Sobre a venda de Maicon

Amigos, já que percebi muita desinformação em fóruns do Fluminense na internet, venho aqui esclarecer a vocês como se deu a venda de Maicon ao futebol russo. Advertência: leia com um balde ao lado, por precaução.

Primeira pergunta: Quais eram os termos do contrato de Maicon com o Fluminense?

Resposta: A duração do contrato era até junho de 2012, com 50% dos direitos do Fluminense, e 50% dos direitos da Traffic (empresa parceira do clube). A multa rescisória era de 8,5 milhões de euros. Isto significa que um clube interessado em levar Maicon precisaria pagar 8,5 milhões de euros para tirá-lo do Fluminense. O valor é razoável, tendo em vista outras transferências recentes do futebol brasileiro (o Vasco vendeu Alex Teixeira por 6 milhões de euros, e o Grêmio vendeu Douglas Costa por 7 milhões de euros - ambos foram para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia).

Segunda pergunta: Maicon recebeu alguma proposta européia no final do ano passado?

Resposta: Sim. O Lokomotiv de Moscou, um dos cinco grandes clubes russos, ofereceu 4,5 milhões de euros para comprar os direitos de Maicon. Fluminense e Traffic recusaram a oferta, uma vez que ela não chegava sequer perto da multa rescisória, que obrigaria a liberação do atleta.

Terceira pergunta: Quanto Maicon ganhava no Fluminense?

Resposta: Até 2009, o salário do atleta era de R$ 15.000,00, pagos integralmente pelo clube. Em reconhecimento ao seu excelente desempenho na arrancada miraculosa, o Fluminense aumentou os rendimentos do atleta para R$ 25.000,00, mais R$ 9.000,00 pagos pela Unimed (patrocinadora do clube), totalizando R$ 34.000,00. O atleta, evidentemente, ficou muito feliz com o aumento, ainda mais porque sempre se disse tricolor desde criancinha.

Quarta pergunta: Por que a Traffic detinha 50% dos direitos de Maicon?

Resposta: A divisão dos direitos de Maicon se deu em um acordo, no início de 2009. A Traffic comprou o passe do atleta Darío Conca para o Fluminense (valor de 2 milhões de euros); e em troca o Fluminense cedeu parte dos direitos dos atletas Maicon, Alan e Tartá.

Quinta pergunta: Se a proposta de dezembro foi recusada, por que Fluminense e Traffic resolveram vender Maicon agora?

Resposta: Essa é uma questão difícil. A nova proposta do Lokomotiv foi de 4 milhões de euros (é difícil de acreditar, mas sim, a proposta foi menor que a de dezembro). Desta vez, entretanto, o clube resolveu aceitar a oferta. Provavelmente, houve muita pressão interna, uma vez que os salários se encontram atrasados há dois meses, e o Fluminense já tem todas as receitas de 2010 antecipadamente comprometidas. Reparem que o valor não chega nem à metade da multa rescisória.

Sexta pergunta: A Traffic investiu 2 milhões de euros para comprar o Conca para o Flu, e agora recebeu 2 milhões de euros por sua parte na venda do Maicon. Já recuperaram o investimento, e ainda ganharam de brinde parte dos direitos de Alan e Tartá. É isso mesmo?

Resposta: É. (o balde está aí ao lado, né?)

Sétima pergunta: A transferência pelo menos será boa para o Maicon?

Resposta: Não tenho bola de cristal para ler o futuro. Mas cito exemplos recentes de transferências de brasileiros para Rússia e Ucrânia. O leitor terá capacidade de formar uma opinião:

- em 2003, o Internacional vendeu o promissor atacante Daniel Carvalho, campeão mundial sub-20 pela Seleção Brasileira, para o CSKA de Moscou (Rússia). Após quatro anos na Rússia (com esporádicas convocações para a Seleção principal, até 2006), Daniel voltou ao Colorado, emprestado, em 2008. Foi recentemente vendido ao Al Arabi, do Qatar.

- em 2004, o Fluminense vendeu o promissor zagueiro Rodolfo, integrante da Seleção Brasileira Pré-Olímpica de 2004, ao Dinamo de Kiev (Ucrânia). Desde então, ele não foi convocado para a Seleção. Em 2007, transferiu-se para o Lokomotiv de Moscou. O tricolor da Rússia - curiosamente o clube é verde, branco e vermelho - agora contará com dois ex-tricolores (Rodolfo e Maicon).

- em 2004, o Palmeiras vendeu o promissor atacante Vagner Love ao CSKA de Moscou (Rússia). Apesar do relativo sucesso no futebol local, as convocações para a Seleção passaram a ser esporádicas. Em 2009, voltou ao Palmeiras, por empréstimo. Agora, está novamente emprestado, ao Flamengo.

- em 2005, o Santos vendeu Elano, um de seus maiores ídolos recentes, para o Shakhtar Donetsk (Ucrânia). Em 2007, ele se transferiu para o Manchester City (Inglaterra), e desde 2009 defende o Galatasaray (Turquia). Apesar da pouca expressão internacional dos clubes defendidos, pode-se dizer que Elano teve algum sucesso, uma vez que é titular da Seleção Brasileira de Dunga.

- em 2005, o Corinthians vendeu o jovem atacante Jô ao CSKA de Moscou (Rússia). Apesar de Jô ter alguma história nas seleções de base, foi pouquíssimas vezes convocado para a Seleção principal. Em 2008, transferiu-se para o Manchester City (Inglaterra). Em 2009, o City o emprestou para o Everton (Inglaterra), e em 2010 foi feito novo empréstimo, para o Galatasaray (Turquia).

- um contra-exemplo pra terminar: em 2006, o Fluminense recebeu proposta do CSKA de Moscou para vender o lateral-esquerdo Marcelo. O Tricolor estava disposto a aceitar a oferta baixa. O negócio só não foi fechado porque o jogador não quis. Meses depois, pelo dobro do valor, ele foi contratado pelo Real Madrid (Espanha), clube no qual é titular absoluto da posição.

Ano que vem, é Wellington Silva que irá embora precocemente. Depois, será João, depois José, depois Pedro. Enquanto isso, a dívida do Fluminense - já enorme - só faz aumentar. E os resultados em campo não são nem sombra do que já foram um dia...

O futebol brasileiro sangra em sua base. A hemorragia precisa parar...

PC