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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Culpados somos nós

(por Mario Vitor Rodrigues)

Eis que o ioiô, ao que tudo indica, quebrou. Não é algo raro. Trata-se de um brinquedo perigoso. Se o sujeito calcula errado a altura ele bate no chão e se espatifa mesmo. 

Assim como quem brinca de ioiô não se surpreende quando isto acontece, o torcedor tricolor não pode se surpreender com mais um rebaixamento. Afinal, o Flu, ano após ano, alterna bons e pífios desempenhos. Sobe e desce. Por 4 vezes, desde que o Campeonato é disputado em pontos corridos, escapou do pior. Desta vez, repito, ao que tudo indica, não. O ioiô quebrou.

Culpa é um termo que de fato não me agrada. Me faz pensar no doentio discurso católico que impõe peso e penitências em absolutamente tudo. Dependendo do prisma, porém, é importante entendermos o culpado ou culpados, quando algo não funciona como deveria. Neste caso é fundamental, para que sejamos capazes de entender o caminho a seguir. Ou, pelo menos, de cobrar para que sigam este caminho.

Quem são os culpados pelo atual momento do Fluminense?

Para responder a esta pergunta, antes é necessário definir a amplitude do termo “atual”. Se alguém, por exemplo, estabelecer que atual dura uma década, precisamente desde que Celso Barros e o vergonhoso acerto com a Unimed começaram a ganhar mais e mais poder, estará coberto de razão.

Se for este o referencial, então a lista deve englobar todos que passaram pelas gestões neste período. Dos presidentes aos vices. Dos conselheiros aos colaboradores. Todos que, enfim, tiveram a oportunidade de reconstruir o Clube, mas preferiram afundá-lo numa roleta russa nefasta. Todos que deitaram os torcedores nesta realidade irreal, uma grandeza que não existe e que não poderia mesmo existir. Todos, portanto, que apostaram no atalho ao invés do trabalho.

Já, se “atual” tiver o significado de sempre, ou seja, se estivermos falando da gestão capitaneada por Peter Siemsen, identificar os atores principais não é difícil.

Começando pelo próprio Presidente. 

Vejam bem, Peter Siemsen é o Presidente. Se, ao acordar amanhã, decidir revolucionar o Tricolor, poderá fazê-lo. Tem poder e legitimidade para tal.

Por esta razão, Peter Siemsen é, sem a menor sombra de dúvidas, o maior culpado por tudo que aconteceu em 2013, o ano mais vergonhoso da história do Fluminense Football Club. Ano em que seremos, muito provavelmente, o único clube do planeta (exceção ao Manchester City no longínquo 1938) a ganhar um campeonato nacional numa temporada para depois ser rebaixado na seguinte.

Rodrigo Caetano, claro, tem toda culpa possível. Principalmente por conivência. Idem para o incensado Marcelo Teixeira.

O tal de Sandrão ter ficado por tanto tempo como Vice de Futebol e Celso Barros nunca ter tido tanto poder quanto agora, são outros crimes imperdoáveis.

Peter poderia ter evitado, intercedido, determinado mudanças. Mas não fez. Foi coerente com sua cretina promessa de campanha, uma das poucas que cumpriu: abandonar o futebol nas mãos de Celso Barros.

O resto, do deslumbramento com o título, passando pela arrogância administrativa, a inexistente campanha de reforços, não terem optado pela volta de Muricy, dentre tantas outras situações, deixo para vocês. Funcionou como um efeito dominó. Um previsível efeito dominó.

Outro grande culpado atende por um único nome, mas não se trata de uma pessoa.

O grupo Flusócio, com sua máquina marqueteira dedicada a criar imagens fictícias do na realidade amador e incompetente Presidente, e a vender um fictício Fluminense para seus torcedores, é o câncer que assola o Tricolor hoje em dia.

Um exército de despreparados que brincam de senhorios, a Flusócio lidera uma pavorosa aliança com outros grupelhos interessados somente em rodear o poder e mesmo a campanha que apregoa o silêncio nas arquibancadas.

Não existe voz dissonante no atual universo tricolor. Não se pode criticar. Não se pode vaiar. Só é possível aplaudir. Só é aceito o modelo argentinizado de torcer. Aquele burro, incessante, que brada músicas românticas independente do que aconteça no campo. A cadência letárgica dos cânticos, tão nociva para os jogadores, é necessária para mesmerizar os torcedores.

Jamais defendi violência ou incentivei quebradeira. Não farei isto agora. Mas é sintomático que o Tricolor, virtual rebaixado, não tenha sido reclamado por seu povo.

Ninguém protesta, ninguém grita, critica ou questiona. Pasmaceira Football Club.

É sintomático, insisto.

O Fluminense jamais correu tanto perigo, desde sua fundação. Nunca.

Não por ser presidido por um Presidente fraco e incapaz. Isto não é inédito em nossa história.

Tampouco ver-se engolfado por uma massa de arrogantes com mente estreita. Também este não é um aspecto novo.

Mas pela frouxidão que todos nós demonstramos.

Pelo poder entregue na mão destes mesmos infelizes. Um endosso renovado e inequívoco, ainda poucos dias atrás.

Esquizofrenia? Não querer enxergar a realidade? Preguiça em ouvir um discurso contrário? Falta de coragem para questionar e caminhar no sentido oposto?

Não sei. Talvez um pouco de tudo.

De uma coisa, porém, tenho certeza: a culpa é toda nossa.

(Mario Vitor Rodrigues já colaborou outras vezes com este blog.)

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