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domingo, 11 de novembro de 2012

Resultado da Assembleia Geral do Fluminense

A Assembleia Geral do Fluminense aprovou, neste sábado, as quatro mudanças no Estatuto do clube, propostas pelo presidente Peter Siemsen. (quem quiser conhecer os detalhes das alterações propostas, leia meu post anterior sobre o assunto)

As votações totais foram as seguintes, tendo comparecido ao todo 1.101 sócios à Assembleia:

I) criação da categoria "sócio-futebol":
784 votos favoráveis, 310 votos contrários, 5 votos nulos e 2 votos brancos.

II) ampliação do prazo para que o sócio possa se candidatar a Presidente e Vice-Presidente:
855 votos favoráveis, 238 votos contrários, 4 votos nulos e 4 votos brancos.

III) normas para uniformes, pavilhões e cores oficiais:
837 votos favoráveis, 249 votos contrários, 5 votos nulos e 10 votos brancos.

IV) melhorias na gestão financeira:
819 votos favoráveis, 271 votos contrários, 4 votos nulos e 7 votos brancos.

Conforme pode ser visto no post anterior, eu me posicionei favorável às propostas I, III e IV, e veementemente contrário à proposta II (que foi exatamente a mais votada - e eu vou explicar neste post por quê esta foi a proposta mais votada).

Antes de mais nada, comemoro as vitórias das propostas I, III e IV, que configuram importantes avanços para o Fluminense. Especialmente a criação de um sócio-torcedor com direito à voto, que, vocês sabem, é uma batalha que eu travo há anos, e finalmente conseguiu entrar no Estatuto do Fluminense. Entretanto, ainda há muito o que melhorar, pois o sócio-futebol, infelizmente, ainda não terá os mesmos direitos políticos dos sócios proprietários e contribuintes. Para poder votar na Assembleia, o sócio-futebol precisará manter-se adimplente por 2 anos, o dobro do prazo das outras categorias. Além disso - e pior do que isso - o sócio-futebol não poderá ser votado, nem para Conselheiro, nem para Presidente ou Vice. Em suma, politicamente, o sócio-torcedor ainda não será dono do Fluminense - será apenas meio-dono, se tanto. Estas restrições tiram, a meu ver, boa parte do apelo do "produto sócio-futebol". Mas repito: a simples entrada da categoria de sócio-futebol no Estatuto do Fluminense já merece comemoração.

A aprovação da proposta das novas normas para uniformes, pavilhões e cores oficiais, que fazem o resgate histórico do cinza-e-branco, e possibilitam inovações nos terceiros uniformes, também foi boa para o Fluminense. Igualmente, os novos artigos versando sobre a gestão financeira do clube também são mudanças positivas, por permitirem mais transparência e fiscalização dos orçamentos do clube. (embora eu defenda controles ainda mais rígidos, que estanquem de vez este endividamento irresponsável que ameaça a própria existência futura do clube)

Feitas as celebrações das mudanças positivas, vamos agora à parte triste: a aprovação da ampliação do prazo para que o sócio possa se candidatar a Presidente e Vice-Presidente do clube. Até hoje, este prazo era de um ano - a mesma carência que os sócios precisam cumprir para poder votar na Assembleia. A partir desta mudança, o prazo aumenta para 5 anos.

Antes de mais nada, critico a forma como esta mudança foi proposta, em conjunto com as outras três. Os sócios do Fluminense provavelmente não deram a este item a atenção que ele merecia, como ele era apenas um parágrafo perdido no meio de todas as mudanças propostas. E assim, tenho certeza, sem realizarem a análise devida, muitos acabaram votando favoravelmente, "no vácuo" das outras propostas, tão positivas para o clube.

Tá, mas por quê esta mudança específica é ruim para o Fluminense, PC?

Respondo: esta alteração é ruim porque dificulta enormemente uma mudança de ares a curto e médio prazos. O sujeito que se associar hoje ao clube, vejam só, apenas poderá se candidatar à Presidência em 2019. Isso mesmo, apenas daqui a sete anos! Mesmo que esteja adimplente, não poderá se candidatar nem em 2013, nem em 2016, pois ainda não terá completado os 5 anos de carência.

Mesmo que o sócio considere que está tudo bem com o Fluminense (eu não considero), não temos como saber se ainda estará tudo bem daqui a 5, 10 ou 20 anos. Uma mudança de ares e nomes pode ser necessária - como foi há bem pouco tempo, em 1998, quando o clube caiu para a Terceira Divisão.

Ali, o Fluminense precisava de uma revolução - e ela aconteceu, por meio da eleição de David Fischel à Presidência, e de uma reforma estatutária que permitiu as eleições diretas. David Fischel tinha apenas dois anos de sócio - não só ele, como praticamente todo o grupo que promoveu aquela revolução (grupo do qual fazia parte, por exemplo, o atual presidente Peter Siemsen). Em suma: se esta nova "regra dos 5 anos" já existisse naquela época, a revolução não teria sido possível. Perceberam? Bastou uma rápida olhada na história recente do clube para perceber como é importante ter a possibilidade de uma mudança de ares. Infelizmente, os sócios do Fluminense mutilaram essa possibilidade de mudança a curto/médio prazos ao votar favoravelmente à reforma deste artigo do Estatuto.

