terça-feira, 21 de abril de 2009

Recordar é viver - Dinamarca conquista a Europa

Estádio Nya Ullevi, Gotemburgo, Suécia, 26 de junho de 1992.

Amigos, a Dinamarca entrara como convidada na Eurocopa de 1992, realizada na Suécia. Nas eliminatórias para o torneio, a Iugoslávia havia batido a equipe de Copenhague. Porém, às vésperas do certame, o Conselho de Segurança da ONU resolveu impor sanções à Iugoslávia (por causa das atitudes do governo de Belgrado diante das tentativas de independência de Croácia, Bósnia e Eslovênia). A UEFA foi intimada a excluir os iugoslavos do campeonato. Assim, a Dinamarca foi convidada para seu lugar. Faltava uma semana para a estréia, de modo que a equipe precisou ser totalmente improvisada. O time mais parecia um grupo de amigos que se juntou para jogar uma pelada no Aterro do Flamengo, no sábado.

O treinador Richard Møller-Nielsen, que estava se preparando para reformar a cozinha da sua casa, de repente se viu com uma missão mais desafiadora: anunciar uma convocação e, do jeito que fosse possível, tentar representar de forma digna a nação na Eurocopa de 1992. O primeiro pensamento foi chamar Michael Laudrup, o criativo meia armador do Barcelona. Porém, alegando cansaço após a temporada no clube espanhol, ele decidiu não atender ao chamado, vindo tão em cima da hora. Armar um escrete em uma semana já não é tarefa fácil; imagine armar um escrete sem o único craque disponível. Mesmo assim, ele aceitou o desafio, e montou o seu time de Aterro.

E o que aconteceu? O escrete vermelho foi um penetra um tanto quanto intrometido. Tão intrometido que chegou à final do campeonato! Relembremos a campanha da Dinamarca: na estréia, o 0 a 0 com a desfalcada Inglaterra não chegou a surpreender. Depois, veio a derrota para a anfitriã, no clássico escandinavo (1 a 0, gol de Brolin). Na rodada derradeira da primeira fase, o improvisado time dinamarquês tinha que vencer a poderosa França do técnico Michel Platini. "Impossível", pensaram todos. Amigos, Les Bleus não perdiam uma partida sequer havia três anos. Tão longa invencibilidade punha os franceses na condição de favoritos supremos da Eurocopa. Mas aconteceu o suave milagre: com gol aos 33 do segundo tempo, a Dinamáquina cravou um 2 a 1 no peito e na alma franceses. Os azuis perderam após três anos sem perder, e tiveram que voltar mais cedo para Paris.

Assim, passaram de fase a Suécia e a Dinamarca. Na outra chave, a recém-unificada e atual campeã mundial Alemanha e a atual campeã européia Holanda eliminaram a Escócia e a "Comunidade dos Estados Independentes" (CEI), nome dado à união de 12 países que formavam a decadente União Soviética. As semifinais foram Suécia x Alemanha e Holanda x Dinamarca. Os alemães bateram a equipe anfitriã por 3 a 2, em um grande jogo. Porém, o outro embate da semifinal foi mais dramático: dinamarqueses e holandeses fizeram um desses jogos imortais. A Dinamarca vencia por 2 a 1 até os 41 minutos do segundo tempo, quando Rijkaard empatou para a poderosa Holanda. A partir desse momento, começou a brilhar intensamente a estrela de Peter Schmeichel, o goleiro do quadro de Copenhague.

A entrosadíssima e preparadíssima Holanda fez uma das prorrogações mais ousadas jamais vistas: a nova laranja mecânica era toda ataque. Porém, havia uma muralha sob os arcos dinamarqueses: Schmeichel não deixava passar nem pensamento. O arqueiro foi uma bastilha inexpugnável, amigos. O ataque holandês, comandado pelo lendário Marco Van Basten, deu 50, 100, 200 chutes. Não importava: a bola ia e voltava como se os chutes fossem contra um muro de concreto. Como não saía gol, foi necessária a loteria dos pênaltis. Schmeichel vestiu de vez o manto de herói nacional, ao defender a cobrança de Van Basten e garantir o 5 a 4. Assim, a improvisadíssima Dinamarca conseguiu sua vaga na final européia.

