sábado, 6 de dezembro de 2014

Por que o Fluminense está certo na briga dos lados das torcidas no Maracanã?


Esta semana, um assunto que já parecia totalmente superado voltou à superfície, trazido pela fumaça do charuto de um dirigente retrógrado, recém-eleito presidente de um clube que parece nutrir um perigoso apreço pelo passado distante.

Sim, o dinossauro pré-jurássico Eurico Miranda insiste com aquela infantil pirraça de que a torcida do Vasco tem o direito inalienável de se posicionar à direita das cabines do Maracanã. Não, velhaco, não tem.

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), entidade falida que só sobrevive graças à inépcia dos dirigentes dos clubes cariocas, que promove um campeonato viciado, e que nutre notória implicância com o Fluminense, se posicionou a favor dos anseios de Eurico, claro. Não esperava nada diferente do senhor Rubens Lopes, presidente da FFERJ, outro dinossauro, um fundamentalista anti-tricolor, que certamente possui um severo trauma psicológico causado pelo Fluminense em algum momento de sua vida.

Acontece o seguinte: o Fluminense é um dos dois clubes que escolheram o Maracanã para ser a sua casa (o outro é o Flamengo - muito embora não tenha firmado ainda um contrato longevo com o estádio). O Tricolor assinou um contrato de 35 anos de duração, se comprometendo a mandar quase todos os seus jogos no mítico estádio. E, na condição de mandante, naturalmente escolhe onde as torcidas se posicionarão, como acontece em absolutamente qualquer estádio ou ginásio esportivo sobre a face da Terra. Ponto.

Vale dizer que já deveria ser assim antes, quando o Maracanã ainda era administrado pelo Estado. Ora, em que Vasco e Flamengo são superiores aos outros clubes da cidade? Por que deveriam ter lugar fixo, em detrimento dos demais? Se há um clube mais importante historicamente que os demais, nisso todos deveriam concordar, é o pioneiro Fluminense, que fundou o futebol do Rio de Janeiro, enquanto os outros só pensavam em remar. O Flamengo só existe como clube de futebol por causa do Fluminense (ler post Os primórdios do Flamengo). O Vasco foi imensamente ajudado pelo Fluminense enquanto ainda engatinhava no futebol (ler post História - Vasco em Laranjeiras). Todo o futebol carioca (e brasileiro) possui uma eterna dívida de gratidão para com o Fluminense, esta é a verdade.

Voltando à questão: baseado em quê o Vasco se acha no direito de escolher onde as torcidas se posicionarão no Maracanã? Para começo de conversa, o Vasco sequer manda seus jogos no Maracanã - joga apenas meia dúzia de vezes por ano no estádio, preferindo, misteriosamente, mandar suas partidas no medieval alçapão de São Januário (até mesmo a decisão da Copa Libertadores de 1998 foi jogada lá, vale lembrar).

"Ah, o Vasco foi o primeiro campeão do Maracanã, e por isso ganhou esse direito de escolher o lado". De fato, o Vasco foi o campeão carioca de 1950, ao vencer o jogo derradeiro contra o America por 2 a 1 (história que já contei aqui). O primeiro campeão de fato do Maracanã foi o Bangu, vencedor do Torneio Início de 1950, mas OK, o Campeonato Carioca valia mais (sim, valia, nessa época distante, quando ainda era um torneio sério). E durante longos sessenta anos, a torcida vascaína se posicionou à direita das cabines, mesmo prestigiando o Maracanã menos que o Fluminense, que sempre adotou o estádio como sua casa, ao contrário do Vasco.

Acontece que o antigo Maracanã não existe mais: foi demolido entre 2010 e 2012, e deu lugar a um novo estádio, completamente diferente, que não é mais administrado pelo Estado. E neste Novo Maracanã, as coisas são e serão diferentes. Só permanecem o nome e a fachada: o resto é totalmente novo. Quem foi aos dois estádios sabe do que estou falando.

Aceito argumentos favoráveis à tradição: eu mesmo me considero um tradicionalista, um saudosista. Confesso que, a cada vez que subo as rampas do Novo Maracanã, sinto uma nostalgia e uma saudade que me apertam o coração. Entretanto, vir falar de tradição só agora é fácil, seu Eurico. Na hora da demolição do estádio antigo, o senhor não estava lá fazendo um cordão humano para tentar impedi-la. Ou estava?

Amigos, o Fluminense apenas se aproveitou da mudança para corrigir um erro histórico - o de ser tratado como visitante em sua própria casa. Isto acabou, faz parte do passado. O Fluminense, desde 2013, manda no Maracanã, e assim será, haja o que houver.

Como comentei ontem no Facebook, se a FFERJ insistir com esta história de mudar o lado da torcida do Fluminense no Maracanã, para mim será a gota d'água. Passarei a defender a desfiliação da Federação, se esta for juridicamente possível (acho que é). O Monaco joga o Campeonato Francês, o Cardiff (de Gales) joga o Campeonato Inglês. Por que o Fluminense não poderia jogar, por exemplo, o Campeonato Paulista? A FFERJ está implorando para o Fluminense sair, e não é de hoje.

Se não somos queridos em determinada vizinhança, nos mudemos, ora. Tenho certeza absoluta de que eles sentirão mais falta de nós que nós deles.

PCFilho

2 comentários:

  1. Gostaria de saber se essa "Convenção" de que a torcida do vasco tem que ficar a direita das cabines de rádio é um acordo entre as torcidas ou seja lá com quem for tem alguma coisa assinada dizendo a torcida vascaina tem que ficar ali para sempre....??..Pois bem Eurico Miranda e vascainos, o Fluminense TEM um contrato assinado.

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    1. Mesmo que Eurico apresente uma carta assinada pelo próprio Nelson Rodrigues, continuará sem razão nessa birra de moleque mimado.

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