Aconteceu: nesta quinta-feira 29, Nossa Majestade o Rei Pelé sucumbiu à cruel imposição da natureza humana e não está mais entre nós.
O maior sinônimo de Brasil e também de futebol, Pelé foi mais embaixador do país do que qualquer diplomata formado no Instituto Rio Branco, e mais representante do esporte do que qualquer presidente da FIFA.
O ano era 1957, e a Seleção Brasileira estava disputando a Copa Roca, em duas partidas contra a Argentina. O primeiro jogo, no Maracanã, a Argentina venceu por 2 a 1. A derrota, no entanto, foi totalmente irrelevante. Naquele 7 de julho, nascia o mais vitorioso casamento da história do esporte mundial: aos 16 anos, Pelé estreava na Seleção Brasileira. O gol tupiniquim foi do garoto do Santos. Três dias depois, no Pacaembu, o técnico Sílvio Pirillo já escalaria Pelé como titular. Mais um gol, a vitória por 2 a 0, e a posse da Copa Roca. Era o primeiro título da espetacular parceria.
No ano seguinte, teríamos a sexta Copa do Mundo, na Suécia. Os titulares Julinho e Evaristo transferiram-se para a Europa e com isso perderam suas vagas no escrete. Seus reservas Joel e Dida foram promovidos a titulares. E as duas vagas abertas na reserva foram preenchidas por Garrincha e Pelé. Na estreia, vencemos a Áustria com facilidade (3 a 0) e, no segundo jogo, houve empate sem gols com a Inglaterra. No jogo da classificação, contra a União Soviética, estrearam Garrincha e Pelé, e triunfamos por 2 a 0. A dupla não sairia mais do time titular.
Nas quartas-de-final, diante do País de Gales, Pelé marcaria o doce gol da vitória. Um tento de mestre, aos 25 minutos do segundo tempo. O mundo do futebol começava a conhecer e a admirar seu Rei. O menino preto, de Três Corações, que jogava no Santos, começava a encantar o planeta com a sua arte.
Na semifinal, foi um espanto. Numa das maiores atuações individuais da história, Pelé enfileirou três gols na meta da França, e a Seleção venceu degaulleada, 5 a 2. Pelé promovera, sozinho, com apenas 17 anos, a minuciosa destruição da defesa francesa, que caiu como a Bastilha em 1789.
Na finalíssima, diante dos anfitriões suecos, Pelé deixou mais dois. Um deles antológico, com direito a um chapeuzinho desmoralizante no zagueiro, que foi parar a uns cinco metros dele, sem entender o que havia acontecido. Nova vitória por 5 a 2, brasileiros campeões mundiais, e Pelé devidamente apresentado ao planeta.
Doze anos depois, já maduro, o Rei voltaria a escrever história, na condição de protagonista da Seleção de 1970, no México. Foram quatro gols: um contra a Tchecoslováquia, dois contra a Romênia, e uma obra de arte na final contra a Itália, de cabeça. A Seleção era tricampeã mundial de futebol, e somente um atleta estivera nas três conquistas: Pelé.
(Até hoje, Pelé é o único a ter conquistado três Copas do Mundo como jogador.)
Edson Arantes do Nascimento estava com 82 anos e se foi, mas permanece vivo nos nossos corações. Tenho certeza de que ainda aparecerá em nossos sonhos. Vestido o uniforme, calçadas as chuteiras, nossa Majestade entrará em campo e, mesmo oitentão, valerá por três de vinte e poucos.
Obrigado por tudo, Pelé!
PCFilho
(adaptação do texto que publiquei originalmente aqui em 2010, quando o Rei completava 70 primaveras)
Hoje, no céu, aquela bola do drible no Mazurkiewicz em 1970 finalmente vai entrar. Será o gol mais bonito da história...
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