Hoje foi o grande dia do escrete vermelho, no Estádio Nya Ullevi abarrotado de gente. Cabe lembrar que foi aqui, em Gotemburgo, que nasceu o Rei Pelé, com o antológico gol sobre o País de Gales, em 1958. Dias antes, aqui também surgira o Mané Garrincha, entortando colunas russas na vitória por 2 a 0 sobre a União Soviética. Garrincha foi o primeiro grande herói do Nya Ullevi, e Pelé foi o segundo grande herói do Nya Ullevi. O terceiro mito do estádio nasceu hoje, e atende pelo nome de Peter Schmeichel.

Vejam a sonoridade deste nome: Peter Schmeichel. Reparem que os pais do arqueiro escandinavo tiveram uma felicidade tremenda na escolha do nome. "Que importância tem isso?", o leitor deve estar se perguntando. "Toda", responde o escriba. Amigos, o nome faz muita diferença na vida do sujeito. Pensem sempre no exemplo de Napoleão Bonaparte: se ele não se chamasse Napoleão, teria sido muito menos napoleônico do que realmente foi. Mas voltemos a Peter Schmeichel: um nome assim pomposo é a alegria suprema do espíquer, que deseja berrar feericamente com cada defesa sua. Gritar Schmeichel é quase tão empolgante quanto gritar gol, amigos. É, talvez, até mesmo mais empolgante que gritar gol.

E o que fez Schmeichel hoje? Amigos, ele parou o feérico ataque alemão. A Alemanha, do alto de sua condição suprema de campeã mundial, partiu para o ataque desde o primeiro minuto. Os primeiros quinze minutos foram de uma pressão tal que faria ruir muralhas ao redor do mundo. Mas Schmeichel estava lá, inexpugnável. Aos dezoito, a Dinamarca acertou um contra-ataque e cravou 1 a 0 no coração alemão, gol de Jensen. Depois disso, o jogo foi um treino de ataque contra defesa. O ataque alemão contra a defesa dinamarquesa. A retranca escandinava tinha seus defeitos, pois de vez em quando a bola chegava perigosa aos arcos. Porém, abaixo deles estava o lendário Schmeichel, que mais uma vez agarrava até pensamento. Aos 33 do segundo tempo, veio finalmente a recompensa: Vilfort fez 2 a 0, em outro contra-ataque fatal. Era o título dinamarquês, era a consagração suprema do escrete vermelho! O time improvisado derrubou o campeão do mundo, em mais um exemplo arrebatador do que o futebol é capaz.

Copenhague deve sua maior glória a Peter Schmeichel, o gênio que tornou inexpugnáveis as balizas do Nya Ullevi. É a ele que eu dedico esta crônica. É Schmeichel o grande personagem da Eurocopa de 1992.

PC

11 comentários:

  1. Como assim, sem vídeo??
    Aí vai:
    http://www.youtube.com/watch?v=mSBDEK5H2Tc

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  2. outro

    http://www.youtube.com/watch?v=6Hwc9kWn1n0&feature=PlayList&p=669F14AD109E3AD2&playnext=1&playnext_from=PL&index=51

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  3. Mais um, esse meio complicado de entender.

    http://www.youtube.com/watch?v=CpncYhTQcb0

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  4. Pra mim o Schmeichel foi um dos melhores goleiros de todos os tempos...
    As conquistas épicas são sempre maravilhosas, essa foi a maior de todas as Eurocopas!!!

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  5. Schmeichel, Pagliuca, Taffarel, goleiros fora de série

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  6. Rafs, já postei os videos.

    Ramón e Goten, concordo: Schmeichel foi o melhor que eu vi no gol. Do nível dele, de cabeça assim, só consigo pensar em Taffarel, Pagliuca, Preud'homme, Dasaev, Yashin, Barbosa, Castilho e Marcos Carneiro de Mendonça.

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  7. Na Copa de 94 só faltou ele... tinha Taffarel, Pagliuca, Thomas Ravelli da Suécia, Michel Preud'homme da Bélgica, Illgner da Alemanha, Goycochea da Argentina, Zubizarreta da Espanha, e até os fanfarrões Jorge Campos (México), Tony Meola (EUA) e Joseph Bell (Camarões), e o Higuita só não foi por quizumbas pessoais na Colômbia...

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  8. Jorge Campos era um SINHOR fanfarrão, mas agarrava muito!!!
    Aquelas saídas malucas da área...

    René Higuita e Jorge Campos para siempre!!!

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  9. Schmeichel pegava muito

    graande dinamaquina :}

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  10. http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5327060792066446550

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  11. Dida também merece citação na lista dos grandes goleiros, por ser um grande pegador de pênaltis.

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