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domingo, 17 de julho de 2011

Não, o Uruguai não está voltando a ser um gigante

Três gerações numa foto. Da esquerda para a direita: Alcides Ghiggia, o carrasco brasileiro na Copa de 1950; Diego Forlán, eleito melhor jogador do Mundial de 2010; e seu pai Pablo Forlán, que jogou a Copa de 1966.

Amigos, todos sabemos que a seleção principal do Uruguai foi semifinalista da Copa do Mundo de 2010. Acrescento que a seleção uruguaia sub-20 foi vice-campeã sul-americana em 2011, e a seleção uruguaia sub-17 foi vice-campeã sul-americana e vice-campeã mundial em 2011. Outra: o Peñarol foi vice-campeão da Copa Libertadores de 2011. Inegavelmente, os cisplatinos estão percorrendo uma trajetória bem-sucedida no futebol. Estaria o Uruguai voltando a ser um gigante do futebol mundial?

Muitos "especialistas" da imprensa brasileira têm dito que sim. Alguns chegam a profetizar um novo domínio uruguaio, como o ocorrido entre 1924 e 1930 (quando a Celeste foi bicampeã olímpica e venceu a primeira Copa do Mundo). Eu, embora seja um admirador da história do futebol uruguaio, de lendas como José Pedro Cea, Héctor Scarone, Míguez, Schiaffino, Ghiggia, Obdulio Varela, Ambrois, Mazurkiewicz, Pedro Rocha, Rubén Paz, Enzo Francescoli e os Forláns, sou obrigado a discordar.

Antes de mais nada, repito: adoro o futebol uruguaio, a começar pela belíssima camisa Celeste do selecionado, vestimenta que goteja glórias eternas por onde passa. Admiro a entrega dos jogadores uruguaios, que parecem lutar por cada bola como se ali estivesse em jogo sua própria sobrevivência. Dá gosto de ver o esforço deles. Quando minhas pátrias - Brasil, Espanha e Portugal - não estão em jogo, torço pelo Uruguai na maioria das ocasiões. (Quando é contra a Argentina, como foi neste sábado, torço ainda mais, confesso.)

Porém, não posso deixar de constatar o óbvio: o Uruguai não possui condições de lutar no topo do futebol mundial a longo prazo. O principal problema do nosso vizinho, nesse caso, é o seu tamanho. Não dá para lutar contra um fato: o Uruguai possui apenas 3.500.000 habitantes. Como veremos a seguir, seus concorrentes são maiores - muito maiores.

Dos semifinalistas da Copa do Mundo de 2010, apenas o Uruguai é um país minúsculo: a Espanha possui 45 milhões de habitantes, a Holanda 16 milhões, e a Alemanha 80 milhões. Os outros países bem sucedidos hoje no futebol também são grandes ou médios: Brasil (200 milhões), México (112 milhões), França (65 milhões), Itália (60 milhões), Inglaterra (50 milhões), e Argentina (40 milhões). A exceção é Portugal, que mesmo assim é 3 vezes maior que o Uruguai (10 milhões). Na minha visão, Holanda e Portugal já são pequenos demais para "sobreviver" na selva do futebol internacional. Que dirá o nosso minúsculo Uruguai...

O tamanho do país influencia, e muito, no seu sucesso futebolístico, conforme acabei de demonstrar acima, com a lista das melhores seleções do mundo. Para os leitores que ainda não estão convencidos, apresento um exemplo de país que já foi um gigante do futebol mundial, e hoje praticamente inexiste no cenário de alto nível: a Hungria. De 1950 a 1954, o escrete húngaro permaneceu invicto, conquistando vitórias memoráveis como os 6 a 3 sobre a Inglaterra em Wembley (não satisfeitos, os ingleses foram a Budapeste jogar a revanche... os 7 a 1 são, até hoje, a maior derrota que o English Team já sofreu). A Hungria possuía, indiscutivelmente, o melhor time do planeta, apesar da derrota na final na Copa do Mundo. Hoje, convenhamos, a Hungria não mete mais medo em ninguém (sua última aparição em Copas do Mundo foi em 1986, quando caiu na primeira fase). Sua população atual é de cerca de 10 milhões de habitantes.

