fez dois para a Suíça. O empate em 2 a 2 era um tropeço inesperado, mas não interromperia a ascensão daquele time maravilhoso.

Primeiro de julho de 1950. Na volta ao Maracanã, 2 a 0 na Iugoslávia, gols de Ademir e Zizinho. Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico entraram em campo.

9 de julho de 1950. O Maracanã receberia a maior goleada da Copa: 7 a 1 na Suécia. Foram quatro gols de Ademir, dois de Chico e um de Maneca. Aos suecos, restou um gol de pênalti (Andersson). A escalação: Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

13 de julho de 1950. A Espanha não conseguiu fazer frente à estrepitosa Seleção Brasileira. Foi mais um massacre: 6 a 1. Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Ademir (2), Chico (2), Jair e Zizinho marcaram os gols brasileiros; Igoa marcou o tento espanhol.

16 de julho de 1950. Era o grande dia. O Maracanã proclamaria o campeão mundial de futebol. Brasil e Uruguai decidiriam a Copa do Mundo, com vantagem do empate para a Seleção Brasileira. Flávio Costa mandou o seguinte onze a campo: Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Já a Celeste entrou em campo com: Máspoli; Matias González e Tejera; Gambetta, Obdulio Varela e Rodríguez Andrade; Ghiggia, Júlio Pérez, Míguez, Juan Schiaffino e Morán.

Já no começo do segundo tempo, Friaça abre o placar para o Brasil. Como o empate já era brasileiro, começou a euforia do triunfo. Cedo demais, como Juan Schiaffino e Ghiggia provariam. Foi a derrota mais doída da história da Seleção. Já ganhamos cinco Copas do Mundo, mas a ferida de 1950 nunca sarou. Não vai sarar jamais.


*A Seleção Brasileira vice-campeã mundial de 1950.*
Em pé: Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode.
Agachados: Johnson (massagista), Friaça, Zizinho, Ademir, Jair, Chico e Mário Américo (massagista).

O trauma foi tão grande que a Seleção só voltaria a campo em 1952, já sem Barbosa, Augusto e Juvenal, substituídos por Castilho, Pinheiro e Nilton Santos. Assim, Juvenal teve apenas dez atuações oficiais pela Seleção, todas no fatídico ano de 1950. (houve também um jogo não-oficial, contra a Seleção Paulista de Novos)

A redenção de Juvenal viria um ano e seis dias depois da derrota para o Uruguai, já atuando pelo Palmeiras. 22 de julho de 1951: no mesmo Maracanã, o campeão paulista disputava com a campeã italiana Juventus a final da Copa Rio, o Mundial Interclubes da época. O Palmeiras, escalado por Ventura Cambon, entrou em campo com Fábio; Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce de León, Liminha, Jair e Rodrigues. Já a Juventus do técnico Carver jogou com Giovanni Viola; Bertucceli e Manente; Mari, Parola e Bizzoto; Miccinelli, Karl Hansen, Boniperti, Johan Hansen e Praest. Com o empate em 2 a 2, diante de 100.000 pessoas, o Palmeiras se sagrou campeão mundial interclubes.

*Palmeiras campeão mundial de 1951*
(Juvenal destacado)
(a foto é da semifinal contra o Vasco, no Maracanã)
Em pé: Salvador, Dema, Túlio, Juvenal, Fábio e Luís Villa.
Agachados: Liminha, Ponce de León, Richard, Jair e Rodrigues.

Em 1954, Juvenal se mudou para a Bahia, onde viveria pelo resto da vida. Atuou pelo Bahia e pelo Ypiranga, antes de se aposentar, em 1959. Ele parou de jogar, mas seus desarmes e passes são eternos. Juvenal Amarijo viverá para sempre na memória do torcedor brasileiro. Um ídolo não morre jamais. Parabéns, Juvenal! Descanse em paz.

PC

Fontes:
[2] "Enciclopédia da Seleção 1914-2002" (Ivan Soter).

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