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| Rojas e o rojão. |
Nesta quinta-feira, 4 de setembro de 2025, a Seleção Brasileira enfrentará o Chile, no Maracanã, em partida válida pela penúltima rodada das eliminatórias da Copa do Mundo. O jogo não vale praticamente nada: a Seleção já está classificada para o Mundial da América do Norte, e o Chile não tem mais nenhuma chance de conseguir uma vaga. Será, assim, um amistoso de luxo.
A situação era muito diferente há quase exatos 36 anos: no domingo, 3 de setembro de 1989, a Seleção Brasileira enfrentava o Chile, no antigo Maracanã, pela última rodada das eliminatórias da Copa do Mundo. E ali valia tudo: quem vencesse iria para o Mundial da Itália; quem perdesse estaria eliminado.
O clima antes do jogo era de muita tensão: a Seleção Brasileira corria o risco de não jogar a Copa do Mundo, algo que jamais havia acontecido (ainda hoje não aconteceu). No jogo de Santiago (13/08/1989 - Chile 1 x 1 Brasil), os tumultos no Estádio Nacional foram tamanhos que a FIFA transferiu o jogo seguinte do Chile, contra a Venezuela, para um campo neutro, na Argentina. Os chilenos se sentiram injustiçados pela punição – e ainda encaravam a decisão no Maracanã como a chance de uma revanche de 1962, quando a Seleção os eliminou na semifinal de sua própria Copa do Mundo, no mesmo Estádio Nacional de Santiago.
A expectativa de casa cheia se cumpriu no domingo: o jogo foi disputado diante de uma daquelas multidões épicas que só cabiam no bom e velho Maracanã (hoje inimagináveis 141.072 pagantes).
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| Careca briga pela bola com os chilenos. |
A Seleção vencia por 1 a 0, gol de Careca aos 4 minutos do 2º tempo, com assistência de Bebeto, e encaminhava sua vaga na Copa do Mundo. O otimismo, no entanto, subitamente daria lugar a uma sensação de preocupação geral, cerca de vinte minutos após o gol.
Enquanto o goleiro Roberto Rojas rolava no gramado, com sangue jorrando de sua cabeça, a torcida nas arquibancadas e cadeiras e na geral do Maracanã não podia acreditar no que estava vendo. Estávamos tão perto de carimbar o passaporte para a Itália, mas aquele foguete que alguém havia estupidamente lançado no gramado provavelmente colocaria tudo a perder.
Parecia claro que o rojão vindo do setor das cadeiras do Maracanã havia atingido Rojas em cheio. Os jogadores chilenos, transtornados, argumentavam com o árbitro argentino Juan Carlos Loustau e faziam gestos obscenos em direção aos torcedores que os vaiavam. Eles acabaram decidindo abandonar o jogo, em solidariedade ao colega ferido. Loustau aguardou o retorno dos chilenos por vinte minutos e encerrou a partida.
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| Rojas com o curativo na cabeça. Foto: AFP. |
Nos dias seguintes, no entanto, ficou demonstrado pelas imagens que Rojas havia fingido ser atingido pelo rojão, que na verdade caiu a cerca de um metro dele. O goleiro confessou que fez um corte no próprio rosto com uma navalha que havia escondido em uma de suas luvas, concretizando um plano que havia arquitetado antes ainda do jogo (sua ideia original era simular ser atingido por uma pedra, tendo sido o lançamento do foguete em sua direção um desses acasos do destino).
Com a farsa chilena exposta, a FIFA confirmou a classificação da Seleção Brasileira à Copa do Mundo, decretando a vitória do Brasil com o placar oficial de 2 a 0 (o que me causaria dor de cabeça anos depois: como, nas estatísticas de confrontos deste blog, eu sempre considero o placar do jogo no campo (no caso 1 a 0), e a CBF considera o placar oficial (no caso 2 a 0), a divergência de um gol entre as minhas estatísticas e as oficiais persiste até hoje).
Roberto Rojas, que era goleiro do São Paulo, foi banido pela FIFA de exercer qualquer função no futebol profissional. Após diversos pedidos, a federação internacional lhe concedeu o perdão em 2001, ano em que ele curiosamente voltou a viver no Brasil, para trabalhar como preparador de goleiros do São Paulo. Ele chegou a assumir o comando técnico do clube paulista em 2003, quando conseguiu a classificação à Copa Libertadores do ano seguinte. Entre 2014 e 2015, Rojas passou por diversos problemas de saúde, em decorrência de uma grave hepatite e uma torção pulmonar. Ele recebeu um transplante de fígado em São Paulo, sobreviveu e ainda mora no Brasil.
Rosenery Mello, a secretária da Light que lançou o rojão em direção ao gramado em sua primeira ida ao Maracanã, foi detida pela polícia e nos dias seguintes transformou-se subitamente em uma celebridade nacional. Aos 24 anos, a “fogueteira do Maracanã” chegou a posar nua para a Playboy: foi a capa da edição 172 da revista, em novembro de 1989, por 40 mil dólares fixos, acrescidos de um porcentual das vendas. Segundo o site do jornalista Milton Neves, ela faleceu em 4 de junho de 2011, aos 45 anos, no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, em consequência de um aneurisma cerebral.
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| A Playboy número 172: “estourando a festa, a nudez e a graça da fogueteira do Maracanã: Rosenery Mello”. |
A seleção do Chile foi punida não só com a eliminação, mas também com a proibição de participar das eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Desde então, os chilenos só conseguiram chegar a outros três Mundiais: em 1998, 2010 e 2014 – e em todas as três ocasiões, foram eliminados nas oitavas-de-final, sempre pela Seleção Brasileira. Seria talvez uma daquelas “maldições” que assolam o futebol? A julgar por aquele chute de Mauricio Pinilla no travessão, no último minuto da prorrogação, eu diria que sim…
PCFilho






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