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domingo, 15 de dezembro de 2013

O Fluminense aos leões. Quem se importa?


A quem interessar possa, eu, presidente do Fluminense Football Club, declaro que:

1 - Somos o Fluminense Football Club. Não nos responsabilizamos pelas falhas alheias, mas honramos as nossas, assim como procuramos, desde nossa fundação, ser exemplo de competência, vanguarda, vitórias esportivas e valores para a sociedade.

2 - Em 1997, um presidente do Fluminense maculou a imagem do clube com um triste ato, compreensivelmente provocando a ira de muitos. Àquela época, é bom ressaltar, “viradas de mesa” ainda estavam em voga. Inúmeros foram os clubes que se beneficiaram desta forma. O Flu, porém, graças à explícita comemoração deste antidesportivo costume, foi tomado como pária pelo grande público e mídia especializada. Do dia para a noite, o bode expiatório.

3 - Em 1999 disputávamos a Terceira Divisão. Nada tivemos com Sandro Hiroshi, com o Botafogo tentar fugir do rebaixamento ganhando pontos que perdeu no campo, tampouco com o Gama recorrer à justiça comum. No ano seguinte, criaram um torneio nacional que substituísse o Brasileiro, desintegrando assim todas as divisões. O Flu, ainda assim, foi novamente tomado como o leproso máximo do desporto nacional. 

4 - Uma vez mais, o Tricolor nada tem a ver com o que hoje acontece envolvendo a Portuguesa de Desportos. Ainda assim, é alvo de críticas severas e injustas.

5 - O Fluminense conquistou, dentro de campo, 46 pontos. Com esta campanha, infelizmente, mas por sua única e exclusiva incompetência, foi rebaixado para a segunda divisão.

6 - O Fluminense está preparado para jogar a segunda divisão e não tentará qualquer artimanha jurídica para mudar esta realidade, pois entende que nada, nenhum fator extracampo, interferiu no seu desempenho.

7 - Sabidamente a Portuguesa de Desportos está sendo acusada de ter escalado indevidamente um jogador e corre risco de perder pontos que fatalmente a rebaixarão. Se assim for, o Tricolor entrará com um pedido para não jogar a primeira divisão em 2014. 

8 - O Fluminense é uma Instituição ciente de seus deveres, mas também de seus direitos. Se acaso precisar entrar na justiça, assim o fará, mas sempre quando se sentir legítima e legalmente lesado. Em qualquer outra situação, mesmo o ganho sendo legal, se não existir legitimidade que nos respalde, ignoraremos a possibilidade de recurso.

9 - Não estamos optando por pagar absolutamente nada. O Fluminense não é devedor. Somos, isto sim, co-fundadores do futebol no Brasil. Exigimos respeito de adversários e da mídia. Se assim não acontecer, se julgarmos que estamos sendo vítimas de uma campanha odiosa e injusta, aí sim, acionaremos nosso Departamento Jurídico para que seja preservada nossa imagem. Direito de expressão não garante ofensa à honra e imagem de uma Instituição centenária.

10 - A grandeza do Fluminense não se traduz apenas dentro de campo. Somos honrados, corretos, zeladores de conceitos aparentemente esquecidos por muitos. Assumimos nossos erros assim como pretendemos manter nossas virtudes. Assim foi no início, é agora e o será para sempre.


Caros, a última semana foi provavelmente a mais tétrica da centenária história tricolor. A mais tétrica, sem exageros.

Não me venham com queda para a “terceirona”, por favor. Não apenas o regulamento era esdrúxulo, como o momento, um clube absolutamente falido, sem jogadores nem dinheiro, apenas cumpria o que dele se esperava. Cair pelas tabelas era previsível. Ainda que nos machucasse, não nos surpreendia.

Desta vez foi diferente. Desta vez o Fluminense vinha de um título. Entrou em 2013 como atual campeão brasileiro, terminou como rebaixado para a segunda divisão. 

