Amigos, ao Bangu bastava o empate. Ao Tricolor, somente interessava a vitória. Este era o panorama da finalíssima do Campeonato Carioca de 1985. 88172 pagantes se espremiam nas arquibancadas, cadeiras e gerais do Estádio Mario Filho, naquela noite de dezoito de dezembro de 1985.
O alvi-rubro comandado pelo técnico Moisés havia perdido, meses antes, a final do Campeonato Brasileiro, para o Coritiba, nos pênaltis. Era, portanto, um dos melhores times do país. Infelizmente, a decadência bangüense fez com que as equipes atuais não sejam nem sombra daquela da década de 80. O principal destaque do Bangu era o ponta-direita Marinho. Dono de um futebol moleque, cheio de dribles e com muita visão de jogo e espírito criativo, o camisa 7 desmontava qualquer esquema tático adversário.
E o que dizer do Pó-de-arroz? O Fluminense tentava o seu terceiro tricampeonato. Em 1919, Bacchi trouxe o primeiro tri, decidindo o Fla-Flu no campo do Flamengo, na Rua Paissandu. Em 1938, o Tricolor somou mais pontos que o Flamengo de Leônidas da Silva, e veio o segundo tri. Em 1983 e 1984, os dois gols de Assis nos Fla-Flu's decisivos abriram o caminho para o terceiro tri. Faltava apenas a vitória sobre o Bangu.
O Flu de Nelsinho começou escalado com Paulo Victor; Beto, Vica, Ricardo e Renato; Jandir, Renê e Delei; Romerito, Washington e Tato. Os desfalques de Aldo, Branco e Assis davam ainda mais dramaticidade ao desafio do Flu. Na reserva, havia Paulinho. O camisa 16, que tinha o apoio da torcida pó-de-arroz, já declarara que sairia do Flu no ano seguinte, porque queria ser titular.
O Bangu do técnico Moisés, por sua vez, estava completo: Gilmar; Perivaldo, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Airton e Mário; Marinho, Fernando Macaé e Ado. O alvi-rubro tinha que aproveitar a vantagem do empate, para acabar de vez com a história de que nadava, nadava e morria na praia.
O árbitro José Roberto Wright deu início à batalha, e aos quatro minutos aconteceu um duro golpe para o Fluminense. Em falta pela direita, Perivaldo cruzou na medida e Marinho acertou a cabeçada certeira: 1 a 0 Bangu. O Tricolor, que antes precisava de um gol, agora precisaria de dois. Para piorar as coisas no quadro pó-de-arroz, Tato sentiu lesão, e precisou ser substituído ainda no primeiro tempo. Paulinho, o camisa 16 festejado pelas arquibancadas, entrou em seu lugar.
No início do segundo tempo, o Bangu assustava com seus contra-ataques, puxados pelo talento de Marinho. Mas o arqueiro tricolor Paulo Victor saía bem do gol, e evitava os gols bangüenses. O Flu continuava atacando, empurrado pelos gritos de "Nense" que vinham das arquibancadas. Num lance duvidoso, um zagueiro do Bangu cortou um chute do tricolor Renê com o braço. O juiz Wright não deu o pênalti, para desespero de Romerito, que levou cartão amarelo por reclamação. A torcida invocava o Papa João Paulo II, já começando a ficar desesperada. "A bênção, João de Deus..." Deu certo, porque veio o gol de empate. Paulinho achou Romerito no meio da área, e o paraguaio mandou pras redes, aos 18 minutos do segundo tempo. Com o empate, faltava apenas um gol para o tri do Fluminense. Mas a meia-hora seguinte seria dramática...
A torcida tricolor continuava a incentivar, mas o embate estava difícil. Os gritos de "Nense" não pareciam suficientes para derrotar o Bangu de Castor de Andrade. "A bênção, João de Deus...", Washington chuta, mas Gilmar defende! O técnico Nelsinho e o médico Arnaldo Santiago rezavam no banco tricolor. Das arquibancadas vinha o constante "Nense, Nense, Nense"! E o ataque pela direita acaba na trave! Dividida pelo alto na entrada na área, e falta de Jair em Washington. Pronto, ali estava a grande chance do tri! 31 do segundo tempo, Paulinho na bola. "A bênção, João de Deus...". Esse é o momento da foto que ilustra este texto.
A trajetória da bola foi perfeita: o destino foi o ângulo direito de Gilmar, que nem se mexeu. Nem adiantaria se mexer, aquele chute era indefensável. Foi o gol do tri! O terceiro tri! Foi de Paulinho, o herói que veio do banco, justo ele que sairia do clube por estar insatisfeito na reserva!
No fim, Cláudio Adão, que entrara no Bangu, com uma folhinha de arruda sobre a orelha, invadiu a área e caiu. Os bangüenses cercaram José Roberto Wright, esquecendo-se que ele já não marcara um pênalti para o Flu. Não houve alternativa: o juiz teve que encerrar o jogo. Explosão de alegria nas arquibancadas, gerais e cadeiras!
Essa foi a história de como o Fluminense se sagrou, pela terceira vez, tricampeão estadual. O personagem do jogo? Poderia destacar todos os tricolores, do goleiro ao ponta-esquerda. Mas é claro que o grande nome foi Paulinho. Do banco para a glória, esta foi a trajetória de Paulinho no Fluminense x Bangu de 1985.
Saudações Tricolores!
PC
Matéria do Globo Esporte:
Os melhores momentos do segundo tempo, incluindo os dois gols do Fluminense e os dois lances polêmicos:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=28077&tid=5288604595495900374
ResponderExcluirTomara que em 2012 vc tenha que fazer uma crônica sobre o 4º tri!
ResponderExcluirMuito bom como sempre PC! Parabéns!
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ResponderExcluirSe o Var existisse o juiz teria que marcar o pênalti no Cláudio Adão.Foi claríssimo.
ResponderExcluirSossega aí. O VAR não pode marcar lances ocorridos após o apito final.
ExcluirAlém disso, teria marcado antes o pênalti para o Fluminense, após o zagueiro do Bangu cortar o chute do tricolor Renê com o braço.
O campeão de 1985 continuaria sendo o Fluminense. 🇭🇺😉