Resenha: Tricolor 2 x 1 Vitória

Amigos, "a verdade incontestável é que ninguém ganha da forma que ganhamos. As nossas vitórias são cardíacas, e nos levam da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase do épico, do apoteótico, tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos". O autor destas linhas é Mauro Jacomé. Isto é genialidade: nessas poucas linhas, o grande tricolor descreveu diversos triunfos históricos do Fluminense, passados, presentes e futuros. Descreveu, por exemplo, a apoteose de Flávio em 1969, a consagração de Assis em 1983, a canonização de Renato em 1995, o gol de Washington em 2008. Descreveu também Fluminense x Vitória, a batalha desta quarta-feira.

No primeiro tempo, o Tricolor repetiu as três grandes atuações anteriores. Com toque de bola envolvente, penetrações fulminantes pelos flancos, e muita movimentação, o Fluminense bombardeava a meta do Vitória. O gol não tardou, saiu em lance pela esquerda: Carlinhos cruzou, Marquinho chutou, e Fred aproveitou o rebote do goleiro. Um a zero.

O argentino Darío Conca tinha mais uma exibição de gala, comandando o meio-campo com maestria. Ele merecia aquele golaço, mas a bola caprichosamente preferiu beijar a trave. E assim fomos para o intervalo com a vitória mínima.

Veio então a segunda etapa, e o Fluminense voltou com o pé no freio. As poucas chances criadas eram desperdiçadas pelo ataque. O quadro baiano, aproveitando-se da falta de ímpeto do Fluminense, começou a ameaçar a meta de Fernando Henrique (Rafael saíra, machucado, ainda no primeiro tempo).

O placar mínimo é perigosíssimo, todos sabemos. Aos 39 minutos, quase no apagar das luzes, Renan Oliveira centrou, e Jonas cabeceou, inapelável: 1 a 1. Extrema falta de perspectiva. Máximo sofrimento. Crueldade. Mas o Fluminense é guerreiro: três minutos depois, Mariano cruza da direita, e Alan chuta. O goleiro dá rebote, e o príncipe pó-de-arroz finalmente manda para as redes: Fluminense 2 a 1. Êxtase do épico. Apoteótico.

Alguns dizem que ainda é cedo para sonhar com o tricampeonato. Não acho, não acho. A base do time vem do ano passado, quando conquistou resultados inquestionáveis, vencendo a tudo e a todos. Os reforços supriram as carências mais graves (principalmente na lateral-esquerda). O técnico é Muricy Ramalho, que conquistou três dos últimos cinco certames, e inegavelmente já fez o time melhorar bastante. Tenho certeza: em 2010, a briga do Tricolor será na parte de cima da tabela. Claro, não nos esqueçamos da humildade, nossa maior arma, sempre.

Outro dia, escrevi aqui que o tricampeonato precisa ser uma obsessão em Laranjeiras. Precisamos repetir 1970, precisamos repetir 1984. A torcida parece ter entendido o recado, e compareceu em peso ao Maracanã, apesar do horário esdrúxulo. O time, ao retomar o espírito guerreiro, também aparenta estar ciente da obsessão tricolor. Se o ímpeto de torcida e time continuar, e se a diretoria não atrapalhar, a taça de 2010 terminará o ano sorrindo, feliz com seu destino eterno, na rua Álvaro Chaves.

PC