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sábado, 22 de maio de 2010

A campeã Internazionale da Europa

(Il Ponte de Argenteuil, Claude Monet)

Amigos, examinei a escalação da Internazionale de Milão, campeã européia hoje em Madrid, e levei um susto. Vejamos: Júlio César; Maicon, Lúcio, Samuel e Chivu; Zanetti, Sneijder, Cambiasso e Pandev; Eto'o e Diego Milito. Nos onze nomes, encontramos quatro argentinos, três brasileiros, um romeno, um holandês, um macedônio e um camaronês. O técnico é o português José Mourinho. Durante o jogo, entraram o sérvio Stankovic e o ganês Muntari. Pergunto: Milão não fica na Itália? Onde estão os Baggio, os Schillaci, os Domenicali, os Ferrari? Nunca, em todos os tempos, a Internazionale fez tanta justiça ao próprio nome. É um autêntico e inegável escrete internacional. Não há nem sequer um italianinho para contar a história. Aliás, minto: aos 47 minutos do segundo tempo, entrou Materazzi, zagueiro mais conhecido por provocar Zidane que por seu talento futebolístico.

Tento imaginar a Torre de Babel que é o vestiário da Internazionale. Será que Mourinho dá suas instruções em português? Será que os brasileiros conversam em português? Será que os argentinos falam espanhol? Será que Chivu e Pandev trocam farpas em romeno e macedônio? (Dúvida: que língua se fala na Macedônia? Às vezes sinto que certos países são mais distantes que a Lua. A Macedônia, então, me parece mais distante que Engenho de Dentro.)

Hoje, a Internazionale venceu o Bayern de Munique por 2 a 0, em Madrid, e sagrou-se campeã européia pela terceira vez. Os dois gols foram do argentino Diego Milito, que pelo menos nome de italiano tem. O segundo tento foi antológico, um drible desconcertante, uma pintura digna de Claude Monet, como a foto que ilustra este texto. (Desculpem-me, já citei tantas nacionalidades, que era praticamente obrigatório citar um francês - Zidane eu considero argelino. Agora falta um inglês.)

Essas verdadeiras seleções mundiais dão gosto de ver, mas me pergunto se os clubes que as possuem não estão dando um tiro no pé. Que chance um novo talento italiano tem de entrar num time como esse da Internazionale? O sujeito precisa ser um gênio e, mais que isso, precisa que o técnico enxergue nele um gênio. A conclusão óbvia é: a Europa produzirá cada vez menos craques. Daqui a vinte anos, a Copa do Mundo provavelmente será decidida por Brasil e Argentina, com seus craques exportados para o Velho Continente, lá tomando as vagas dos nativos.

Se querem saber, nem mesmo nos times de base os garotos europeus estão tendo mais espaço. Vejam o exemplo do camaronês Eto'o, bicampeão hoje (ano passado, vencera a Liga pelo Barcelona). Aos 16 anos, ele já estava no Real Madrid, tomando o lugar de um espanholzinho. Ano que vem, aos 18, o brasileiro Wellington Silva, do Fluminense, tomará o lugar de um Smith da vida nos aspirantes do Arsenal. (Com Smith, cumpro minha obrigação de citar um conterrâneo da Rainha.)

Antes ainda de Wellington, outro jovem brasileiro chegará à Europa para jogar bola: aos 18 anos, o vascaíno Philippe Coutinho se juntará à campeã Internazionale. Menos um italiano terá sua chance. Quando perceberão que a presença maciça da legião estrangeira aos poucos mata o futebol italiano?

São tantos sul-americanos no elenco que se pode dizer que a Internazionale nunca joga em casa. Não dá para chamar Milão de casa, se não há italiano no time. O Estádio San Siro, ou Giuseppe Meazza, como for, não é mais a casa da Internazionale. Se um dia os nerazzurri vierem jogar no nosso Maracanã, aqui no Rio de Janeiro, quem sabe finalmente a Internazionale voltará a sentir o gostinho de ser anfitriã.

