quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Análise do borderô - Flamengo 1 x 1 Botafogo (28/07/2013)

Foto: LANCE!Press.

A pedidos, faço abaixo uma análise do borderô do jogo Flamengo 1 x 1 Botafogo, disputado no último domingo, 28, no Estádio do Maracanã. A ideia é comparar o resultado financeiro obtido pelo Flamengo com o do Fluminense no clássico contra o Vasco, no dia 21 (cujo borderô foi analisado aqui).

Para começar, critico a falta de transparência do documento, com alguns valores lançados diferentes dos preços cobrados pelos ingressos (o que também aconteceu no borderô de Fluminense x Vasco). As cadeiras VIP Premium, por exemplo, foram vendidas a R$ 350,00, e lançadas no borderô a R$ 200,00. Questionado sobre a diferença de R$ 150,00, o Flamengo afirmou que esta parcela do ingresso era referente a serviços de alimentação e bebida, e que portanto não deveriam entrar no borderô.

Na comparação entre os dois borderôs, causou estranheza também o modo diferente como os dados foram divulgados. No jogo do Fluminense, os valores do Complexo Maracanã foram lançados no campo de receitas, enquanto no jogo do Flamengo, os valores que cabiam ao consórcio apareceram no campo de despesas do Flamengo. As contas batem, são apenas modos diferentes de mostrar os números. (Mas parece que as coisas são feitas mesmo para confundir, de propósito.)

A renda de Flamengo x Botafogo (parte divulgada no borderô) foi de R$ 3.082.555,00, para um total de 52.361 presentes e 38.853 pagantes (público pagante cerca de 12% maior que o de Fluminense x Vasco). Mais uma vez, o número de gratuidades espanta: 13.508 pessoas assistiram ao clássico sem pagar ingresso. Será que todas elas foram "por força de lei", como está escrito no borderô? (os únicos casos previstos em lei são crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais; o Fluminense não respondeu aos meus questionamentos a respeito destas gratuidades; o Flamengo afirmou que estas gratuidades incluem, além de crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais, também as cadeiras cativas e as cortesias para patrocinadores e federações)

De acordo com o borderô, o Flamengo ficou com apenas R$ 1.081.423,31 da renda (dos quais R$ 162.213,50 foram penhorados, restando R$ 919.209,81). A renda líquida do Flamengo (desconsiderando a penhora) correspondeu a cerca de 35% da renda exposta no borderô (o consórcio ficou com praticamente a mesma fatia - R$ 1.081.568,41 - o que está de acordo com as notícias divulgadas, de que Flamengo e Complexo Maracanã dividiriam igualmente as receitas líquidas).

Analisando exclusivamente os borderôs, o contrato do Fluminense aparentou ser mais vantajoso na situação que se apresentou (o Fluminense ficou com R$ 999.449,52 de R$ 1.290.933,85, ou 77,4% da renda líquida do clássico). Entretanto, cabem aqui pelo menos duas ressalvas.

Primeira ressalva: o borderô não leva em conta as receitas adicionais do estádio (placas de publicidade, camarotes, alimentação, e estacionamento). Pelo acordo assinado, o Fluminense não tem direito a nenhuma destas receitas. Já o Flamengo tem, e divulgou em seu site uma planilha com os valores arrecadados nos jogos com mando de campo em Brasília e neste clássico contra o Botafogo no Maracanã. De acordo com a planilha, no jogo do Maracanã, o Flamengo teve direito a receitas adicionais de R$ 274.434,10. Assim, a renda total do Flamengo no jogo contra o Botafogo foi de R$ 1.355.857,41. Em comparação com o jogo do Fluminense, o público pagante do Flamengo foi 12% maior, e a renda líquida do Flamengo foi 35,6% maior. (vale lembrar, entretanto, que os ingressos do Flamengo custaram mais caro - ingresso médio de R$ 79,34 contra R$ 44,88 do jogo do Fluminense)

Segunda ressalva: a configuração utilizada no Maracanã para estes clássicos não necessariamente será a mesma no futuro. O Fluminense se beneficiou do fato de a quase totalidade do público de seu jogo ter adquirido justamente os ingressos dos setores atrás dos gols, cuja renda vai toda para o clube. Isto se deveu principalmente ao elevado preço praticado pelo Complexo Maracanã nos assentos centrais do estádio, em comparação com os preços dos setores atrás dos gols. No jogo do Flamengo, a diferença de preços entre os setores atrás dos gols e os setores centrais foi bem menor. Para mim, parece óbvio que, mais cedo ou mais tarde, o Complexo Maracanã reduzirá os preços destas entradas centrais, que estão obviamente acima de seus valores reais. E então mais torcedores escolherão os setores do Complexo, e a fatia da renda correspondente ao Fluminense será menor que a obtida neste jogo contra o Vasco.

Por fim, após mais esta análise, reafirmo minha convicção de que os contratos de Flamengo e Fluminense com o Maracanã são pouco vantajosos para os clubes. Os percentuais da renda total que os dois clubes obtém estão muito aquém do que os protagonistas do espetáculo deveriam obter (outros clubes pelo Brasil assinaram contratos melhores - vejam aqui). O próprio Flamengo, na citada planilha, conclui que os jogos mandados em Brasília trouxeram para os cofres do clube percentuais de renda superiores ao do jogo do Maracanã. Cabe lembrar que o contrato do Flamengo vale somente até dezembro, quando o clube poderá renegociar os termos, ou até mesmo escolher outro estádio para mandar suas partidas. Já o Fluminense assinou contrato com o Maracanã pelos próximos 35 anos.

PCFilho

2 comentários:

  1. PC estamos pagando o que já foi pago , a reforma no Maracanã. Seria mais justo a administração direta pelos clubes.
    Parabéns pelos dados.
    Um abraço fraterno.

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  2. Rodrigo,

    Concordo com você, achei absurdo que os clubes não pudessem sequer participar da concorrência pela administração do Maracanã.

    Obrigado pelo prestígio. Abraço,
    PC

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