Em menores proporções que a Hungria, as seleções de outros países europeus também sofreram severos "declínios técnicos" em virtude de seu tamanho reduzido. A Áustria (8 milhões de habitantes) já foi uma potência no futebol, é tida até como "mãe do futebol alemão", mas já não assusta mais. A Suécia (9 milhões de habitantes), finalista na Copa de 1958, hoje em dia no máximo atrapalha os gigantes.

Que fique bem claro: não estou dizendo aqui que o tamanho do país é o único fator para determinar seu sucesso no futebol. A experiência no esporte, claro, conta muito. (Ainda bem que China, Índia e Estados Unidos não gostam muito de futebol! - por enquanto!) Outro fator importante é a existência de condições mínimas de trabalho. (Aqui, morrem quase todos os países africanos, com suas ditaduras e seus cruéis ciclos de pobreza e miséria...)

No futebol, a grande vantagem do Uruguai sempre foi sua maior experiência no esporte. O país foi um dos primeiros a praticar futebol no mundo - e isto lhe deu uma vantagem competitiva considerável em relação aos demais. O problema para eles é que esta diferença de experiência está sempre diminuindo. O Brasil, por exemplo, tem hoje praticamente a mesma experiência do Uruguai. Em suma: na luta contra os gigantes do futebol mundial, o Uruguai iguala em experiência, e perde (muito!) no tamanho. A luta uruguaia é desigual e, a longo prazo, praticamente impossível de ser vencida. Pode até ser que algum time chegue longe em competições importantes - aconteceu na Copa do Mundo de 2010. Porém, o cenário mais provável sempre será aparecer um gigante e estragar a festa.

Se eu fosse apostar hoje nos semifinalistas da Copa do Mundo (qualquer uma, de 2014 ou de 2050), cravaria Brasil, Alemanha, Itália e França. Juntando a esses quatro Espanha, Inglaterra, Argentina e México, as chances de eu ter citado todos os semifinalistas são altas. E, se eu fosse escolher uma "zebra", por mais que olhe com respeito as belas camisas de Portugal, Holanda e Uruguai, preferiria colocar meus tostões nos Estados Unidos (310 milhões), na Rússia (140 milhões), ou na Turquia (75 milhões).

Por todo o exposto, afirmo: não, o Uruguai não está voltando a ser um gigante. Pode ganhar a Copa do Mundo? Claro que pode. As pequenas Dinamarca (5,5 milhões) e Grécia (11 milhões) venceram recentemente a Eurocopa (observação: pequenas, mas ainda maiores que o Uruguai). O poderoso Brasil já foi eliminado de uma Copa América pelo modesto time de Honduras (8 milhões). Trinidad e Tobago (1.300.000) já chegou a uma Copa do Mundo (e segurou o empate contra a Inglaterra até os 37 minutos do segundo tempo). No fim das contas, é tudo decidido dentro das quatro linhas... O Uruguai pode, sim, ganhar a Copa do Mundo, mas é muito difícil de acontecer. E, se acontecer, muito provavelmente será uma vitória isolada.

PC

5 comentários:

  1. O tamanho do país influencia por conta do número de praticantes no país possíveis no país e tal, como a média de idade da população também influência bastante. Países mais velhos acabam tendo mais dificuldade de repor com qualidade seus atletas de alto nível, enfim.

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  2. Montanha, é por aí. População pequena -> poucos praticantes do esporte -> pouca capacidade de renovar uma boa equipe.

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  3. Minhas palavras na discussão de 26/07/2011 no facebook:

    "Para desespero do Uruguai, o interesse por futebol na Venezuela cresce enormemente. Já é o segundo esporte mais popular do país, e o preferido entre as crianças. Como tem uma população 10 x maior que a uruguaia, podem ter certeza que daqui a um tempo estarão brigando de igual pra igual com eles... (aliás, eu aposto na Venezuela para uma das 5 vagas da Conmebol para 2014. Já passou Peru, Bolívia e Equador...)"

    Está perto de se tornar realidade, com a Venezuela brigando por uma das vagas para a Copa de 2014. :)

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