108 anos de Fluminense

Amigos, o Rio de Janeiro vivia o inverno de 1902. O século XX ainda era um bebê. Os moleques sequer conheciam o football: o esporte da moda era o remo, na Baía de Guanabara. O Aterro do Flamengo ainda era mar. Automóveis praticamente inexistiam: o principal meio de transporte carioca era o bonde.

A Rua Marquês de Abrantes já existia. Ali morava Horácio da Costa Santos, na casa de número 51. Foi lá que, após meses de teimosas e insistentes tentativas, Oscar Alfredo Cox conseguiu reunir aqueles vinte rapazes, às oito e meia da noite do dia 21 de julho. Sim, o Fluminense Football Club nasceu da teimosia de um rapaz de vinte e dois anos.

E aquela reunião noturna de segunda-feira modificou para sempre as vidas de cada cidadão brasileiro. Pois nascia ali a instituição mais importante do esporte nacional. Alguns dizem que é exagero meu chamar o Fluminense de instituição mais importante do esporte nacional. Será?

Ainda nos primórdios do Fluminense (a camisa era cinza e branca), alguns meninos do Colégio Alfredo Gomes conheceram o futebol vendo os jogos do time no campo da Rua Guanabara. Foram praticar no Largo dos Leões, e acabaram por fundar o Botafogo.

Um pouco depois, em 1910, após assistirem a uma partida do Fluminense, alguns jovens paulistas voltaram à terra da garoa, dispostos a fundar um clube de futebol. Nascia o Sport Club Corinthians Paulista.

Em 1911, nove dos onze titulares do Fluminense campeão invicto brigaram com os dirigentes do clube, e resolveram sair. Fundaram o futebol do Flamengo, que até então era só de regatas.

Em 1914, por ocasião da comemoração dos doze anos do Fluminense, um combinado dos melhores atletas brasileiros enfrentou o Exeter City, no campo do Fluminense. Nascia ali a mítica Seleção Brasileira. (o goleiro era o lendário Marcos Carneiro de Mendonça, e o autor do primeiro gol era Oswaldo Gomes - ambos atletas do Fluminense)

Em 1919, o Brasil sediaria o Campeonato Sul-Americano, atual Copa América, mas não havia estádio para o certame. Então, o Fluminense, com recursos próprios, constrói Laranjeiras. E foi ali que a Seleção venceu o primeiro campeonato de sua gloriosa trajetória. Foi ali também que, três anos depois, o escrete conquistou o bi sul-americano.

Na década de 30, o Tricolor ainda inspiraria a fundação de mais um gigante do futebol brasileiro: o São Paulo, com o estatuto fielmente copiado do Fluminense, exemplo de organização.

Exemplo esse reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, que em 1949 concedeu ao Fluminense a Taça Olímpica, honraria que poucas instituições esportivas no mundo conseguiram.

Em campo, foram 108 anos de glórias e vitórias mil. Para começar, trinta Campeonatos Cariocas (a maior parte deles na época em que o torneio era o principal do país). Continuo a extensa lista com dois Campeonatos Brasileiros (1970 e 1984) e uma Copa do Brasil (2007). A glória continental bateu na trave em duas ocasiões recentes (a Copa Libertadores de 2008 e a Copa Sul-Americana de 2009). Mas o mundo já foi nosso, em 1952, quando conquistamos a Copa Rio, autêntico Campeonato Mundial de Clubes.

Pouco antes de completar o centenário, alguns sujeitos deram o Fluminense como morto. Foi em 1998, quando o Tricolor sofreu a inimaginável queda para a Terceira Divisão. O Fluminense era a piada nacional em termos de futebol. O Tricolor parecia minúsculo, parecia realmente próximo do fim, à beira da aniquilação. Era o fundo do poço. Estávamos num inferno nunca antes visitado por nenhum outro grande clube brasileiro.

Porém, como uma fênix que ressurge das cinzas, o Fluminense renasceu da terra arrasada. O Tricolor foi submetido ao teste mais difícil, e terminou aprovado. É o único grande clube brasileiro que pode encher o peito e bradar: "eu ressuscitei".

E o engraçado é que a Páscoa do Fluminense já estava prevista em profecias de sessenta séculos. Desde antes do Paraíso, já estava escrito que tudo pode passar, só o Tricolor não passará jamais.

PC