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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Sobre a Medalha Fields de Artur Ávila - ou melhor: Sobre a Educação brasileira

Foto: Mastrangelo Reino/Folhapress.

A notícia da semana, do mês e provavelmente do ano é a impressionante conquista da Medalha Fields pelo matemático Artur Ávila, de 35 anos, pelos seus trabalhos em teoria de sistemas dinâmicos. É, sem dúvida, a maior premiação recebida até hoje por um cientista brasileiro, em toda a história. A Medalha Fields é entregue de 4 em 4 anos, para matemáticos de até 40 anos, e é conhecida popularmente como "o Prêmio Nobel da Matemática" (em termos de prestígio, a comparação é totalmente cabível; financeiramente, nem tanto, já que os ganhadores da Medalha Fields recebem cerca de 30 mil reais, muito pouco perto do milhão de dólares do Prêmio Nobel). O rapaz, naturalmente, está de parabéns, pela genialidade, pela dedicação e pelo esforço. No entanto, infelizmente, ele é a exceção da exceção da exceção, neste país que não valoriza a Educação como deveria.

A Educação básica de Artur se deu, evidentemente, em colégios particulares - o São Bento e o Santo Agostinho, no Rio de Janeiro. Se sua família não tivesse a possibilidade de matriculá-lo em instituições privadas, o menino provavelmente teria caído no nosso sucateado sistema público de Educação, e quase certamente não teria conseguido chegar tão longe. Sim, Artur teve também muita sorte, pois todo o seu talento pôde florescer. Incontáveis outros brasileiros, também com enorme potencial, não tiveram e não terão a mesma sorte que ele.

O Brasil, este país imenso, com duzentos milhões de habitantes, quinta maior população do mundo, sexta ou sétima maior economia do planeta, simplesmente não consegue ser bem sucedido, em comparação com as outras nações. Nossas premiações acadêmicas, nas mais diversas áreas, são escassas, para dizer o mínimo. Esportivamente, o rendimento brasileiro também é muito abaixo do esperado: nos Jogos Olímpicos de Londres, ocupamos apenas a 22ª colocação do quadro de medalhas (quem quiser, leia meu texto de 2012, Por quê o Brasil deveria ser uma potência olímpica  - e por quê não é).

Adapto a seguir um parágrafo deste texto que acabo de citar: "Toda medalha é fruto de vários fatores, dentre os quais destaco quatro: sorte, talento, investimento e trabalho. A sorte não pode ser controlada, é a bola que entra ou sai por um centímetro e muitas vezes determina o resultado de um jogo. Os talentos, o Brasil tem, em potencial, com sua numerosa população. Nosso erro, portanto, só pode estar nos outros dois fatores: investimento e trabalho".

Eu escrevia só sobre esportes, mas a ideia vale para a Educação, também. Faltam investimento e trabalho na Educação brasileira. E o pior de tudo é que eu não vejo sequer indícios de que essa situação mudará. Nos discursos dos candidatos da eleição que se aproxima, o problema da Educação não é abordado de forma profunda (nem mesmo de forma rasa, aliás). É triste, mas a Educação não está sequer na agenda dos nossos futuros governantes. Para um país que precisa simplesmente de uma completa revolução no assunto, é muito pouco.

O que se fala sobre Educação, quando muito, é "do porcentual de crianças na escola". A qualidade do ensino não importa - como demonstram os ridículos salários pagos aos professores. Aí, vez por outra, aparece uma notícia como: "Ranking de qualidade da Educação coloca Brasil em penúltimo lugar" (leiam aqui). E está tudo bem, entra por um ouvido e sai pelo outro, joga-se a culpa nos governos passados, e bola pra frente.

Que o extraordinário feito de Artur Ávila sirva de inspiração para todos nós. Se a notável façanha do jovem carioca trouxer o debate sobre a Educação para as campanhas eleitorais, já será um começo, para que daqui a vinte, trinta, quarenta anos, Artur deixe de ser a exceção da exceção da exceção.

PCFilho

2 comentários:

  1. Caro Paulo, concordo plenamente. Gostaria, apenas, de fazer um adendo. Em 1994 0 geógrafo Milton Santos venceu o prêmio Vautrin LUD, equivalente ao "Prêmio Nobel de Geografia", portanto, considero justo que consideremos a premiação no nível da de Milton.

    Curiosamente o maior cientista brasileiro da área de exatas, o grande César Lattes, ícone da Unicamp, a mais importante universidade brasileira em pesquisas de Física tenha sido "tungado" no Nobel.

    Abraço, Fred.

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  2. Frederico,

    Obrigado pela colaboração. De fato, o prêmio conquistado pelo bravo Milton Santos em 1994 merece ser citado.

    Alguns brasileiros fizeram por merecer o Prêmio Nobel, notadamente:
    - César Lattes (Física), por ter comprovado experimentalmente a existência da partícula subatômica méson pi;
    - Mario Schenberg (Física), por ter formulado o "processo Urca", que explica a perda de energia nas supernovas, comparando-a ao famoso sumiço do dinheiro nos cassinos da Urca;
    - Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade (Literatura), que se fossem autores de língua inglesa seriam comparados a Shakespeare;
    - Carlos Chagas (Medicina), por ter identificado todo o ciclo da doença que hoje leva seu nome.

    De qualquer forma, continua sendo muito pouco, para uma nação do nosso tamanho.

    Abraço!
    PC

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