O modelo alardeado pelo presidente de pano como “vencedor”, novamente deixou escancaradas suas fétidas entranhas. Não é a toa que o Flu, entra ano, sai ano, briga para não cair. Dinheiro pode até comprar centroavante bichado e marqueteiro, mas não inteligência. Pode pagar pela consciência da massa, mas competência e profissionalismo, que é o que interessa, são outros quinhentos.

Não bastasse o rebaixamento, eis que veio a péssima notícia: a Portuguesa de Desportos escalou Héverton sem que pudesse tê-lo feito. 

O obscuro jogador entrou na última partida, contra o Grêmio, um jogo que não valia rigorosamente nada. Portanto, de acordo com o regulamento e a falta de bom senso, logo mais tem enormes chances de perder 4 pontos, sendo assim rebaixada para a segunda divisão. Quem sobreviverá na primeira? Nós.

Sobreviver é o termo exato. Quem viveu 1997 sabe do que estou falando.

Torci para que esta ou aquela atitude fosse tomada, mas Peter e Mario Bittencourt, dois advogados, infelizmente não me decepcionaram. Comportaram-se exatamente como imaginei.

Peter, não custa lembrar, presidente do Fluminense, ficou calado. Burrice? Covardia? Falta de preparo? Difícil dizer. Alguns poderão alegar que um pouco de cada. Eu, realmente, não sei dizer.

Já Mario Bittencourt ganhou seu momento de fama. Fez o que a maioria dos advogados adora fazer, que é professorar para ignorantes. Regurgitar técnicas e discursos como se fossem definitivos, ainda que, claro, estivessem defendendo a Lusa, tranquilamente poderiam inverter a lógica, cada palavra.

Peter e Mario, cada um a seu modo, demonstraram exatamente a distância que existe, hoje, entre o Fluminense e aqueles que o representam. 

Nada, nada mesmo será mais maléfico para o Tricolor que passar outro ano, e não só, mas décadas e décadas, sendo acusado de carregar um tapete debaixo do braço. E assusta constatar que a maioria não está nem aí. Como se a imagem da instituição, tão somente o que há de mais importante a ser preservado, não tivesse qualquer relevância. Como se, de fato, pudéssemos, todos nós, tricolores, ocupar cada mesa de bar na cidade e no Brasil, explicando o porquê de o Flu estar sendo injustiçado. Como se fosse razoável a ideia de que convenceríamos milhões, ou pelo menos grande parte das pessoas, de que o Flu nada tem a ver com incompetência lusitana, e que portanto temos mesmo que jogar na A após termos sido rebaixados para a B.

Uma hipótese absurda, que de todo modo foi soterrada quando Peter e Mario decidiram entrar no cenário como interessados no julgamento. Argumentar que o Flu não tem nada a ver com a questão já não é possível. 

Peter passou a semana inteira calado, permitindo que a grande mídia sapateasse em cima do Tricolor. Depois, resolveu abrir a boca para fazer um discurso tão pacato quanto burro, ao dizer que o Botafogo fez bem em 1999, quando foi atrás dos pontos que perdera no campo  para o São Paulo por 6 a 1, dado o imbróglio Sandro Hiroshi.

Ou seja, o Flu, acusado, até hoje e para todo o sempre, como o clube que precisa “pagar a série B” de 1999, uma virada de mesa provocada pelo Botafogo, já que o Tricolor jogava e ganhava a série C e jogaria a B, não tivesse o clube de General Severiano apelado ao tapetão, publicamente diz que a virada foi correta. 

O presidente deveria ter aproveitado o momento para esclarecer uma série de fatos e proteger a imagem do Tricolor, mas, bem ao contrário, elogiou o Botafogo, ignorando assim sua culpa. Um gênio.

Peter e Mario não devem saber, pois não vivem o mundo real, mas futebol se decide apenas, única e exclusivamente, em dois ambientes: no gramado e na mesa de bar. 

No campo, você ganha, empata ou perde, mas no boteco a partida continua. Não termina nunca. Os gols continuam a ser comemorados, os pênaltis não marcados são lamentados, os títulos festejados.

