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sábado, 7 de dezembro de 2013

Portões fechados para a dignidade


(por Thiago Rachid)

O Fluminense tem 111 anos e sempre foi motivo de orgulho para seus associados. Sim, pois além das glórias dos gramados, o Tricolor era um clube espetacularmente organizado e sua condição modelar de gestão e de honradez dava ainda mais lustro ao nosso brasão do que propriamente as glórias esportivas, efêmeras por natureza.

“Fulano é sócio do Fluminense” significava um status que ia além da condição material exigida para sê-lo, pois era mais que um título de propriedade, era um título de grandeza, de nobreza, por pertencer a um quadro associativo de grandes homens que construíam aquela que era considerada por muitos a maior organização esportiva do mundo.

A “Coupe Olympique” de 1949 foi a cereja no bolo, o ápice de uma trajetória grandiosa que coincide com a maior parte da existência do clube das Laranjeiras.

Me lembro que meu avô, morador de Nova Iguaçu, mesmo sem ir ao clube com frequência, afinal morava em outra cidade, permaneceu associado ao clube por mais de cinquenta anos, até a sua morte e tinha um enorme orgulho do Fluminense.

Eu poderia prolongar esse texto em centenas de parágrafos, dezenas de páginas com um sem número de histórias que glorificam o passado do Fluminense se não estivéssemos diante de um presente bisonhamente contraditório com a história que temos pra contar e com um tremendo medo do futuro que está reservado para nós.

A decadência do Fluminense foi tão bem sucedida que parece até obedecer a um planejamento bem feito e meticulosamente cumprido, a despeito da nossa teimosa mania de ganhar campeonatos ter levado a alguns “tropeços” no hipotético plano que estaria sendo executado nos últimos trinta anos.

Chegamos a 2013 e ao provável tetra-rebaixamento (96-97-98-13), sem estádio, sem centro de treinamento, sem fontes de receitas seguras, sem líderes, a cada ano com menos torcedores, menos grandeza e com uma dívida que aumenta sem parar.

Nem o rebaixamento quase certo ainda tinha me feito crer que conheceríamos o fundo do poço. Mas eis que veio a jogada final, o xeque mate e a descoberta que também temos hoje ainda menos dignidade como instituição, pois o Fluminense fechará as portas aos seus associados no dia 8 de dezembro de 2013 por temer o que pode acontecer após a confirmação do tetra rebaixamento.

Esse portão fechado significa muito. Estejam certos que nem a Série C foi um golpe tão pesado, pois o insucesso esportivo tem conserto e se resolve jogando de novo, sacudindo a poeira e dando a volta por cima. Mas retirar o Fluminense dos seus associados naquele que pode ser o pior dia de sua história, é de uma baixeza, de uma indignidade, de uma covardia, de uma falta de vergonha na cara que equivalem a cuspir na história do clube que o Fluminense foi outrora. Os revezes esportivos fazem parte da vida e têm conserto. O revés moral é uma cicatriz, ou melhor, uma tatuagem que nunca se apaga.

Aquele portão estará fechado para nós associados, para nós torcedores e para toda uma história centenária.

Dia 8 de dezembro de 2013, rebaixado ou não, será o dia que o Fluminense tornou-se indigno de sua própria história.

(Thiago Rachid, torcedor e sócio do Fluminense)

2 comentários:

  1. Amei sei blog muito bom o seu trabalho eu também tenho um mas é pequeno ainda.Visite se poder : http://diasimortais.blogspot.com.br/
    Gostei muito,vou mostrar para os amigos...

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  2. O Fluminense resolveu abrir, após a pressão recebida de todos os lados.

    Parabéns ao Rachid, que com este texto contundente, que bombou nas redes sociais e teve centenas de acessos, com certeza aumentou a pressão sobre os autoritários dirigentes tricolores.

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