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domingo, 16 de janeiro de 2011

Doze quilos, vinte gramas e um sonho



Ela mede 96 centímetros da base ao topo, que é coroado por um jogador preparando um chute na pequena pelota. Pesa exatamente 12 quilos e 20 gramas, e é composta basicamente de prata e madeira. A Copa Libertadores, glória máxima do futebol sul-americano, é uma obra assinada pelo ourives italiano Mario Camusso, em 1959. Restam poucas peças originais, mas a sua alma permanece inalterada.

O troféu já viajou bastante ao longo dos últimos cinquenta anos, arrastando junto com ele todas as maiores emoções que o futebol pode proporcionar. Em meio a tantas viagens e celebrações desmedidas, por vezes a taça se machucou, e acabou precisando de reparos.

A estrutura da taça é composta por duas partes essenciais: a base de madeira, onde são colocadas as placas douradas com os nomes e escudos dos clubes campeões; e a torre de prata que sustenta o globo superior e o jogador no topo. Neste globo, que representa o mundo, estão desenhados os escudos dos países sul-americanos, cuja liberdade é celebrada. Na linha equatorial do globo, estão a inscrição "Copa Libertadores" e as duas "orelhas", conjunto inconfundível.

No entanto, a obra não possui mais o desenho original do mestre Camusso. A primeira mudança se deu em 1981, quando a base de cor preta foi modificada por outra, de madeira de cor natural. Em 1991, logo após a conquista do Colo Colo/CHI, foram realizados retoques gerais na taça. Em 2003, houve nova mudança na base, que originalmente media 30 centímetros, e foi substituída por uma de 42 centímetros, porque o espaço para colocação de placas das equipes campeãs era insuficiente. Em 2004, na comemoração do título do Once Caldas/COL, o atacante Herly Alcázar deixou o troféu cair no gramado, e as perdas foram irreparáveis. O pequeno jogador no topo e as "orelhas" sumiram. Houve um esforço dos dirigentes colombianos para a recuperação das peças, inclusive com a oferta de uma recompensa. Um torcedor chegou a entrar em contato, dizendo estar com o pequeno jogador, mas se negou a devolvê-lo, apostando que no futuro poderá vendê-lo por um bom dinheiro.

Quatro meses depois do incidente na Colômbia, a Copa chegou a Santiago do Chile, onde seria reparada pela firma Alzaimagen, a pedido do presidente da Conmebol, o paraguaio Nicolás Leoz. O troféu estava com um novo boneco acima do globo, imediatamente reconhecido como falso, quando se fez o inventário para a reconstrução. O trabalho de restauração durou um mês, e foi realizado pelo artista Juan Pablo Rosel, que tinha o intuito de tentar reproduzir exatamente a escultura original. Foi tudo muito bem feito, à exceção de um detalhe, que lhe escapou: o pequeno jogador antes chutava com a perna direita, e agora é canhoto.

Por vezes, a taça foi adornada com enfeites. Em 1975, quando o Independiente/ARG conquistou a taça pela sexta vez, foram colocadas fitinhas nas "orelhas", de um lado com as cores do clube campeão, do outro com as cores do país. O costume continuou nos anos seguintes, em 1976 com o Cruzeiro, em 1977 e 1978 com o Boca Juniors/ARG, em 1979 com o Olimpia/PAR, em 1980 com o Nacional/URU e em 1981 com o Flamengo.

Durante seis meses, em 1990, a Copa Libertadores desapareceu, quando estava em posse do Olimpia/PAR. O presidente do clube, Osvaldo Domínguez Dibb, responsável pelo troféu, estava preocupado e não desconfiava de onde ele se encontrava: na casa de seu irmão Humberto, que o escondera em uma "brincadeira" familiar. (uma observação: em 2002, Osvaldo foi acusado pela Polícia Federal brasileira de ser responsável pelo contrabando de cigarros para o país; já Humberto é genro do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner).

Venerada, beijada, cobiçada, tocada, exibida... doze quilos, vinte gramas e um sonho: esta é a Copa Libertadores. No dia 22 de junho de 2011, um certo capitão, coberto de glórias, a levantará ao imenso céu desta épica América de futebol.

PC

Atualização: em julho de 2012, nas comemorações do título do Corinthians, a taça novamente perdeu o pequeno jogador do topo, como mostra a foto abaixo. No dia 24 de julho, o clube mandou consertá-la em uma prataria da cidade de São Paulo.
À esquerda, a Copa Libertadores inteira (foto Folhapress, 2011).
À direita, a Copa Libertadores quebrada (foto EFE, 2012).

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