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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Craque - Mané Garrincha



"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."
(Carlos Drummond de Andrade, no Jornal do Brasil de 21/01/1983)

Pau Grande (Magé/RJ), 28 de outubro de 1933.

Nasce, em família pobre, Manuel Francisco dos Santos. Um de seus quinze irmãos apelidou-o de Garrincha, nome de um passarinho comum na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.

Garrincha-da-chuva (Thryothorus Coraya)

Garrincha tinha a perna esquerda seis centímetros mais curta que a direita. A distrofia o fazia curvar as pernas quando ficava de pé, o que lhe renderia mais um apelido: o Anjo das Pernas Tortas.

Aos 14 anos, o menino já demonstrava muito talento para o futebol, nas partidas do Esporte Clube de Pau Grande. Atraiu a atenção de Arati, ex-jogador do Botafogo, que o levou para o Serrano, onde iniciou a carreira profissional. Em 1953, fez o seu primeiro treino no Botafogo, clube em que se consagraria como craque. Reza a lenda que, nos primeiros minutos desse treino, ele teria driblado diversas vezes o então lateral-esquerdo do time titular. O nome desse lateral-esquerdo? Nilton Santos, já na época considerado um dos melhores jogadores brasileiros. "A Enciclopédia" exigiu que a diretoria alvinegra contratasse Garrincha imediatamente.

O drible era a principal característica de seu futebol moleque. O faz-que-vai-mas-não-vai, inventado por Romeu Pelliciari na década de 30, foi absorvido e melhorado por Garrincha. Os "joões" que tentavam marcá-lo iam à loucura com sua ginga impressionante. É até hoje considerado unanimemente como o maior driblador da história do futebol mundial.

Na Seleção Brasileira, estreou em 18/09/1955 (Brasil 1 x 1 Chile, no Maracanã, pela Taça Bernardo O'Higgins). Jogou as três Copas do Mundo seguintes: foi campeão em 1958, foi campeão como protagonista em 1962, e também participou da campanha de 1966, quando se despediu do escrete. Garrincha é dono de uma estatística assustadora: a Seleção Brasileira não perdeu sequer um jogo com ele e Pelé juntos em campo.

Mesmo na Seleção, Garrincha nunca abandonava seu jeito irreverente de jogar. Voltava a driblar o oponente em um mesmo lance, ainda que fosse desnecessário, apenas pela brincadeira de driblar. Essa mania de divertir a si e à população rendeu-lhe mais um apelido: Alegria do Povo.

Garrincha teve passagens curtas por diversos clubes (Serrano, Corinthians, Vasco, Alecrim/RN, Atlético Junior-COL, Flamengo e Olaria), mas sua carreira ficou marcada mesmo pelo Botafogo. Foram 614 partidas pelo clube da Estrela Solitária, nas quais Garrincha assinalou 245 gols, entre 1953 e 1965. Ao lado de Nilton Santos, é considerado o maior ídolo da história alvinegra. Pelo Botafogo, conquistou três Campeonatos Cariocas (1957, 1961 e 1962) e dois Torneios Rio-São Paulo (1962 e 1964).

Infelizmente, Garrincha acabou vencido pelo alcoolismo, vindo a falecer precocemente, em 20 de janeiro de 1983, no Rio de Janeiro. Seu enterro foi acompanhado por milhares de fãs.

Hoje, um estádio recebe seu nome, em Brasília. Há também dois bustos seus, um na sede do Botafogo em General Severiano, e outro na rampa do Bellini, no Estádio do Maracanã. A torcida do Botafogo sempre leva aos estádios um pavilhão alvinegro com o desenho do rosto de Garrincha.

Dois filmes já foram gravados em homenagem ao gênio: "Garrincha, Alegria do Povo" (1962) e "Garrincha - Estrela Solitária" (2003). Ruy Castro escreveu a biografia "Estrela Solitária: um Brasileiro chamado Garrincha", que este escriba recomenda fortemente aos amantes do futebol.

Para encerrar o post com chave de ouro, recomendo o vídeo abaixo, compilação de jogadas maravilhosas do Anjo das Pernas Tortas.

PC

4 comentários:

  1. Ídolo, gênio, imortal. Lamento não ter nascido antes pra poder tê-lo visto jogar. Meu maior ídolo no futebol.

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  2. Eu, como fã do drible fácil, não posso deixar de idolatrar Garrincha.

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  3. O Amarildo costuma caminhar no Maracanã aos domingos. Numa dessas andanças, ele disse que o Garrincha jogava sempre no mesmo ritmo, seja contra o Friburguense ou o Flamengo.Garrincha é um dos jogadores mais injustiçados da história do futebol. É o único homem do mesmo nível do Pelé. E mesmo assim, é menos lembrado que Ronaldos Travecos e Zidanes Chifrudos.

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  4. Concordo, Garrincha é um jogador de talento "doentio", sua habilidade para o drible é colossal. Compará-lo a Ronaldo Traveco é heresia.
    Sou muito fã do Romário, mas em uma dessas entrevistas ele falou besteira. Disse ser o 03 da história atrás apenas de Pelé e Maradona. Herege!!! Tenho minhas dúvidas se o Garrincha não era melhor que o Pelé...melhor que o Maradona ele era com certeza!!!

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