O jogo São Bento x Coritiba, na terça-feira 6, pela 35ª rodada da Série B, não tinha nenhum componente especial. O Coritiba ainda tinha uma remotíssima chance de alcançar a promoção para a Série A, mas não era um cenário factível, tanto que a derrota acabou sepultando qualquer possibilidade matemática de acesso (o Coxa passará mais um ano na segundona). Porém, um amigo me chamou a atenção, antes do jogo, para uma anomalia que ele observou em sites de aposta relacionados a esta partida.
Na aposta específica para mais de 2 gols no jogo, as cotações em jogos de alto nível no futebol brasileiro normalmente ficam um pouco acima de 2, isto é, o investidor recebe o dobro do valor investido e mais um trocado. As cotações naturalmente flutuam ao longo do tempo, de acordo com o volume de apostas. Quanto mais apostas em um determinado cenário, os sites naturalmente reduzem a respectiva cotação, como medida para se proteger de eventuais prejuízos. No outro sentido, e as apostas pipocam no cenário oposto, a cotação é aumentada pelos sites. As flutuações, portanto, ocorrem, mas não costumam ser bruscas, uma vez que o mercado se ajusta naturalmente.
Para nosso São Bento x Coritiba, tudo começou como deveria. De acordo com o OddsPortal, a cotação inicial para mais de 2 gols, no site Bwin, era de 2,40. Porém, algumas horas antes do jogo, o número começou a cair bruscamente, chegando a 1,55, um valor muito esquisito para essa aposta. Quem acompanha futebol sabe que partidas com três gols ou mais até acontecem, mas são menos comuns que jogos com dois gols ou menos. Essa queda acentuada da cotação, muito provavelmente, se deveu a um aumento brusco no volume de apostas.
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| Evolução das cotações no site Bwin. Fonte: OddsPortal. |
Em resumo, alguém (ou alguéns) com muito dinheiro acreditou que esse jogo específico teria mais de 2 gols. Curiosamente, aos 37 minutos do primeiro tempo, o jogo já estava 2 a 1 para o São Bento, e a aposta já estava ganha, com direito a dois gols de pênalti...
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| A marcha do placar. Fonte: Futbol24. |
Vale salientar que a variação da cotação para esse patamar estranhamente baixo também foi verificada em outros sites de apostas. No Unibet, por exemplo, chegou a 1,58; no Bet365, alcançou 1,57; no Bet-At-Home, 1,52.
Mas essa queda de cotação é mesmo improvável, PC? Sim, amigos, é improvável. Para efeito de comparação, abaixo estão as cotações mais baixas registradas para essa mesma aposta, no mesmo site Bwin, em cada um dos outros jogos da Série B na terça-feira 6:
- Londrina x Criciúma: 2,10;
- Brasil de Pelotas x Vila Nova: 2,40;
- Atlético Goianiense x Avaí: 2,10;
- Ponte Preta x Boa Esporte: 2,10;
- Paysandu x Oeste: 2,40;
- Figueirense x Guarani: 2,00;
- CRB x Juventude: 2,40;
- Fortaleza x CSA: 2,30.
Como se vê, em todos os outros oito jogos, a cotação permaneceu em pelo menos 2,00. A verificação da evolução dessas cotações no OddsPortal, aliás, nos dá outro ponto de desconfiança: algumas delas sequer se modificaram, outras mudaram duas ou três vezes, mas a de São Bento x Coritiba teve um longo histórico de mudanças ao longo do dia (a figura que expus acima só mostra parte delas!). Isto significa que houve mesmo um alto volume de apostas neste item específico.
Alguma informação específica sobre a partida poderia sugestionar apostadores a acreditarem que haveria muitos gols no jogo? Eu acho que não. As médias de ambos os clubes na competição indicam aproximadamente 1 gol-pró e 1 gol-contra por jogo, de modo que o mais provável seria o jogo ter menos de 3 gols, não o contrário. Os três jogos anteriores do Coritiba tiveram só 2 gols cada (1 x 1 CSA, 1 x 1 Paysandu, 0 x 2 Guarani). Do outro lado, dos cinco jogos anteriores do São Bento, só um teve 3 gols. Portanto, São Bento e Coritiba não são exatamente times goleadores, tampouco costumam sofrer muitos gols.
O caso mais famoso de manipulação de resultados no futebol brasileiro foi a chamada "Máfia do Apito", que contaminou partidas do Campeonato Brasileiro de 2005. Os onze jogos apitados pelo árbitro Edílson Pereira de Carvalho naquela competição foram anulados e refeitos. Ele admitiu que recebeu dinheiro para favorecer um grupo de apostadores, tentando forçar resultados por eles determinados.
A manipulação de resultados esportivos é crime, previsto nos artigos 41-C, 41-D e 41-E do Estatuto do Torcedor, com pena de reclusão de dois a seis anos e multa, conforme mostrado abaixo.
Não estou acusando ninguém, mas sim apenas expondo evidências que indicam uma suspeita de manipulação de resultado na partida. A fumaça está aí, mas a investigação sobre se há fogo não cabe a mim, naturalmente.
PCFilho
Faz sentido.
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