Pós-escrito de uma carta de Benjamin Franklin ao abade André Morellet, em julho de 1779:
P.S. Para confirmar ainda mais sua piedade e gratidão à Divina Providência, reflita sobre a situação que ela deu ao cotovelo. Você vê nos animais, que se destinam a beber as águas que correm sobre a terra, que se eles têm pernas longas, eles também têm um pescoço longo, para que possam beber sem se ajoelhar. Mas o homem, que estava destinado a beber vinho, é moldado de maneira que ele possa levar o copo à boca. Se o cotovelo tivesse sido colocado mais perto da mão, a parte anterior teria sido curta demais para levar o copo até a boca; e se estivesse mais perto do ombro, essa parte teria sido tão longa que, quando tentasse levar o vinho à boca, iria mais longe do que deveria e ultrapassaria a cabeça; assim, de qualquer forma, deveríamos estar no caso de Tântalo. Mas com a situação real do cotovelo, podemos beber à vontade, o copo indo diretamente para a boca.
“Vamos, então, com o copo na mão, adorar esta sabedoria benevolente; – adoremos e bebamos!”
Explico a referência a Tântalo: na mitologia grega, Tântalo foi um rei, casado com Dione, filho de Zeus e da princesa Plota, pai de Níobe e Pélope. Certa vez, ousando testar a onisciência dos deuses, roubou os manjares divinos e no lugar serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope. Como castigo, Tântalo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede. Ao se aproximar da água, esta escoava para longe; ao tentar colher os frutos das árvores, os ramos se afastavam de seu alcance sob a força do vento. A expressão "suplício de Tântalo" refere-se ao sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, mas inalcançável, como no ditado popular "Tão perto e ainda assim tão longe".
Assim, segundo Benjamin Franklin, se o cotovelo estivesse em outro ponto do braço, nós sofreríamos como Tântalo, não podendo saciar nossa sede.
O pós-escrito original em inglês, conforme transcrito no Futility Closet:
P.S. To confirm still more your piety and gratitude to Divine Providence, reflect upon the situation which it has given to the elbow. You see in animals, who are intended to drink the waters that flow upon the earth, that if they have long legs, they have also a long neck, so that they can get at their drink without kneeling down. But man, who was destined to drink wine, is framed in a manner that he may raise the glass to his mouth. If the elbow had been placed nearer the hand, the part in advance would have been too short to bring the glass up to the mouth; and if it had been nearer the shoulder, that part would have been so long that when it attempted to carry the wine to the mouth it would have overshot the mark, and gone beyond the head; thus, either way, we should have been in the case of Tantalus. But from the actual situation of the elbow, we are enabled to drink at our ease, the glass going directly to the mouth.
“Let us, then, with glass in hand, adore this benevolent wisdom; — let us adore and drink!”
PCFilho
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