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terça-feira, 2 de março de 2010

Recordar é viver - Quatro homens e um segredo

Santos, 2 de agosto de 1962.

Amigos, quando José Francisco Sasía fez o terceiro gol do Peñarol, aos seis minutos do segundo tempo, o caos se instalou na Vila Belmiro. Em Montevideo, o Santos vencera por 2 a 1, mesmo jogando sem Pelé, lesionado. Bastava um empate em Santos para que o alvinegro praiano levantasse a Libertadores. A torcida santista mal podia acreditar no que via: o Santos vencia por 2 a 1 e, em dois minutos, o Peñarol virou para 3 a 2.

Cabe dizer, para os que nunca viveram: uma final de Libertadores é uma guerra de nervos, um massacre emocional. Não apenas para a equipe, mas também, e principalmente, para a torcida. Quando o árbitro chileno Carlos Robles confirmou o gol uruguaio, foi como se cada santista tivesse seu peito atravessado por uma adaga afiada. A confusão começou porque um dos torcedores do Santos revidou a punhalada, arremessando uma garrafa na direção do bandeirinha Domingo Massaro. A agressão fez Robles interromper a decisão. No centro do gramado, reuniram-se Robles, Massaro, Sergio Bustamante (o outro bandeirinha) e Raúl Colombo (o presidente da Confederação Sul-Americana).

Colombo implorava para Robles reiniciar a partida, com medo do que fariam as 22.000 almas ululantes nas arquibancadas da Vila Belmiro, caso a partida fosse mesmo cancelada. Robles insistia que era impossível recomeçar, por falta de segurança. Após quase uma hora de argumentações, aqueles quatro homens descobriram a única solução: aquele jogo estava oficialmente encerrado, com o placar de 3 a 2 para os uruguaios. Mas a partida seguiria em frente, amistosamente, sem que ninguém mais soubesse que não estava mais valendo. A torcida seria enganada, e só saberia da verdade dois dias depois. Eram quatro homens e um segredo.

O curioso é que, durante a prolongada discussão dos juízes, os jogadores de Santos e Peñarol conversavam animadamente em campo. Falavam sobre as famílias, sobre as viagens de fim de ano, sobre a gloriosa campanha da Seleção no Chile. Nestor Gonçalves falava espanhol e português, e fazia as traduções quando necessário.

Quando o chileno Robles apitou o reinício, torcida e jogadores achavam que tudo estava valendo. A partida seguiu a lógica natural: o Peñarol defendia com unhas e dentes o resultado que interessava; o Santos lançava-se todo para o ataque. Aos 32, o santista Pepe fez o gol de empate, aquele que seria o gol do título. Após mais algumas confusões e paralisações, Robles encerrou a provavelmente mais longa e conturbada partida de futebol já disputada em solo brasileiro. E os jogadores do Santos deram a volta olímpica, para comemorar a conquista. Não sabiam que, na verdade, ainda haveria a partida de desempate, quatro semanas depois, em Buenos Aires.

Com Pelé recuperado, o Santos venceria o desempate no Monumental de Núñez, por incontestáveis 3 a 0. E o Peñarol, que conquistara as duas primeiras Libertadores, não conseguiu o sonhado tri.

PC

Ficha técnica: Santos 2 x 3 Peñarol/URU.
Segunda Partida da Decisão da Copa Libertadores de 1962.
Data: 02/08/1962.
Local: Vila Belmiro (Santos/SP).
Público: 22.000 (estimado).
Renda: Cr$ 5.418.000,00.
Árbitro: Carlos Robles (Chile), auxiliado por Domingo Massaro (Chile) e Sergio Bustamante (Chile).
Santos: Gilmar; Mauro e Calvet; Lima, Dalmo e Zito; Dorval, Mengálvio, Pagão, Coutinho e Pepe. Técnico: Lula.
Peñarol: Luis Maidana; Juan Vicente Lezcano e Núber Cano; Edgardo González, Roberto Matosas (Nestor Gonçalves) e Omar Caetano; Fernández Carranza, Pedro Virgílio Rocha, José Francisco Sasía, Alberto Pedro Spencer e Juan Joya. Técnico: Bella Guttman.
Gols: Spencer, 5'/1T; Dorval, 19'/1T; Mengálvio, 36'/1T; Spencer, 4'/2T; Sasía, 6'/2T; Pepe, 32'/2T (anulado posteriormente).

4 comentários:

  1. Brincadeira...se outra pessoa me contasse não acreditaria...muito amadorismo!

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  2. O interessante é que se nessa época já existisse a estúpida regra do saldo qualificado (que levou o Fluminense para os pênaltis em 2008)o Peñarol teria se sagrado campeão!

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  3. Sávio, a regra do saldo qualificado não levou o Fluminense para os pênaltis, porque ela não vale na final.

    Se houvesse a regra na final, teríamos sido campeões, porque fizemos 2 gols em Quito, e a LDU só fez 1 no Rio.

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