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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O meu futebol é tricolor


(texto da minha amiga Fernanda Moreira, publicado originalmente no seu blog pessoal, em 11/12/2009)

Teoria é um conhecimento especulativo, puramente racional. A humanidade adora teorias. Diziam até, por exemplo, que futebol não era coisa para mulher.

Agora, vos digo: eu tenho uma teoria. E afirmo, com ela, que futebol não é e nem deixa de ser coisa limitada para um determinado alguém, seja lá quem ele for. Não se define. É amor. E nem Vinicius definia amor. Amam homens, mulheres, crianças. Amam os animais.

E eu, que jurava jamais me render, hoje não penso em outra coisa. Então eu vi que não é questão de querer, é domínio. E o meu time, Ah! O meu time me domina! E também independe de sexo. E de idade. É o amor para toda vida. Aquele primeiro amor, que faz o coração acelerar a cada encontro e o peito apertar, na ansiedade de saber se vai dar certo ou não. Futebol é borboleta no estômago. É o namoro com a certeza do eterno. E é o perdão, mesmo quando as coisas não vão lá essas coisas…

É de mulher, sim senhor. E de homem também. É coisa de macho. Mas é coisa de fêmea, por que não? De pequeno, de grande, de quem nem sabe o que quer, mas gosta.

Futebol é comoção nacional. É a casa do sentimento contido e, despretensiosamente, revelado a cada passe. É chutar o pau da barraca, sem ter medo do ridículo. São cores. As minhas três cores. É apropriar-se, com emoção, de um coletivo tão particular. E ser um só nome, vestindo-o dos pés a cabeça.

É torcer o futebol. Ir para campo, mesmo sem sair de casa. Gritar ou calar, esperando que o melhor aconteça. Extasiar segundos antes daquele pênalti decisivo. E chorar, como criança, de emoção ou frustração.

Acontece nas melhores famílias. É comparação. E é relacionamento, logo, comunicação.

É história, espelho, voz, corpo, movimento. É poético, textual, lingüístico… Sinestésico. Futebol é nacional e Brasileiro. Verde e amarelo, em essência. Para mim, verde, branco e grená, por amor.

O futebol tem vida. E como toda vida que se preze, não se isenta do surpreendente.

Eu me surpreendi e aconselho, sob uma teoria fundada, que todo mundo deve experimentar. É mais que esporte – e olha que ser esporte já é bastante! É levar na esportiva e no coração. Representar, permitindo reconhecer-se por tamanha preferência. E é ter orgulho de ser. É escolha, liberdade, paciência. É referência, identificação e declaração.

O meu futebol é tricolor. Tem fé. E é corajoso, assim como eu. Assim como nós que sabemos acreditar. E a vida o que é, se não a crença e o brinde, diário, pelo milagre de existir?

É tri, como o sagrado, e eqüilátero, como a justiça. É memória e é o caminho sem volta, quando já me sinto tão dele, e ele, quando muito já me é. O meu futebol em três cores deslumbra-se. É o inexplicável divino, o mistério e o acontecimento. É gestação e nascimento. E é destino.

Sou fluminense.

E ser fluminense é ser paz. Um centro altruísta, capaz de complacentemente olhar o outro, sem esquecer-se de si próprio. Não é ego. É amor. E é inteligência, na medida em que aprecia vitórias com humildade e encara derrotas de cabeça em pé – entendendo, assim, a sutil diferença estabelecida entre ser e estar. O Fluminense sabe ser… eterno.

Possui gestos fortes, mas nunca violentos; e é seguro, jamais tirano.

E concluo, sem teoria, que na preservação do que não se vê, o Fluminense simplesmente é.

E já ser é muito. Eu sinto. É existencial, é saber crescer e, acima de tudo, é amor próprio.

6 comentários:

  1. Faço minhas, as palavras dela... :)

    Simplesmente lindo!

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  2. Esse texto ficou muito lindo! Você já tinha linkado ele na semana passada, não é?

    ST!

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  3. Esse texto como nosso Fluminense, simplismente é...

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  4. Eu já havia lido esse texto. Maravilhoso. Lindo. Só torcedores com alma tricolor são capazes de entender essas palavras! Parabéns à autora. Para escrever assim só podia torcer pelo Flu!
    Orgulho?! Amor?! Acho que é pouco... ainda não encontrei uma palavra para definir o que sinto pelo meu time!

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  5. Sensibilidade à flor da pele. Emoção, paixão e amor finamente misturados e o resultado essa bela obra de arte. Parabéns!

    Felipe Fleury

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