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Fonte da imagem: livro oficial da CBF. |
(por
Thiago Rachid)
Numa visita ao Museu do F. C. Barcelona, a certa altura me sentei na arquibancada para admirar o estádio e reparei no constante fluxo de pessoas que não cessava por um instante sequer. Curioso, indaguei a uma funcionária do clube catalão sobre qual era a média de visitantes diária no Museu. Quase caí pra trás com a resposta: média de dez mil visitantes por dia, sendo que uma semana antes haviam alcançado o recorde de treze mil pessoas.
O ingresso custa 23 euros e, se considerarmos que quase ninguém sai com a mão abanando de lá, podemos estabelecer para efeito de especulação um gasto médio de 50 euros por visitante – por baixo – e teremos um faturamento médio de meio milhão de euros por dia!
Os números são impressionantes, mas devemos considerar que estamos falando de um clube único, em uma região com sentimento local traduzido no amor pelo time de futebol, com o maior estádio da Europa e na melhor fase da sua história.
Onde quero chegar com isso? Bem, gostaria que nos perguntássemos: até onde podemos chegar com o ativo histórico que o Fluminense tem para explorar?
Sou amador e não entendo nada de marketing, mas vamos estabelecer um ponto de partida: o FC Barcelona se confunde com a própria cidade e é um ponto turístico para todos os visitantes da cidade, uma espécie de Maracanã de lá. O Fluminense não alcançaria esse status, uma vez que é apenas um dos três grandes clubes dessa cidade, ainda que para nós tricolores seja o maior.
Além disso, o Fluminense nos dias atuais não tem o status que tem o Barcelona no cenário internacional e a cidade do Rio talvez nem receba o fluxo de turistas que recebe a cidade de Barcelona.
Suponhamos então uma visitação equivalente a modestíssimo 1% do público que visita o Barcelona visitando um imaginário Museu do Fluminense, ou seja, cem pessoas por dia. Se compararmos com a realidade do clube espanhol, parece pouco, mas para a nossa realidade me parece uma meta bastante ambiciosa.
Se contarmos apenas com o público torcedor do Fluminense, não conseguiríamos esse número de visitas diárias, pois dificilmente o torcedor vai ao Museu mais de uma ou duas vezes se tiver que pagar por isso. É esse o ponto em que eu quero chegar. O Museu do Fluminense deve transcender a história do próprio clube, porque a história do Fluminense é parte considerável da história desse país e da maior marca esportiva do Brasil que é a Seleção Brasileira de Futebol.
Hoje temos uma Sala de Troféus muito bonita e o torcedor do Fluminense pode se divertir e se orgulhar em conhecê-la. Mas quantos turistas fanáticos por futebol viriam ao Fluminense para visitar a sala de troféus de um clube para o qual não torcem e que não é sequer o mais popular da cidade? O apelo da atração não seria tão grande para a maioria dos turistas. Mas se houvesse um Museu em que o turista pudesse conhecer o Marco Zero da Seleção Brasileira, em que houvesse um acervo não só referente ao clube que abriga esse marco, mas também da principal seleção de futebol do mundo, aí o patamar da atração seria outro.
Transformar a Sede das Laranjeiras no Marco Zero do futebol brasileiro é uma medida que por si só já deveria ter sido tomada. Ali nasceu a seleção pentacampeã, ali o gigante futebol brasileiro deu seus primeiros passos. Quem não conhece a história e passa pela Rua Pinheiro Machado ignora totalmente que está passando por um solo sagrado para os amantes do futebol brasileiro. Não há qualquer referência nem dentro, tampouco fora do Clube.
Vejam, meus amigos, o Fluminense esconde suas glórias e suas virtudes. Não basta dizer que "nós somos a história", é preciso mostrar e ganhar dinheiro com esse ativo.
