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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Recordar é viver - A mão de Wilton

Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968.

Amigos, os idiotas da objetividade rosnam: Foi roubado! Foi roubado! O Flamengo foi roubado!. Eles escolhem ignorar os fatos: o Fluminense foi melhor, muito melhor. E venceria com ou sem ajuda da arbitragem. Ganharia até mesmo se fosse ele próprio roubado.

Vamos à descrição do polêmico lance que eternizou o Fla-Flu do Campeonato Brasileiro de 1968. Eram decorridos treze minutos do primeiro tempo. O ponta-direita tricolor Wilton, arisco e velocíssimo, recebeu um lançamento em profundidade. Ao descrever Wilton, o Profeta sempre afirmava: o garoto corre mais do que um coelhinho de desenho animado. E corre mesmo, tanto que conseguiu ultrapassar seu marcador, em sua velocidade fulminante. Por um capricho do destino, Marco Aurélio, o arqueiro rubro-negro, saíra bem do gol, e agarraria a bola com tranquilidade.

Foi então que Wilton utilizou o único recurso possível: usou a mão para tirar a bola do alcance de Marco Aurélio. Perfeito lance de basquete!, diria o Profeta. Armando Marques, o melhor árbitro brasileiro, não viu. E então o extrema tricolor pôde, com sublime descaro, enfiar a bola nas redes flamengas. Fluminense 1 a 0.

Um amigo rubro-negro amplia o erro da arbitragem: Ele estava impedido! Impedido!. Somos obrigados a concordar: Wilton estava impedido. Uma banheira digna de Cleópatra!, como diria o Profeta. Gol de mão, e em impedimento. O tento decisivo do Fla-Flu é talvez o mais ilegal da história passada, presente e futura do Maracanã.

Os flamenguistas não se conformam: como pode Armando Marques, com aquele gordo salário, ser tão míope a ponto de não enxergar uma evidência tão estarrecedora? Revoltados, eles insinuam duas hipóteses estapafúrdias: má-fé ou incompetência. Prefiro a versão do Profeta: a boa-fé e a competência de Armando Marques estão acima de qualquer dúvida. Somente uma coisa o justifica e absolve: a invisibilidade do óbvio. Ninguém enxerga o óbvio. Nem mesmo o melhor árbitro brasileiro.

PC
(a crônica foi publicada também no Pavilhão Tricolor)


(Singela homenagem deste escriba a Wilton César Xavier, um dos jogadores mais vitoriosos da história do Fluminense. Pelo Tricolor, Wilton conquistou o Campeonato Brasileiro de 1970, os Campeonatos Cariocas de 1969, 1971, 1973 e 1975, e as Taças Guanabara de 1969 e 1971. Em 194 jogos envergando a camisa do Fluminense, Wilton venceu 106, empatou 43 e perdeu 45. Marcou 19 gols, dentre eles o famoso "gol de mão" aqui descrito. Defendeu também São Paulo, Santa Cruz, Coritiba e Vitória, e chegou a trabalhar como treinador do Volta Redonda. Wilton faleceu neste último domingo, aos 62 anos. O Fluminense celeste ganha um reforço de peso.)

Ficha Técnica: Fluminense 1 x 0 Flamengo.
Campeonato Brasileiro de 1968.
Data: 13/10/1968.
Local: Maracanã (Rio de Janeiro).
Público: 43.772 presentes (29.558 pagantes).
Renda: NCr$ 72.992,25.
Fluminense: Félix; Nélio, Galhardo, Assis e Altair; Cláudio Garcia e Suingue; Wilton, Aguinaldo (Salvador), Samarone (Lula) e Serginho. Técnico: Evaristo de Macedo.
Flamengo: Marco Aurélio; Murilo, Onça, Guilherme e Tinho; Carlinhos (Cardosinho) e Liminha; Gilbert (Neviton), Fio, Silva e Arilson. Técnico: Walter Miraglia.
Árbitro: Armando Marques.
Gol: Wilton, aos 13' do primeiro tempo.

