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sábado, 27 de junho de 2009

Recordar é viver - Independência Verde e Amarela


Em pé: Taffarel, Leonardo, Aldair, Mauro Silva, Jorginho e Márcio Santos.
Agachados: Mazinho, Romário, Bebeto, Dunga e Zinho.

Palo Alto, 4 de julho de 1994.

Amigos, quando o hino dos Estados Unidos ecoou no Stanford Stadium, confesso que temi pelo pior. Digo isso porque, na execução dos hinos nacionais, houve um verdadeiro golpe baixo contra o nosso. O estádio estava lá, lotado de americanos. Pior do que isso: com americanos escorrendo pelas paredes. Pior ainda do que isso: com americanos orgulhosos de mais um aniversário da independência. Pois bem: o nosso Hino Nacional foi tocado, apenas tocado. Não havia, ali, nenhuma multidão para cantar, de peitos estufados, "Ouviram do Ipiranga às margens plácidas...". Ao passo que "A Bandeira Estrelada" foi tocada e cantada. Mas o nosso Hino não se dobrou, e estava ontem mais inspirado e mais flamante do que nunca. Confesso, porém, que o hino americano, assim atirado na nossa cara, me fez pensar em todas as guerras que eles já venceram. E eu tremi.

A peleja que se anunciava dramática foi mesmo muito tensa. Lembro que a primeira chance foi dos Estados Unidos. Dooley apareceu livre na área, pela direita, e chutou cruzado. A bola passou por nosso arqueiro Taffarel, e o país inteiro, do Oiapoque ao Chuí, prendeu a respiração por dois segundos, até ela sair pela linha de fundo. Após o susto, o escrete verde-amarelo partiu furiosamente para a vitória. Primeiro Márcio Santos e depois Bebeto finalizaram com perigo, mas a pelota foi, nas duas vezes, para fora. E então foi a vez de Romário. O baixinho genial recebeu dentro da área, driblou o zagueiro americano, e chutou cruzado. Também para fora.

O escrete dominava, mas então aconteceu o lance que aumentaria ainda mais a dramaticidade da batalha. Aos 41, Leonardo foi puxado por Tab Ramos e perdeu a cabeça. Desferindo uma cotovelada desleal no adversário, ele foi expulso pelo árbitro francês. Amigos, analisemos a ousadia de Leonardo: agredir um americano, diante de dezenas de milhares de americanos, em pleno 4 de julho, é de uma coragem inexcedível. Porém, não é futebol, e por isso mereceu o cartão vermelho.

A desvantagem numérica colocava o Brasil em xeque, pela primeira vez, nessa Copa do Mundo. A Seleção de Parreira precisaria jogar com inteligência e paciência, afinal tudo estava contra ela. Cada jogador restante do escrete precisaria molhar a camisa em dobro, para compensar a ausência do Leonardo. Ainda nos acréscimos da primeira etapa, Romário arrancou feericamente e desferiu um chute perfeito. Mas a bola caprichosamente acertou a trave esquerda do goleiro Meola. Tudo ficaria mesmo para o segundo tempo.

Logo no começo da etapa final, Jorginho encontrou Romário livre na área, e ele chutou desviando a pelota de Meola, mas um zagueiro salvou em cima da linha. Drama, drama, drama: os corações tupiniquins batiam descompassada e desesperadamente.

Após leve pressão norte-americana, Romário teve mais uma chance. Arrancou velozmente em direção ao gol, driblou tudo e todos, inclusive o arqueiro Meola, mas chutou para fora. O 4 de julho não seria o dia do Baixinho?

Claro que seria. Aos 28 minutos, o camisa 11 recebeu a bola no círculo do meio-campo. A partir daí, narrou Galvão Bueno: "Parte o Baixinho, a esperança é sempre você. Vai Romário, vai Romário, acredita! Faz Bebeto, faz Bebeto, faz Bebeto, gol, gol, gol, gol!". Era o gol, era a vitória, era a doce e santa classificação. Passe de Romário, camisa 11. Gol de Bebeto, camisa 7. Choro e abraço na comemoração eternizada na retina de cada brasileiro.