Repito: sou um ignorante completo em matéria de marketing, mas sei o que é capital e renda. E me parece que temos um capital formidável e não geramos renda com ele. E não se pode dizer que não há dinheiro ou espaço para isso, pois não há nem projeto para sabermos de quanto espaço precisaria e quanto dinheiro isso custaria.
A culpa não é dessa administração apenas, mas de todas que passaram por lá até hoje e das que estão por vir, pois acho muito improvável que alguém entre os que pretendem chegar ao poder do Fluminense tenha qualquer ideia ou projeto a respeito disso.
Se houvesse em Laranjeiras tanto empenho para vender a marca Fluminense quanto existe para cultivar as vaidades e a própria imagem dentro do Clube, o caixa do Fluminense iria agradecer e nós não precisaríamos estar aqui debatendo esse assunto.
(texto escrito pelo meu amigo
Thiago Rachid, que já colaborou
outras vezes com o blog)
Sempre que passo pela rua Pinheiro Machado acompanhado de alguém interessado por futebol, comento: "você sabia que foi nesse estádio aí que a Seleção Brasileira nasceu e ganhou seus primeiros títulos?".
ResponderExcluirInfelizmente, quase todos respondem que não sabiam. Até mesmo alguns torcedores do Fluminense. E isto só se deve a um motivo: falta de ação por parte do Fluminense, ausência de propaganda da própria história.
Nosso muro, na parte voltada para a rua Pinheiro Machado, poderia muito bem ser utilizado para fazer essa propaganda. Um escrito "Aqui nasceu a Seleção Brasileira", por exemplo, seria um bom primeiro passo.
Ideias simples, que o departamento de marketing do clube, mesmo regiamente remunerado, não leva para a frente.
O exemplo nem precisa vir de tão longe. Os nossos rivais da cidade realizam ações eficazes para exaltar a própria história.
ResponderExcluirÀ frente da sede do Botafogo, há um muro recheado de pinturas dos ídolos do clube - Manga, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Quarentinha, Heleno, e até Túlio, Gonçalves, Loco Abreu e Jefferson.
O Vasco não se cansa de propagandear sua suposta luta contra o racismo no futebol. Os muros do Estádio de São Januário possuem várias referências neste sentido.
O Fluminense, na contramão, parece tentar esconder sua história, ao invés de exaltá-la.
Excelente texto, idéia, visão. Imagina juntar um monte dessas e outras idéias e visões em um "workshop", o quanto de criações não viriam.
ResponderExcluirEu, por exemplo, imagino muitas também, se o amigo foi ao estádio do Barcelona deve ter visto logo de cara um enorme painel com os joadores. Quando eu fui, havia um gigantesco, com Ronaldinho em destaque além de Eto, Deco e cia. Passa-se pela Pinheiro Machado e a única expressão de que ali está o fluminense é um escudo velho na lateral da arquibancada anexa ao Palácio Guanabara. Numa das mais movimentadas ruas do Rio, o fluminense tinha que se expandir. Deveria ter um Fred de 18 metros, um Deco de 10m....
Além disso, esse muro podia ter conteúdo midiático e digital, mostrar gols, lances... A calçada do clube deveria ter no mínimo pés de uma calçada da fama, mesmo eu achando que há melhores idéias pra uma calçada num mundo de imagem e som.
E ainda, acho q pela história q possuímos, aquele quarteirão das ruas Moura Brasil, Alvaro Chaves e Soares Cabral já deveriam pertencer ao bairro "Fluminense". - "Onde você mora?" - "Eu moro no Fluminense, e você?".
Passo em frente ao Sport Recife e me envorgonho, eles com uma mega loja e nós naquela minúscula e pouco fornecida lojinha.
Mas reconheço toda a dificuldade. Essas idéias deveriam ter "vida própria" pra saírem do papel, no cenário atual, devem ser auto-sustentáveis. Porém, ñ vi nenhuma vontade pra se procurar e desenvolver essas iniciativas.
Abraços.