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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

28/11/1995 - Ajax 0 x 0 Grêmio [PK 4 x 3]



(texto escrito por Carolina Van Breukelen Saavedra)

Foi no dia 28 de Novembro. Era final do segundo ano do segundo grau. Estávamos na reta final de provas. Mas aquela manhã seria especial, inesquecível para mim e para meus colegas de colégio. Grêmio e Ajax se enfrentariam em Tóquio decidindo o Mundial Interclubes. É estranho ter escolhido este jogo, que foi bastante fraco tecnicamente, mas eterno em suas recordações. Ajax invicto há mais de 50 jogos, enquanto o Grêmio se credenciava como a mais competitiva equipe Sul-Americana do momento. As aulas haviam sido suspensas para que todos acompanhassem a partida. Porto Alegre se dividia em três partes.

A primeira era a mais empolgada, os azuis. Torcendo para seu Grêmio guerreiro, de Jardel, de Paulo Nunes, de Arce, do capitão América Adílson, e acima de tudo, por Felipão, repetisse 1983 e, ao final do jogo, poder dizer mais uma vez: "A Terra é azul". Havia uma outra parte, os desesperados colorados. Todos ansiosos para o Ajax confirmar o favoritismo e conquistar o Mundo, e assim evitar uma década inteira de gozações dos tricolores. E havia eu.

Afinal era bastante incomum uma brasileira torcedora do Ajax. De verdade. Mas a explicação é simples. "Van Breukelen", o sobrenome de minha mãe, é holandês assim como ela, uma torcedora fanática do Ajax. Além de ser o sobrenome do meu tio Hans, goleiro da Holanda na Copa de 90 e na Euro'88. "Sangue do meu sangue", dizia a Bíblia. E eu mantive a tradição e sou uma das raras autênticas torcedoras do Ajax no Brasil.

Mas vamos ao jogo, que dentro do meu coração, será para sempre inesquecível. Assim como colorados da minha geração, eu só conhecia um time fabuloso do Ajax de ouvir falar, coincidência ou não, na década de 70. Passamos maus bocados no final dos anos 80 e início dos 90 (e que se repetem neste início de milênio), mas naqueles dias os tempos eram outros. Em 1995 tínhamos a base da Holanda, e éramos considerados os melhores do mundo. Porém o adversário era um especialista em derrotar favoritos, um time unido e com uma raça impressionante.

Começa o jogo e eu, que acompanhara tão bem os jogos do Grêmio ao longo do ano, percebi que nada seria fácil para o Ajax. Felipão armou um esquema que neutralizava os ataques do Ajax. Litmanen, o cérebro do time, tinha Goiano em sua cola o tempo todo e nada fez durante o jogo inteiro. Aproveitando o único ponto fraco holandês, os fracos laterais Reiziger e Bogarde, era quase impossível ao Ajax controlar os avanços de Arílson, quase um ponta-esquerda, e de Paulo Nunes na direita. Em minha casa, cercada de amigos e amigas tricolores e uns poucos colorados, eu roía as unhas e não disfarçava o nervosismo.

O Grêmio controlou totalmente o Ajax na primeira etapa, que só atacou esporadicamente e sem perigo. Em contra-partida, o time brasileiro não teve chances de assustar Van der Sar. Felipão amarrou o Ajax, seu 4-4-2 anulou o ofensivo 4-3-3 de Louis Van Gaal, que não conseguiu soluções eficientes para atacar o Grêmio. O preço foi alto: assim como não levava sustos, o time brasileiro quase não passava do meio-campo, em um jogo bastante monótono.

O segundo tempo começou e Kanu, (sim, aquele mesmo da Olímpiada de 96), entrou e logo de cara acertou uma bola no travessão. Ainda no início da etapa complementar, o árbitro (depois de ver o lance no telão), decidiu expulsar Rivarola, deixando o Grêmio com 10 em campo. O Ajax se assanhou e Litmanen, na cara de Danrlei, perdeu gol feito ao chutar muito fraco nas mãos do arqueiro brasileiro. Com medo de apanhar dos meus amigos, eu só praguejava baixinho.

Então, meu coração parou: Paulo Nunes cruza e Jardel perde gol feito, quase ao final do 2º tempo. Dois minutos depois, o artilheiro Jardel perde gol mais feito ainda, que poderia ter dado o título ao Grêmio. Desta vez, foram meus amigos gremistas que se desesperavam, gritando e chutando as paredes de minha casa. Era muito sofrimento para uma menina de 16 anos como eu. Comecei a implorar pelos pênaltis. A prorrogação prosseguiu monótona, como de todo o jogo. Um Grêmio heróico jogou mais de uma hora com um jogador a menos e que dominou a partida nos instantes finais.

Pênaltis. Os gremistas na minha sala, de mãos dadas, em sinal de corrente. Os colorados, em um extremo esforço como "secadores", pediam minha energia em sua "corrente paralela". E eu fui. Dinho, o autor do gol do título da Libertadores, perde o primeiro. O displicente Kluivert colabora e também bate mal o seu. Arce, um desconhecido paraguaio que se consagrou naquele ano, chuta na trave. Depois todos parecem "aprender" e batem com perfeição. Um por um, até chegar ao capitão Blind. O lendário defensor do Ajax, capitão há quase uma década. Ele fecha os olhos e bate no meio. Um gol. O título.

Enfim, podia comemorar a idéia de sermos, novamente, "Donos do Mundo". Ignorei os gremistas que choravam na sala, fui para a rua comemorar. Pegamos um carro e fomos fazer carreta até a casa de amigos holandeses. Um churrasco e muito vinho e cerveja. Confesso: tomei meu primeiro porre na vida. Um churrasco. Uma azia. E um vergonhoso 2,9 em Matemática no dia seguinte. Valeu a pena. O mundo era nosso, de novo. A terra era holandesa e os senhores de Amsterdam eram seus donos. Para mim, pela primeira vez...

Ficha Técnica: Grêmio 0 x 0 Ajax [PK 3 x 4]
Data: 28/11/1995.
Local: Estádio Nacional (Tóquio, Japão).
Árbitro: David Elleray.
Público: 47.119.
Cartões amarelos: Arce, Gélson, Arílson, Luís Carlos Goiano, Davids e Kanu.
Cartão vermelho: Rivarola.
Grêmio: Danrlei; Arce, Rivarola, Adílson e Roger; Dinho, Luís Carlos Goiano, Arílson (Luciano) e Carlos Miguel (Gélson); Paulo Nunes e Jardel (Magno). Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Ajax: Van der Saar; Frank de Boer, Reiziger e Bogarde; Blind, Ronald de Boer, Davids e Litmanen (Reuser); Finidi, Kluivert e Overmars (Kanu). Técnico: Louis Van Gaal.

Um comentário:

  1. PC, infelizmente suas palvras são verdadeiras. A violência a cada dia que passa fica maior. Enquanto as autoridades não tomarem as providências necessarias vamos ter esse tipo de coisa nos estádios e fora dele. Eu faço coro a suas palavras, isso não é torcedor, ao menos entende o objetivo do esporte, são bandidos tranvestidos de torcedores, marginais de primeiro grau.

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