Peter e Mario não são torcedores de arquibancada. São, além de tudo, advogados, claramente daqueles que não se interessam pelo legítimo, mas apenas pela manipulação do legal.

Se Peter e Mario não me decepcionaram, pois agiram exatamente como esperava que fossem agir, o mesmo não posso dizer da torcida tricolor.

Entendo o torcedor do Fluminense. Claro que sim. Só de ler os inacreditavelmente bairristas discursos destilados pela ESPN, dá vontade mesmo de chutar tudo para o alto. O Fluminense, em parte justamente, paga o preço por uma série de comportamentos de fato lamentáveis, todos cristalizados na champagnota de Álvaro Barcellos. Mas isto não dá o direito a quem quer que seja, ainda mais em se tratando de um jornalista, formador de opinião, de sapatear em cima da honra de um clube centenário.

Ainda assim, por mais que nos irritem as injustas e por vezes absurdas palavras de parte da imprensa e torcedores adversários, não consigo compreender tamanha desfaçatez e cinismo de nossa parte.

Todos nós, de uma hora para outra, viramos advogados de porta de cadeia. Acreditamos piamente que a lei escrita é a que vale, que não são necessários julgamentos, que ponderações e nuances deste ou daquele caso, simplesmente não têm a menor importância.

Mas o principal, o que mais me incomoda, é a não-percepção do cenário que estamos desenhando para nós mesmos. 

Fomos rebaixados no campo, merecidamente rebaixados no campo, e possivelmente subiremos graças à escalação equivocada de um jogador desimportante, que teve atuação desimportante, em poucos minutos de um jogo desimportante. Pode ser legal a queda da Lusa? Sem dúvida que sim. Será legítima? Obviamente não.

Se o sujeito tiver um mínimo de honestidade intelectual e inverter a situação, colocando o Tricolor no lugar da Lusa, constatará o tamanho do absurdo.

O momento é desconfortável, mas o Fluminense e sua torcida estão fazendo de tudo para torná-lo insuportável.

Na série A, imerecidamente, ou na B, com louvor, o Tricolor mais uma vez terá seu nome jogado no lixo.

O presidente não se importa, o advogado não se importa, e, ao que parece, nem mesmo sua torcida.

Que pena.

(*) Este texto começa com uma carta que deveria ter sido divulgada para o grande público. Jamais foi redigida. Jamais seria redigida por quem hoje comanda o Fluminense.

(Mario Vitor Rodrigues, escritor e torcedor do Fluminense, já colaborou outras vezes com este blog.)

4 comentários:

  1. Mario,

    Antes de mais nada, muito obrigado por este e pelos outros textos que você me permitiu utilizar para abrilhantar este blog.

    A carta que você gostaria de ter visto redigida é praticamente a mesma que eu gostaria de ter visto.

    Se eu fosse um juiz do STJD, me declararia incapaz de julgar a causa, como faria com qualquer matéria relativa ao clube do meu coração, direta ou indiretamente. Mas se tivesse que decidir, provavelmente votaria pela perda dos pontos da Portuguesa e do Flamengo, já que estes de fato infringiram o regulamento do Campeonato. E neste país em que vivemos, aberto o precedente, sai de baixo.

    Se eu fosse o presidente do Fluminense, não entraria como "terceiro interessado" no julgamento, e sequer cogitaria entrar com recurso em caso de vitória da Lusa na primeira instância. Em suma, seria mero espectador do processo. (Mas, claro, faria uma declaração muito próxima à sua "carta".)

    E sim, só jogaria a Série A de 2014 se fosse obrigado a fazê-lo pela CBF. Simples assim.

    Tenho sérias preocupações com a imagem do clube. E também me espanta a falta de cuidado com esse aspecto, por parte de dirigentes, torcedores (de outros clubes e nossos) e jornalistas.

    Enfim, não sei para que lado devo torcer nesta 39ª rodada.

