Resenha: Tricolor 1 x 0 Vasco

Amigos, há certas partidas em que os dois clubes jogam o seu passado, o seu presente, e o seu futuro. Toda a história de cada quadro está ali, por trás das vinte e duas camisas. O primeiro Clássico dos Gigantes da história do Estádio Olímpico foi um destes jogos épicos.

O Fluminense estava em sua luta pelo título nacional. Já são vinte e seis anos sem levantar o Campeonato Brasileiro: uma espera que precisa ter fim. Já o Vasco jogava pela honra. Digo isto porque, a cada encontro entre vascaínos e tricolores, ocorre o seguinte: o Vasco se lembra das derrotas que doeram na sua carne e na sua alma. Eles se lembram de 1976, quando Doval fez o santo gol do bi, no último minuto da prorrogação. Eles se lembram de 1980, quando Edinho assinalou, de falta, o gol de mais um título tricolor. Eles se lembram de 1984, quando Romerito tirou o Campeonato Brasileiro de São Januário. Três resultados que até hoje machucam a Cruz Pátea. Três vitórias simples, por 1 a 0, que levaram taças para a rua Álvaro Chaves.

Neste domingo, a vitória tricolor começou nas arquibancadas, com a arrebatadora maioria pó-de-arroz. E não eram torcedores comuns. Não mesmo: eram fanáticos, dispostos a dar sangue, suor e lágrimas pela vitória do Fluminense. De Salvador, vinha a notícia da vitória do Cruzeiro. De São Paulo, vinha a notícia da vitória do Corinthians. Os concorrentes haviam vencido, e tomado provisoriamente a liderança do Fluminense. Era o estímulo que faltava. Amigos, poucas vezes na história se viu uma torcida tão entusiasmada, tão participativa, tão decisiva.

Diante da épica multidão tricolor, o Vasco sentiu-se acuado. Foi a senha para o Fluminense lançar-se todo para o ataque. Foi quando Washington arrancou, rasgando a defesa vascaína, e chutou para milagrosa defesa de Fernando Prass. Disse milagrosa, e repito: milagrosa. O problema, para o Vasco, é que defesas milagrosas geralmente dão rebote. E, no rebote, lá estava Tartá, que mandou para as redes. Fluminense 1, Vasco 0.

Cabe elogiar a atuação de Tartá: além de ter marcado o gol, correu feito coelhinho de desenho animado, no primeiro tempo. Voltava para ajudar a defesa, puxava contra-ataques, atraía a marcação. Sua importância para a vitória é evidente, apesar do natural cansaço na segunda etapa. Leandro Euzébio e os gringos Conca e Valencia também estiveram bem.

Outro personagem fundamental foi Ricardo Berna. O goleiro do Fluminense foi, mais uma vez, uma muralha intransponível: não passou nem pensamento. Aliás, minto: uma bola, chutada por Nunes, passou por Berna. Passou chorando, e terminou por beijar a trave. Alguns dirão novamente: "sorte! sorte!". Não conseguem enxergar o óbvio: trata-se da reinauguração da santa leiteria de Castilho.

Placar final no Engenhão: Fluminense 1 x 0 Vasco. Como em 1976. Como em 1980. Como em 1984.

O sábio Profeta continua em sua úmida caverna, coçando sua longa barba branca. Sobre seus ombros, pende uma bela manta branca. Com um leve e enigmático sorriso, ele calmamente repete seu vaticínio: "Fluminense campeão! Fluminense campeão!".

PC