Fontes de pesquisa:
[1] "A invisibilidade do óbvio" (Nelson Rodrigues, O Globo, 26/10/1968).
[4] "O nome dele era Wilton" (Lédio Carmona).

20 comentários:

  1. Esse lance deve ter sido hilário...

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  2. Gol irregular contra o Flamengo vale por dois.

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  3. 1 Terça, 15 Dezembro 2009 01:51 Bruno Leonardo

    Acho que o Wilton falhou no lance, porque ele deveria ter sido ainda mais acintoso ao tocar na bola com a mão!

    Ao craque Wilton, o meu mais sincero agradecimento por ter honrado tanto o manto tricolor! Que descanse em paz!

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  4. 2 Quarta, 16 Dezembro 2009 08:49 Marco Aquino
    É rapaziada, eu estava lá.


    Foi um lançamento longo, e na dividida com o goleiro do Flamengo, ele deu um tapa na bola, desviando a trajetória e então tocou para o gol, sem comemorar.

    Depois que ele viu o juiz apontando para o meio de campo é que o Wilton comemorou.

    Uma curiosidade no time do Flamengo. O Neviton deveria se chamar Newton, e para registrá-lo, o pai levou o nome anotado e deu o a anotação para o cartório. O que era um W se tornou um VI.

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  5. O time do pai do Neviton eu não sei, já o time do cara do cartório não é difícil deduzir...

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  6. meu avô, grande homem, grande jogador, muitas saudades, descanse em paz

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    1. Felipe, tenha muito orgulho do teu avô. Foi um dos grandes da história do Fluminense, o que não é pouco.

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  7. Pois se tivesse sido ao contrário... tavam chorando até hoje.

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    1. Você escreve isso como se vocês não "chorassem" esse lance do Wilton até hoje... rsrsrsrs...

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  8. Grande Wilton! Vibrei muito com suas atuações pelo Fluminense. E mais: ele e Cafuringa, que Deus os tenha, revezavam-se como titular como faziam Tato e Paulinho. Eles eram excelentes jogadores!

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    1. Dois craques históricos do Fluminense: Wilton e Cafuringa. Campeoníssimos!

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  11. Esta crônica é do incomparável Nelson Rodrigues. Nesse dia13/10/1968, cheguei em casa e assisti a Resenha Facit, com Nelson, Scassa( o rubro-negro furioso), Armando Marques e outros. Bom demais!

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    1. Esta crônica não é do Nelson, não. É minha mesmo. :)

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  12. Prezado amigo PC bom dia
    Você tem o poster do Fluminense deste jogo? Bem a minha pergunta é pelo fato de que encontrei um poster como sendo deste jogo, aí como é de praxe fui confrontar os jogadores que estão na foto e os que constam na ficha técnica. Tudo bateu com exceção de um atleta. Na foto está o jogador Salvador, só que na ficha técnica consta como titular o jogador Aguinaldo. Você pode esclarecer isso pra mim? Visto que você tem todas informações a respeito do futebol brasileiro. Fico no aguardo. Meu e-mail é: lourencocamelo1@hotmail.com Um abraço. Lourenço Camelo

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  13. amigo, nestte jogo que foi o titular foi o Agnaldo,o Salvador estava machucado.

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  15. Belo texto. Apesar de discordar de alguns exageros (sou rubro-negro) ele me fez lembrar daqueles tempos em que o futebol era retratado pela imprensa de uma forma mais poética. Nelson Rodrigues o assinaria, com certeza. Uma correção apenas: eu estava atrás do gol, e assiti a este sonolento jogo com a sensação de que, se não fosse a mão do Wilton, terminaria 0x0. Os dois times estavam mal na tabela e terminaram em 6o. (Flu) e 8o. lugar (Fla) em seus grupos...

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