    Que pesadelo. Seria tão melhor se nada disso estivesse acontecendo...

    Abraço,
    PC

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  2. Já disse e volto a repetir, se Fred tivesse jogado 3 minutos quando estava suspenso, caiam o carmo, a trindade e o cristo redentor em cima de nós, e os "justiceiros" que agora pedem perdão para a incompetencia da lusa, EXIGIRIAM A PLENOS PULMÕES QUE O REGULAMENTO FOSSE CUMPRIDO e que o Flu perdesse 4 pontos.

    Essa história de fidalguia é pra otários, porque os torcedores rivais estão se cagando pra isso, desde que se cumpra o destino da segundona para o Flu, não importando se para isso, a lei não seja cumprida.

    Se os outros fizeram merda por incompetencia própria, azar o deles, nós não podemos pagar por erros que não cometemos.

    Temos a consciencia tranquila que cumprimos todas as normas do regulamento, mas se a lusa e a mulambada não forem punidos vai virar bagunça, e o STJD não mais terá razão para existir.

    vai ser o vale tudo

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  3. PC,

    a portuga e o urubu erraram e devem perder os pontos, mas quem realmente está pagando pela incompetência desses clubes é o Flu. Como tenho visto pessoas e sites malhando o Tricolor, como se ele fosse o culpado de todas as maracutaias feitas por corinthians, botafogo, são paulo, grêmio e outros clubes no passado. Uma vergonha! Algumas pessoas até aceito (são desinformados ou desqualificados ou torcedores cegos por seus clubes), mas outros, com certo conhecimento, mostra o quanto o futebol é mesquinho, baixo, enoja. Ando de saco cheio desse blá-blá-blá todo. Tomara que passe logo essa segunda-feira e se decida de uma vez. E ainda teremos a segunda instância. É tudo muito chato.

    Mas continuo achando, mesmo sem fazer parte dessa palhaçada, o Flu deve acatar a decisão do tribunal. Seja na série A ou B, devemos jogar. Afinal, já encontraram o clube para Cristo. Vamos ouvir que mais uma vez viramos ou tentamos virar a mesa mesmo...

    ST(triste)

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  4. A LEI ESTÁ AÍ PARA SER CUMPRIDA!! SE EXIGE TANTO DOS CONGRESSISTAS, DA PRESIDENTA, DO LULA, DO PT, DO MENSALÃO, DO CABRAL, DO PAES, DA PUTA QUE O PARIU, E AGORA QUE A MINÚSCULA PORTUGUESA E AQUELE BANDO DE LADRÕES DA GÁVEA ESCALARAM JOGADORES IRREGULARES A CULPAR É NOSSA!!! AH VAI PRA MERDA TODO MUNDO!!!! O BOTAFOGO APELOU UMAS TRES VEZES NO PASSADO PRA NÃO CAIR, OS GAMBÁ CAÍRAM E NÃO JOGARAM, GREMIO, OS BAMBI, PARMEIRA, UM MONTE DE GENTE CAIU E NÃO JOGOU!!! NÓS CAÍMOS, JOGAMOS A SEGUNDA, A TERCEIRA, ARMARAM, COMO EM 1987 NA COPA UNIÃO E JOGAMOS, FOMOS ELIMINADOS PELO SÃO CAETANO E POR CAUSA DO MINÚSCULO BOSTAFOGO FICAMOS NA PRIMEIRA, SIMPLESMENTE PORQUE NÃO TINHA ACESSO E DESCENSO!!!! A MINHA RESPOSTA PRA ESSA SACANAGEM TODA É A SEGUINTE: TIME GRANDE NÃO CAI!!! OU ESTAMOS NO LUGAR CERTO NA HORA CERTA!!!! OU SE A PORTUGUESA E OS MULAMBO NÃO PERDEREM PONTOS AÍ SIM É UMA VIRADA DE MESA!!! OU SIMPLESMENTE VAI PRA MERDA!!!! ESTÁ NA HORA DE MUDAR ESSA PORRA TODA!!!!

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