sábado, 18 de abril de 2015

Botafogo 2 x 1 Fluminense (na definição por pênaltis, Botafogo 9 x 8 Fluminense)


É, amigos: a Federação do Rio de Janeiro conseguiu o que tanto queria: eliminou seu desafeto Fluminense do Campeonato Carioca. Durante a semana, todo mundo viu o que aconteceu, mas vou resumir mesmo assim. Na terça-feira, apenas quatro dias antes do jogo, a pedido do Botafogo, transferiram o jogo do Maracanã - o palco da final da última Copa do Mundo - para o Engenhão - um semi-estádio em obras, com capacidade reduzida. Na quarta-feira, tiraram o craque Fred do jogo, suspendendo-o por um crime de opinião (sim, isso mesmo), como se os dois jogos anteriores de fora já não fossem punição suficiente para o artilheiro do Campeonato. Na sexta-feira, sem demonstrar vergonha alguma, ratificaram a inacreditável suspensão do craque tricolor.

No sábado, com apenas cinco minutos de jogo, a arbitragem de Péricles Bassols valida um gol claramente irregular do Botafogo: Rodrigo Pimpão estava pelo menos meio metro impedido. Era o Fluminense jogando contra tudo e contra todos. O clube mais importante da história do nosso futebol, o pioneiro, o fundador da Seleção Brasileira, tendo que vencer não apenas o seu adversário de campo, mas todo o sistema. Eis, amigos, o cúmulo da ingratidão.

O Botafogo fez dois a zero, o Fluminense descontou, e o placar de dois a um levava a decisão para a cruel definição por pênaltis. No segundo tempo, com os atletas alvinegros exaustos pelo esforço da etapa inicial, o jovem onze tricolor teve sua grande chance de vencer. Não me lembro de quando havia visto pela última vez tamanha diferença física entre dois times. Não parecia possível que o Fluminense não fosse aproveitar, mas aconteceu. O Botafogo foi bravo, e conseguiu segurar o placar e levar a disputa para os cruéis pênaltis.

Pênaltis, essa solução entre aspas, tão injusta, tão desumana, tão anti-esportiva. Antigamente, os empates eram decididos na moedinha, e eu confesso que não sei dizer qual solução é melhor. Se eu fosse o legislador, os dois clubes partiriam para um novo jogo. Ah, que bom seria se houvesse um novo jogo, a decisão no futebol, e não nesse outro esporte. Mas essas são as regras, e é assim que as coisas são hoje em dia, das peladas do Aterro à Copa do Mundo. Paciência.

As resenhas provavelmente dirão que o Fluminense foi o derrotado da noite - frase que dista da realidade em escala interestelar. O grande derrotado da noite, da semana, do mês e do ano é o futebol do Rio de Janeiro, amigos. Vejam bem: 13.958 pagantes (16.312 presentes) estiveram no Engenhão para o clássico, a semifinal do Campeonato Carioca, aquele que levava 200.000 pessoas ao estádio. Que morte horrível, que morte horrível!

O Botafogo sorri, com esta pseudo-vitória, este triunfo abstrato e temporário, obtido com garra, sim, mas também com tantas ajudas externas. Eu, como sincero admirador da história do clube de General Severiano, do clube de Heleno, de Garrincha e de Nilton Santos, só espero e rezo para que acordem enquanto for tempo. A era jurássica do futebol brasileiro já passou, e quem se alia aos dinossauros está fadado à extinção. Depois, não digam que foi por falta de aviso.

Ao Fluminense, rogo que dê o próximo passo, de cabeça erguida: rompa definitivamente os laços com esta Federação que não se cansa de sabotá-lo, das mais diversas maneiras, dentro e fora de campo. O Tricolor tem força mais do que suficiente para ser senhor de seu próprio destino. Abandonar este torneio falido, manipulado e viciado é uma atitude de respeito não apenas com a torcida apaixonada, mas com a própria história do Campeonato que já foi o mais importante desse país.

Encerro com uma lembrança do último suspiro de vida do verdadeiro Campeonato Carioca, ocorrido há exatos dez anos, quando Leandro buscou uma bola que parecia perdida e a levantou na área. Antônio Carlos voou como um anjo e a enviou para as redes sagradas do Maracanã. Foi então que as 70 mil pessoas presentes (eu disse setenta, não dezesseis) vibraram enlouquecidamente no maior templo do futebol brasileiro (não em um estádio em obras). Bons tempos... tomara que voltem um dia.

PCFilho

10 comentários:

  1. Vou dormir melhor sabendo que passarei as próximas semanas sem me preocupar com a FERJ, uma entidade que não cumpre o seu papel institucional, preferindo lutar por interesses menores, encontrados abaixo do nível de qualquer esgoto.

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    1. Alexandre, os cinemas estão com bons filmes. Diversão não vai faltar. :-)

      Espero que não só nas próximas duas semanas, mas NUNCA MAIS tenhamos que nos preocupar com a FERJ...

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  2. Belo texto. Você deixou um tal de Nelson feliz no céu. Parabéns!

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    1. Marinho, obrigado.

      Nelson Rodrigues é minha maior inspiração para escrever sobre futebol. Se ele está feliz com meu texto, não sei, tomara que sim. Mas obrigado pelo elogio. :)

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  3. Olá PC, excelente texto, tudo errado nesse campeonato, começando pela FERJ. Não vi o jogo, mas pelo visto perdemos a chance de fechar no fim como você falou. Coração tricolor está chateado como vários outros nesse planeta. E vamos em frente com o Brasileiro/2015. ST Fernando.

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    1. O jogo foi bom, Fernando, apesar de todas as circunstâncias que conhecemos bem e expus no texto.

      Obrigado pelo prestígio. :-)

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  4. Perfeito, PC, o texto diz tudo. Lamentavel vitoria dos cafajestes!

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  5. Caro PC,

    Perfeito, como sempre.

    Mas, apesar das falcatruas, creio que a culpa maior pela derrota recai nas decisões errôneas do bom Drubsky, como abordei no tricolor Verdadeiro.

    Abraços e Saudações Tricolores.

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    1. Hélio,

      Obrigado pelo prestígio. Embora reconheça que o Fluminense poderia ter vencido, continuo achando que o fator mais decisivo para a eliminação foi a perseguição absurda imposta pela federação.

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