Quando o francês Joel Quiniou encerrou a partida, a nação inteira se sentiu aliviada e eufórica. Desde 1776, todo ano os cidadãos estadunidenses comemoram o dia 4 de julho. Porém, neste ano de 1994, o quarto dia do sétimo mês marcou a independência verde e amarela. Nunca um 4 de julho foi tão 7 de setembro.

PC

Ficha técnica:
Oitavas-de-final - 04/07/1994
Brasil 1 x 0 Estados Unidos
Local: Stanford Stadium (Palo Alto)
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Cafu); Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
ESTADOS UNIDOS: Meola; Clavijo, Balboa, Lalas e Caligiuri; Tab Ramos (Wynalda), Dooley, Hugo Perez (Wegerle) e Sorber; Cobi Jones e Stewart. Técnico: Bora Milutinovic.
Árbitro: Joel Quiniou (França).
Auxiliares: Hae-Young Park (Coréia do Sul) e Mikael Everstig (Suécia).
Juiz reserva: Karlsson (Suécia).
Gol: Bebeto, aos 28 minutos do 2º tempo.
Cartões Amarelos: Mazinho, Jorginho, Tab Ramos, Caligiuri, Clavijo e Dooley.
Expulsões: Leonardo aos 41 do 1º tempo; e Clavijo aos 42 do 2º tempo.
Público: 84.147 pagantes.

Vídeo:

8 comentários:

  1. quando vi o teu post no twitter imaginei que era esse jogo.

    DRAMÁTICO!! Lembro que eu estava na casa de umas amigas assistindo ao jogo, no alto dos meus 12 anos de chuteirice, hahah (digo isso porque na época eu achava o Leonardo lindo) quando ele foi expulso meu mundo acabou. hauuahuahua

    A vitória foi sofrida, assim como na maioria das partidas dessa Copa, mas foi emocionante, ah se foi, ainda mais pq nessa copa perigava da Italia ser tetra e ficaríamos para trás... enfim, essa copa teve um plus. E ali se concretizava de uma vez por todas minha paixão por futebol.

    Bons tempos...

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  2. "Tocou Romário... faz Bebeto, faz Bebeto... gol, gol, gooooooooool, é...
    do Brasil!", a narração do Galvão ainda ecoa na mesma tv Philips 14 polegadas do meu quarto. Jogaço, meu velho...

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  3. http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5352086046081815766&na=1&nst=1

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  4. Site interessante sobre a história das Copas do Mundo:
    http://www.duplipensar.net/dossies/historia-das-copas-do-mundo/1994-copa-dos-estados-unidos.html

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  5. Duílio:

    Porra, excelente. Nem lembrava que esse jogo tinha sido em um 4 de julho. O dia da independência deles é comemorado com muitos mais fervor do que nós comemoramos a nossa independência. Eles são mais patriotas. E nós conseguimos eliminá-los num dia tão importante pra eles. Digo nós, pq naquela época, o Brasil inteiro era apaixonado pela Seleção, diferentemente de hoje em dia.

    Mas esse texto só serviu pra me deixar mais em depre ainda hahaha pq essa Copa de 94 é uma das últimas lembranças que tenho do meu pai, que morreu em 96. Lembro que assistíamos a todos os jogos juntos, e lembro dele gritando na final: "SOMOS TETRA, FILHÃO"

    hahaha pqp, não sei pq eu to assim hj, nunca fui de ficar nessa depre...

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  6. "Nunca um 4 de julho foi tão 7 de setembro."
    Muito bom!!!

    Mal ou bem os americanos jogaram com mais raça naquele dia, afinal era o tão comemorado 4 de julho. Mas o escrete era superior e também jogou com vontade, foi difícil, mas não teve jeito...

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  7. JOGAÇO!

    Aliás, toda essa copa de 94 foi absurdamente foda

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  8. E nós tricolores, que já tivemos o Ricardo Gomes cortado por contusão, ficamos chateados com a barração do Branco, vem o Leonardo e faz essa M! Putz! Como foi sofrido esse jogo. E junto com a final (0X0 com a Itália) esses foram os 2 jogos que o baixinho Romário não marcou; mas nesse ele deu o passe e Bebeto agradeceu: "Eu te amo Romário!" Que dia inesquecível!

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