Campeão Santástico

Amigos, a finalíssima do Campeonato Paulista foi arrebatadora. Diante de trinta e cinco mil testemunhas no Pacaembu, Santo André e Santos fizeram uma dessas partidas imortais.

Que batalha, amigos, que batalha! De um lado, estava o valente time do Santo André, vestido de azul. Do outro lado, aparecia a ousada equipe do Santos, trajada de branco. O futebol nem sempre é justo, o futebol nem sempre premia os melhores. Mas neste domingo, sim, estavam em campo os dois melhores quadros do estado de São Paulo.

A vantagem era santista, por ter a melhor campanha, e por ter vencido o primeiro jogo. O Santo André precisava vencer por dois gols de diferença. O Santos, portanto, estava com a mão na taça. Mas todos conhecemos o ditado: futebol é uma caixinha de surpresas, só acaba quando termina.

Com alguns segundos de jogo, o Santo André faz uma jogada trabalhada, brilhante mesmo. Branquinho lançou Cicinho, que driblou o goleiro e cruzou para Nunes consumar o gol certo. Era o tento inicial, que recolocava a equipe do ABC na disputa pela taça. Se antes faltavam dois gols, agora só faltava um.

Mas o Santos é o melhor time do país em 2010, e veio logo ao ataque. Aos 7 minutos, Marquinhos lançou Robinho, que com um toque genial deixou Neymar de frente para o gol. Após deixar três oponentes no chão, o reizinho finalizou, inapelável. Era o empate do Santos.

Quando todos esperávamos que o Santos fosse liquidar de vez o campeonato, o Santo André se mostrou um gigante. Começou um período de enorme pressão da equipe de azul. Primeiro, uma bola na trave; na seqüência, um gol mal anulado pela bandeirinha. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Aos 19, após cobrança de escanteio, o volante Alê mandou para as redes. Santo André 2, Santos 1. Repito: que jogo, amigos, que jogo!

Entretanto, decisão que se preze precisa ter um sururu. Quando Neymar cavou a falta, começou a briga generalizada. Os mais exaltados, Léo (do Santos) e Nunes (do Santo André), foram expulsos por Sálvio Spinola. A partir de então, a batalha seria de dez contra dez.

Com mais espaços, a habilidade dos meninos da Vila Belmiro sobressaiu. Robinho ganhou a dividida, e passou a Paulo Henrique Ganso. Com um cinematográfico passe de calcanhar, Ganso deixou Neymar na cara do gol. Com uma finalização precisa, o reizinho empatou a partida. 2 a 2.

Sim, ainda estávamos no primeiro tempo. E mais emoções aconteceriam: Marquinhos deu um carrinho por trás em Branquinho, e foi corretamente expulso. Com o Santos escancarado, o Santo André voltou a atacar com força, e chegou ao seu terceiro gol, com Branquinho, após passe de Bruno César. Fim da primeira etapa: Santo André 3, Santos 2.

O segundo tempo prometia fortes emoções. Dez homens defendendo o Santo André, nove pelo Santos. Um golzinho e o troféu teria fitinhas azuis. Aos 5, quase saiu o tento salvador do Santo André: Rodriguinho driblou o goleiro e chutou, mas Arouca salvou em cima da linha. Que os livros de história registrem: Arouca foi um dos heróis do Santos neste dia dois de maio.

O tempo passava, rapidamente para o Santo André, lentamente para o Santos. A cada minuto que se escoava, mais próxima a taça ficava da Vila Belmiro, mais distante a taça ficava do ABC. Quando Dorival Júnior resolveu tirar Neymar para pôr Roberto Brum, estava claramente abdicando da vocação ofensiva que fez do Santos o que ele é. Imagino o desespero de Dorival quando Brum fez a mesma besteira do carrinho por trás, e também foi expulso.

Amigos, examinem o drama: dez andreenses contra oito santistas, faltando ainda quinze minutos. Um único golzinho do Santo André, e a taça teria as fitinhas azuis, e não brancas. No desespero, Dorival resolveu sacar Ganso para pôr mais um zagueiro.

Naquele exato instante, Ganso mostrou ser um monstro. Desafiou o treinador: "não vou sair, não!". Ganso sabia de sua condição de craque do time (ainda mais sem Neymar e Robinho em campo). Ganso sabia que ele ali seria fundamental. E, numa atitude de homem, o garoto comprovou sua condição de craque indiscutível. Sem escolha, Dorival sacou André.

E, naqueles quinze minutos restantes, Ganso foi genial. Pegava a bola, e a prendia de tal forma que ninguém conseguia desarmá-lo. Fazia passar o tempo, tal qual Romeu Pelliciari no lendário Fla-Flu da Lagoa de 1941. Se Neymar compara-se a Pelé, Ganso compara-se a Romeu. E convenhamos: Dunga não tem escolha. A convocação de Neymar e Ganso para a Copa do Mundo é obrigatória.

No finalzinho, ainda houve a bola na trave do Santo André, para coroar a dramaticidade da partida. Amigos, neste domingo o Santo André viveu um dos maiores momentos de sua história. O quadro de azul valorizou a conquista do Santos com um suor épico, uma entrega absurda, um ímpeto inexcedível.

Mas o Santos é o legítimo campeão. Ninguém jogou um futebol tão bonito, tão ofensivo, tão eficiente, tão "santástico". Os cem gols comprovam o que digo. Falta dizer quem foi o meu personagem da semana? Não, não falta. O ilustre posto só pode ser ocupado por um garoto, um homem: Paulo Henrique Ganso, o craque da finalíssima, o craque do campeonato.

PC