"Ah, PC, sou otimista, esse cenário catastrófico não vai mais acontecer". Tomara, tomara. Mas percebam que a impossibilidade de mudança a curto prazo pode atrapalhar o Fluminense mesmo que o clube esteja bem. Imaginem se, amanhã, o "Papa da administração esportiva" resolve que quer ser presidente do Fluminense. Teremos que perguntar a ele se aceita esperar até as eleições de 2019? Não posso concordar com isso.

Não me esqueci da minha promessa do início do post: agora vou explicar por quê esta alteração do Estatuto - a II, única da qual discordei - foi exatamente a mais favoravelmente votada na Assembleia.

Hoje, há basicamente três correntes políticas entre os sócios do Fluminense:
1) os simpatizantes da gestão Peter Siemsen;
2) os contrários à gestão Peter Siemsen que nunca estiveram no poder (grupo no qual me incluo);
3) os contrários à gestão Peter Siemsen que já estiveram no poder.

Os simpatizantes da gestão Peter Siemsen (grupo 1), naturalmente, votaram favoravelmente às quatro mudanças propostas.

Os contrários à gestão Peter Siemsen que nunca estiveram no poder (grupo 2, no qual me incluo) são os únicos que não estão comprometidos com nenhum projeto de poder passado ou presente do Fluminense. Votaram, pois, de acordo com a própria consciência, favoravelmente às mudanças que consideraram boas para o Fluminense, e contrariamente às mudanças que consideraram ruins para o Fluminense. Acredito que a maior parte deste grupo votou favoravelmente às mudanças I, III e IV, e contrariamente à mudança II, como eu teria feito, mas não tenho como afirmar com certeza.

Os contrários à gestão Peter Siemsen que já estiveram no poder (grupo 3) votaram SIM às mudanças politicamente interessantes para eles, e NÃO às mudanças politicamente ruins para eles. Analisando uma a uma:
I) criação do sócio-futebol - politicamente ruim para eles, pois potencialmente diminuirá seu poder de decisão dentro do clube - logo votaram em massa NÃO - e isto explica por quê a criação do sócio-futebol foi a alteração que teve menos votos SIM no geral.
III) normas para uniformes, pavilhões e cores oficiais - questão que não possui relevância política para eles - logo, alguns votaram SIM, outros votaram NÃO.
IV) melhorias na gestão financeira - questão que possui pouca relevância política para eles - logo, alguns votaram SIM, outros votaram NÃO.
II) ampliação do prazo para que o sócio possa se candidatar a Presidente e Vice-Presidente - politicamente interessante para eles, pois são o grupo mais velho dentro do clube, e portanto passam a ser o grupo com mais candidatos potenciais à Presidência - logo votaram em massa SIM - e isto explica por quê a ampliação da carência para candidatura à Presidência foi a alteração que teve mais votos SIM no geral.

Aqui encerro minha análise do resultado da Assembleia Geral do Fluminense. Reitero minha celebração pelas aprovações da criação da categoria sócio-futebol, das normas para uniformes e pavilhões do clube, e da melhoria na gestão financeira. E reafirmo meu lamento pela aprovação da ampliação do prazo para que o candidato possa se candidatar a Presidente e Vice-Presidente.

Comentários são muito bem-vindos, desde que tratem com o devido respeito todas as opções de voto - afinal, o Fluminense é um clube que sempre primou pela democracia.

PC

4 comentários:

  1. “O Fluminense não nasceu para ser unanimidade nem massa de manobra do interesse demagógico das elites opressoras.

    O Fluminense nasceu para atravessar a harmonia do bloco dos contentes. Nasceu para incomodar o senso comum. Essa é a nossa sina”.

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  2. O aumento do prazo para candidatura da presidência tem o mesmo fundo do sócio-futebol não poder ser votado, eles temem um tomada de poder por parte do pessoal da arquibancada, tu imagina se os sócios-futebol montam uma chapa e fazem os seus candidatos mudarem para sócio-contribuinte um ano antes da eleição?! Então, tomada de poder, o que o pessoal que está lá dentro mamando nas tetas não quer.

    Att,

    bmz

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  3. PC,
    eu sou simpatizante da gestão Peter Siemsen e votei exatamente como você. Sou extremamente contrário à extensão do prazo para candidatura à presidência.
    Sou um mero simpatizante. Vou ao Flu nadar de vez em quando, não faço política no Fluminense. Sou um sócio futebol que paga mensalidade de sócio efetivo.
    Entendo perfeitamente o que aconteceu. Demos um gigantesco passo adiante, mas para convencer alguns foi necessário dar um passo grande para atrás. Ainda assim, na minha avaliação, o passo atrás é menor do que o passo à frente. De agora em diante a Assembleia Geral será composta também pelo sócio futebol. Ou seja, será possível fazer mudanças mais profundas futuramente.
    Pôr uma multidão de sócio, ainda que com restrições, produzirá um cenário totalmente novo no Fluminense. Ninguém lá dentro terá total controle desse cenário, mesmo porque ninguém sabe ainda jogar esse novo jogo. Se os sócios futebol souberem se organizar e construir parcerias com os sócios contribuintes em breve poderemos fazer novas alterações estatutárias.
    Agora, a verdade é uma só: que os sócios futebol se organizem e construam por suas próprias mãos esse novo futuro. A brecha foi criada.
    Assim é a vida, assim é o processo democrático. O resto é voluntarismo. Cada dia uma conquista. O saldo geral dessa Assembleia Geral foi inegavelmente positivo para a instituição.

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  4. Não assinei o comentário das 19:50.
    Meu nome é Francisco de Guimaraens.
    Saudações Tricolores.

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