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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Neymar não tem culpa

Amigos, quando Neymar tentou a cavadinha e perdeu o pênalti, já estava determinado que seria o principal assunto esportivo da semana. As críticas ao garoto são previsíveis: chamarão Neymar de moleque, de irresponsável, de displicente. E a maioria do público concordará, bovinamente, sem pensar de verdade no assunto.

Comecemos pelo lance que originou a penalidade. Neymar recebe na ponta-esquerda e inicia uma arrancada para cima do defensor, camisa três. Ginga pra lá, ginga pra cá, faz que vai, mas não vai, e depois vai mesmo. O zagueiro, coitado, é a própria definição de desorientado. Sem recursos para parar Neymar, ele o derruba com uma canelada. Vejam vocês que o pênalti é uma construção inteiramente assinada por Neymar. Uma obra de arte pintada por ele, somente por ele. Coloquemos no lugar do craque um perna-de-pau, ou até mesmo um jogador mediano, e não haveria pênalti algum. Naquele lance, o Santos conseguiria, quando muito, um mero escanteio.

Voltemos ao lance do primeiro gol da partida, marcado por... Neymar, claro. Na hora do pênalti, o Santos vencia por 1 a 0, também porque tinha Neymar. Serei repetitivo: se no lugar do craque estivesse um perna-de-pau, muito provavelmente o placar ainda estaria virgem. Ademais, as diabruras do jovem santista levam qualquer zagueiro à loucura. Perguntem hoje a um zagueiro do Vitória: prefere marcar Neymar ou João? O sujeito responderá João, no reflexo, sem sequer saber quem é o João a ser marcado.

Pois bem, voltemos ao fatídico pênalti. Neymar na meia-lua, a bola na marca, e o goleiro Lee abaixo do arco. O craque tem uma decisão a tomar, o arqueiro também. No caso de Neymar, a decisão era entre uma cobrança comum e uma cavadinha. A cobrança comum é a decisão fácil, a cavadinha é a decisão difícil. Panenka inventou a cavadinha na final da Eurocopa de 1976, contra o lendário arqueiro Sepp Maier. Zidane e Abreu repetiram a cavadinha em Copas do Mundo. Os três, Panenka, Zidane e Abreu, converteram suas cobranças. Nos três lances, os goleiros caíram no canto, irremediavelmente batidos pela malícia. Os três goleiros tomaram a decisão fácil: escolheram previamente um canto e pularam lá. Na Vila Belmiro, o goleiro Lee, do Vitória, tomou a decisão difícil: esperar a cobrança, só pular depois de ver a direção da bola.

Se Neymar tivesse cobrado com firmeza, o goleiro Lee ficaria com a má fama. Diriam, "nem pulou". Por isso, digo que ele tomou a decisão difícil. Neymar também fez a escolha difícil. Se a bola entra, é gênio como Loco Abreu e Zidane. Se perde, é displicente! Pois aconteceu a cobrança, e Neymar perdeu. Ou melhor, Lee defendeu, com muitos méritos.

Neymar não tem culpa pelo não-gol. Primeiro, porque é o total responsável pela existência da oportunidade perdida. Segundo, porque apenas escolheu uma forma de cobrar, e fez esta escolha mesmo sabendo que era a mais difícil. Terceiro, porque é muito jovem e tem o direito de errar. Quarto, porque mesmo perdendo o pênalti foi o homem do jogo, principal responsável pela vitória por 2 a 0. Quinto, culpar, xingar e/ou crucificar um jovem de 18 anos é irresponsável e injusto.

Neymar, siga em frente, siga irreverente, siga craque como é. Os atletas "educados e responsáveis" estarão no sofá quando você estiver envergando a amarelinha. Antes, na semana que vem, invejarão o teu beijo na Copa do Brasil.

PC

PS: para terminar, lanço números inquietantes. Loco Abreu declarou há um tempo que já cobrou cerca de dez pênaltis com a cavadinha, tendo perdido apenas um. Tenho para mim que cerca de 30% dos pênaltis cobrados normalmente são perdidos...

8 comentários:

  1. E ai Pc, blz.
    Interessante seu texto, mostra um lado diferente de ver os fatos.
    Mas ainda eu acho que alguem(Dorival Junior) deveria chamalo em um canto e explicar que ainda não cabou, tem mais um jogo, e na casa dos caras, errar penalt não o fim do mundo, muitos craques já perderam, mas um erro com um toque de displicência pode marcar pra sempre, principalmente se no próximo jogo os bainaos reverterem os resultados. Se esse moleque não mudar essa marra que tem vai acabar como um Denilson da vida.

    BLOG DO CLEBER SOARES
    www.clebersoares.blogspot.com

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  2. As cobranças com cavadinha costumam resultar em excelente aproveitamento, mas precisam ser alternadas com outros tipos. Ontem ao ver o pênalti eu sabia que o Neymar ia fazer isso, ele fez a mesma coisa há pouquíssimo tempo.

    Mais imprevisibilidade, garoto!

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  3. O texto ignora um ponto essencial da questão: era ÓBVIO que o Neymar ia bater com a cavadinha. Porque ele não pode ser igual aos outros, tem que 'diferenciado', 'irreverente'. È incrível como ele tem que ser especial sempre. Proibiram a paradinha, com a qual ele batia todas as vezes... Aí tu pensa: que que ele vai fazer? Bater normal, que nem os outros, ou dar a cavadinha? Tipo, é óbvio pra qualquer um, até pro goleiro reserva do Vitória, mas ele acha que não, que vai surpreender, 'a parada é ser diferente'. Tá escrito na testa do Neymar que ele vai afundar a carreira dele por se achar muito mais especial do que é de fato.

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  4. Pedro, falar agora (que a batida com cavadinha era óbvia) é fácil.

    Quero ver ter a coragem do goleiro Lee, de ficar parado numa cobrança de pênalti em final de campeonato...

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  5. Todos adorariam ter um Neymar no seu time, é tudo que tenho a dizer aqui:)

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  6. "Bovinamente"

    Gostei do advérbio! Hehe...

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  7. Concordo em partes com o Cleber, Pedro e Ramon.

    Acho que existe hora de fazer o simples, coisa que o Neymar ainda não aprendeu. Romário foi o maior centro-avante que vi jogar e jogava simples, sem jogar para a câmera. Entretanto, hoje vivemos em um mundo de CR7 jogando para a câmera, Robinho igualmente, Denilson foquinha e etc. Acho que simplicidade é tudo que este moleque precisa, parar de enfeitar o pavão.

    []'s

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  8. @sarabolica

    Gostei muito.. E, se for este o motivo, concordo com a reportagem! http://jornalheiros.blogspot.com/2010/07/neymar-nao-tem-culpa.html

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