quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O Fluminense e o impossível


"Se você quer saber o futuro do Fluminense, olhe para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória." (N. R.)

Pois a história tricolor nos conta que, antes mesmo de existir, o Fluminense já desafiava o impossível. Nos dias 19 e 20 de outubro de 1901, aqueles onze fanáticos que viajaram de trem para enfrentar a Seleção Paulista em São Paulo voltaram de lá com dois empates. O Fluminense ainda era uma ficção, uma ideia da mente criativa de Oscar Cox, mas já conseguira dois resultados extraordinários em campo. Todos os onze atletas daquele "Rio Team" viriam a atuar pelo Fluminense após a fundação em 1902 (vide Efemérides Tricolores - 19 e 20 de outubro).

Em 1911, nove dos onze titulares do Fluminense campeão invicto foram embora, num golpe que parecia significar o fim do sonho. Os dissidentes fundaram o futebol do Flamengo e deixaram o Fluminense com quase nada. No dia 7 de julho de 1912, o primeiro Fla-Flu era um duelo dos ex-reservas contra seus antigos e campeoníssimos titulares, uma batalha impossível de vencer. E no entanto, o Fluminense venceu por 3 a 2 (vide O primeiro Fla-Flu).

Em 1941, o empate nos dava o título, mas as circunstâncias do Fla-Flu da Lagoa eram absolutamente dramáticas. Na casa do rival e tendo o goleiro Batatais com o ombro contundido, o veterano Brant fisicamente esgotado e um homem a menos após a expulsão de Carreiro, manter o 2 a 2 era impossível. O Fluminense, porém, fez das tripas coração e saiu campeão (vide Recordar é viver - Aqueles quatro minutos…).

Em 1946, chegamos à rodada final do Campeonato Carioca dois pontos atrás do Flamengo e do America. Precisávamos vencer o Flamengo, em plena Gávea, e ainda torcer pela vitória do Botafogo sobre o America, para forçar o quadrangular de desempate. Era impossível, mas ganhamos de 5 a 2, o outro resultado também aconteceu, e os quatro rivais partiram mesmo para o Supercampeonato. E nós vencemos o Supercampeonato, com a vitória sobre o Botafogo no dia 22 de dezembro (vide Recordar é viver - A decisão de 1946).

Em 1970, o Campeonato Brasileiro tinha todas as estrelas da Seleção canarinha tricampeã no México. Cada time era uma seleção em si. O Fluminense não era visto como favorito por quase ninguém. Mas nós tínhamos Flávio, que fez uma penca de gols, e de repente nos metemos entre os favoritos, no quadrangular final contra os poderosos Palmeiras, Cruzeiro e Atlético Mineiro. Mas Flávio se lesionou, e a conquista passou de improvável para impossível. Quem poderia imaginar que o reserva Mickey faria aqueles três gols, um em cada jogo? A Taça de Prata era nossa para sempre (vide Recordar é viver - Campeão Brasileiro de 1970).

No ano seguinte, o Campeonato Carioca também parecia impossível. O Botafogo tinha uma vantagem quilométrica na liderança. Mas vencemos em sequência o America, o Vasco, o Flamengo, e por fim o próprio Botafogo. Nosso ponta Lula marcou o santo gol do título, já no apagar das luzes do jogo final (vide Recordar é viver - A decisão de 1971).

Em 1975, Francisco Horta cometeu a loucura de trazer para um amistoso no Maracanã o melhor time do mundo. O poderoso Bayern de Munique, de Sepp Maier, Franz Beckenbauer e Gerd Müller, recém-coroado bicampeão europeu, base do escrete alemão campeão mundial, não conhecia adversário à altura no planeta. Passou a conhecer: diante de 100 mil torcedores no Maracanã, o Fluminense não só venceu a partida, como dominou completamente as ações (vide Recordar é viver - Fluminense 1, Bayern 0).

Em 1983, o relógio bateu 45 minutos do segundo tempo e o Fluminense só tinha mais uma chance. Era a última oportunidade para dobrar o impossível. Sem poder errar, Deley executou um lançamento primoroso, e Assis marcou o gol da vitória (vide O Fla-Flu de 1983).

Em 1995, novamente o Campeonato Carioca parecia impossível. O Flamengo abrira oito pontos de vantagem sobre nós. Rodada a rodada, a distância foi diminuindo. Ainda assim, no Fla-Flu decisivo a vantagem do empate era rubro-negra. O título era deles até os 42 minutos do segundo tempo, quando Ronald tocou para Aílton, este chutou cruzado, e a barriga de Renato entrou para a história (vide Recordar é viver - O Fla-Flu de 1995).

Em 1998, o Fluminense foi rebaixado da segunda para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Todo mundo dizia "Fluminense, é o fim da sua vida". Mas a gente sabia da força da nossa torcida. Encaramos o fundo do poço com a dignidade dos verdadeiros campeões. E ressuscitamos como uma fênix que sai das cinzas para voar pelo mundo novamente.

Em 2009, o nosso rebaixamento no Campeonato Brasileiro era uma certeza líquida e matemática. No entanto, vencemos seguidamente Atlético Mineiro, Cruzeiro, Palmeiras, Atlético Paranaense, Sport Recife, Vitória... E, no duelo final, empatamos com o Coritiba e mais uma vez provamos que o impossível não existe. Um ano depois, veio a doce recompensa do título nacional (vide O Milagre Tricolor).

Em 2023, o Internacional vencia a semifinal da Copa Libertadores dentro do Maracanã, com um homem a mais em campo, mas o Fluminense empatou e sobreviveu. Uma semana depois, novamente saímos atrás no placar no Beira-Rio. Era impossível virar, mas o Fluminense provou que o impossível é temporário (vide A vitória da Camisa).

O Manchester City é o clube mais rico do mundo. É o atual campeão da Europa. Conquistou cinco das últimas seis edições do Campeonato Inglês, o mais difícil da Terra. É praticamente uma seleção do planeta. Tem o melhor treinador deste século, talvez de toda a história do esporte. O futebol europeu é tão superior que venceu todas as últimas dez edições do Mundial de Clubes – o mais longevo domínio de todos os tempos. Nossa própria imprensa diz que nenhum atleta do Fluminense seria titular no Manchester City. Um jornal inglês escreveu que nosso time é um amontoado de ex-jogadores que deveriam estar disputando partidas beneficentes.

É impossível, Fluminense!

É impossível, Fluminense?

PCFilho

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