Foto: Alexandre Cassiano. |
Amigos, estava escrito em monumentais profecias de sessenta séculos: em meio ao caos, um arrepio percorreria a Cordilheira dos Andes de norte a sul e o Fluminense levantaria a Copa Libertadores aos céus do Rio de Janeiro, sob os olhares atentos desta América de futebol e da belíssima lua cheia de 4 de novembro de 2023.
E foi uma jornada maravilhosa. Do início ao fim do torneio, ninguém jogou mais bola do que o Fluminense, ninguém! Quando enfiamos irresistíveis 5 a 1 no River Plate, ainda na fase de grupos, apelidei o time de Carrossel Tricolor – convenhamos, o melhor nome possível para a bagunça organizada de Fernando Diniz, este caos em que nenhum jogador guarda posição, mas todos sabem exatamente o que precisam fazer.
E o gol que abriu o placar na decisão contra o Boca Juniors foi uma demonstração prática do Carrossel: os dois pontas – Keno e Jhon Arias – tabelando entre si em um dos lados do campo, para fazer a bola chegar a Germán Cano. Em que outro time do mundo o ponta-esquerda vai lá para a direita tabelar? É o caos, amigos, o mais perfeito caos! E quando a pelota chega ao artilheiro do mundo, o goleador mais letal que uma adaga afiada na China, não há defesa no mundo capaz de pará-lo. Fluminense 1 a 0.
E foi também o grande dia do Estádio Mário Filho. A tempestade de bandeiras tricolores no Maracanã jamais será esquecida. Com seus vivos, doentes e mortos, a arquibancada pulsante carregou o Fluminense rumo à glória eterna. Aquela gente, representando milhares, representando milhões, fez tanta história como os guerreiros no gramado. Se o clube mais tradicional do futebol brasileiro agora tem seu nome gravado na Copa Libertadores, é também graças ao nosso sangue, ao nosso suor, às nossas lágrimas.
E foi também o triunfo do futebol brasileiro. Em tempos de futebol moderno, com a rigidez europeia de jogadores autômatos, o Fluminense demonstra que ainda é possível ser campeão com base numa caótica troca de passes, com base no drible, com base na improvisação, com base na ginga que fez do Brasil a nação mais vencedora deste esporte. Foi a vitória do futebol-arte sobre a robotização.
E foi também uma história de superação de John Kennedy. O menino, que começou a vida na pobreza da favela, que começou o ano emprestado à Ferroviária de Araraquara, agora está eternizado como um dos heróis da epopeia tricolor. Coube a ele marcar, na prorrogação, aquele que seria o gol do título, do doce e santo título, com um espetacular chute de primeira – um golaço que está desde já gravado nos almanaques e nas enciclopédias tricolores.
Antes do jogo final, a caminho do Maracanã, fui abordado por um tricolor paupérrimo, provavelmente um sem-teto. Ele me fez somente um pedido, um comovente pedido: queria tocar na Camisa do Fluminense. O homem beijou o escudo e fez o vaticínio: "nós vamos ganhar! Estou há quinze anos com esse grito entalado! Nós vamos ganhar!". E nós ganhamos.
Também o Profeta havia feito a previsão. Após cada triunfo durante a campanha, lá estava ele, na distante caverna que habita, coçando sua longa barba branca e repetindo: "o Fluminense será o campeão! o Fluminense será o campeão!". E o Fluminense foi o campeão.
A Copa Libertadores sorri com seu destino perfeito: a abarrotada sala de troféus da rua Álvaro Chaves, onde descansará em excelente companhia. Enfim, estão cumpridas as profecias de seis milênios: o Fluminense é o campeão da América!
PCFilho
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