
Amigos, hoje pela manhã olhei o calendário e vi: "dezesseis de julho". No mesmo instante, sofri o impacto. A boa memória para datas me fez lembrar imediatamente da tragédia que eu não vivi. Há sessenta anos, um gol silenciava uma multidão. Ghiggia corria pelo flanco direito... chutava... marcava... e ali começava o inferno de Barbosa. Abatido, cabisbaixo, o goleiro do Vasco se levantava lentamente, desejando sumir.
Muito já se escreveu e muito já se falou sobre a fatídica final. Provavelmente, aqueles noventa minutos são os mais comentados da história do Brasil. Sessenta anos depois, continuamos a fazê-lo. A impressão é que as seis décadas passaram em vão sobre aquela derrota. Já vencemos cinco Copas do Mundo, mas nada parece curar a ferida de 1950.
Outro dia, tive o prazer de conversar com uma das testemunhas da arquibancada, o senhor Armando Giesta. E ele me relatou assim o gol fatídico: "o Uruguai tinha um puta ataque, o Schiaffino, o Míguez e o Ghiggia, muito bom ataque. Quando eles fizeram 2 a 1, onde estava o Juvenal? Lá na frente, lá no ataque, e o Bigode sozinho para marcar o Ghiggia. Sem cobertura, sem cobertura! E o Schiaffino e o Míguez fechando no meio. O Barbosa teve que sair. Eu tava bem ali atrás e vi: ele foi para o meio e depois não conseguiu voltar".
Juvenal, Bigode, Barbosa e também o artilheiro Ademir já sucumbiram à cruel imposição da natureza humana. Faleceram sem muito alarde: não houve o enterro com as honras que mereciam. Às vezes reclamamos que nossos heróis não são homenageados em vida. Pior é o caso dos quase-heróis, que não são homenageados nem depois de mortos. Pior ainda é o caso de Barbosa, que teve que suportar o peso da culpa pelo resto de sua vida, e ainda tem que suportá-lo depois de morto.
Particularmente, acredito na teoria de que aquela derrota é que nos fez os melhores do mundo. Talvez, se tivéssemos vencido, aquele fosse até hoje o nosso único título. A inesperada derrota gravou-se nos nossos corações, de tal forma que a obsessão pela vitória nos fez melhorar, melhorar e melhorar.
A verdade é que considero o escrete de 50 digno de todas as homenagens. Inclusive Barbosa, inclusive Bigode, inclusive Juvenal. São todos eles heróis brasileiros: Barbosa, Augusto e Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico, e também o técnico Flávio Costa, e também os reservas Castilho, Eli, Nena, Nilton Santos, Noronha, Rui, Adãozinho, Alfredo, Baltazar, Maneca e Rodrigues.
E é a eles que dedico estas mal traçadas linhas.
PC
2008 foi o 1950 tricolor.
ResponderExcluirPodemos ganhar 6 Libertadores, aquela será pra sempre lamentada.
Ramóm disse tudo...
ResponderExcluirSobre 1950, realmente, um absurdo o que se fez com os jogadores de 1950. Eles não mereciam o sofrimento que passaram...
ResponderExcluirO Maracanã deveria ser TOTALMENTE posto abaixo e reerguido ali um estádio multi-uso, com local para eventos e shows, além de um belo museu de futebol. Sairia muito mais barato do que o gasto até hoje somado ao que será gasto para a Copa. Em termos internacionais, não digo clubisticos, não traz boas recordações a ninguém!
ResponderExcluirEm tempo: nossa grande Dalton fechou com o Internacional. Esse final já estava escrito.