PC

5 comentários:

  1. Eles estão mesmo matando seu futebol.
    A seleção da Itália tá velha, dificilmente consegue alguma coisa na Copa.

    A Espanha, por outro lado, cresceu. Foi só Real Madrid (a Inter de antes) e Barça aumentarem o contingente espanhol em seus elencos que sua seleção melhorou.

    Pedro e Jeffren são dois craques garotos e espanhóis do time catalão, coisa qua há algum tempo seria impensável. Os meninos prodígios de 4 anos atrás eram Messi (argentino) e Giovani dos Santos (meio brasileiro, meio mexicano).

    Qual era o grau de favoritismo da Espanha em 2006? E hoje?

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  2. Os jogadores sempre se comunicam na língua do país do clube. No caso, o italiano. O mais irônico nisso é que a Itália é a atual campeã mundial e mais de 90% dos jogadores da seleção jogam no país de origem.

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  3. Meu amigo, a Europa entrou na era global há muito tempo e o futebol teria que se globalizar, tal como as propostas culturais, artísticas e científicas. Por exemplo, a Europa beneficia dos grandes futebolistas sul-americanos e os EUA beneficiam dos grandes cientistas europeus e asiáticos.

    O mundo vive cada vez mais do convívio da diversidade, e dessa diversidade tira proveito. Um clube inglês - pese a velha austeridade inglesa - não se sente diminuído por ter estrangeiros a conduzi-lo (alguns até são propriedade de estrangeiros, como o Chelsea, o Manchester City, etc.), pelo contrário, sente-se mais forte se esses estrangeiros forem bons.

    Ao contrário, os países sul-americanos fecharam-se sobre si e em vez de beneficiarem da globalização abrindo as portas ao mundo, são celeiro de matéria-prima a utilizar pela Europa global. O diferendo brasileiros - argentinos é bem prova de que ainda estão fechados no seu continente. As explícitas posições de Cuca e Ney Franco no Botafogo, prejudicando as oportunidades dos argentinos contratados pelo BFR, são prova disso. Cuca liquidou Ferraro e Escalada e Franco fechou as portas à contratação de argentinos. Eu defendi a contratação de sul-americanos por várias razões, e foi um ataque sul-americano que fez história no carioca de 2010.

    Na verdade, o 'mundo global' nunca parou desde a 1ª globalização... quem parou foram os países sul-americanos. Infelizmente para o meu Botafogo...

    Abraços Gloriosos!

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  4. Aliás, as maiores estrelas do Inter, do Real, do Barcelona ou do Chelsea não são naturais dos países desses clubes...

    Não são nacionais desses países, Cristiano Ronaldo, Kaká, Ibrahimovic, Messi, Drogba, Milito e tantos outros craques como Ronaldinho Gaúcho, Júlio César, etc.

    Veja-se a seleção brasileira: quantos estão jogando no Brasil?... E desses, quantos fizeram ou farão a sua carreira fora do Brasil, regressando em fim de festa, tal como Ronaldo, Adriano, etc.?...

    Ah... sobre a língua. Mourinho teve aulas específicas de italiano para se expressar em italiano. Mas, note-se, os grandes futebolistas falam todos inglês.

    Ademais, quem é mesmo o país atualmente campeão mundial e cujo clube é campeão europeu?

    Abraços Gloriosos!

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  5. Tem um motivo muito simples para que os grandes clubes contratem muitos estrangeiros, eles são mais baratos!!!

    Os clubes não gostam de vender seus jogadores criados no clube ou formandos no país para times do mesmo país, também não gostam de vender suas estrelas para times do mesmo país, assim como na Itália e Inglaterra (principalmente) os pequenos tem uma condição financeira razoável, eles dificilmente venderiam barato um grande jogador para um clube grande do mesmo país, assim este clubes maiores vão procurar suas estrelas em mercados mais baratos.

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